Há poucas décadas o cerrado brasileiro era totalmente inexplorado e a agricultura brasileira realizada só em terras naturalmente férteis e com pouca utilização de insumos.
A baixa produtividade era a regra para todas as culturas e o Brasil importava alimentos que eram caros e consumiam boa parte do orçamento familiar.
Em meados da década de 1960 foi iniciada a grande revolução agrícola brasileira. Nesta época foram enviados para o exterior centenas de agrônomos para fazer cursos de pós – graduação e mestrado nas principais universidades rurais dos Estados Unidos e Europa.
Este foi o principal fator que promoveu a revolução tecnológica da agropecuária do país e foi decisivo para a conquista do cerrado.
A mente aberta dos migrantes às novas tecnologias e o financiamento fácil e barato do Banco do Brasil, aliados a uma relação de troca de 20 por 1 (1 ha do sul valiam 20 ha do cerrado) estimularam a ocupação do centro-oeste a partir de 1975.
Aquelas terras fracas e ácidas que sem tecnologia não produziam nem a semente plantada, passaram, com o uso da ciência a ter altas produtividades de soja, milho, algodão, arroz, sorgo e cana.
A soja que produzia 30 sc/ha passou a produzir 60 sc/ha. Evoluiu rapidamente também a transição de uma para duas safras anuais, graças a avanços genéticos e ao plantio direto.
Com relação ao Mato Grosso, diria que a conquista do cerrado é responsável por mais de 80% do PIB estadual
Os grãos baratos e a cana incentivaram o surgimento da avicultura, da suinocultura, do confinamento de bois, da piscicultura, das fábricas de ração e das usinas de açúcar e etanol.
Temos ainda no cerrado culturas inimagináveis até há pouco tempo. Plantios empresariais em extensas áreas de batata, tomate, cebola, alho e cenoura. São cultivos realizados no período seco, como 3ª safra anual, com irrigação.
Num espaço de tempo relativamente curto de 35 anos, passamos de importadores a exportadores de grãos, fibras e proteína animal.
Isto foi inédito no planeta inteiro, nenhum outro país conseguiu esta proeza em tão pouco tempo.
É uma prova que políticas públicas bem conduzidas podem mudar totalmente um setor da economia.
Novas tecnologias em fertilidade do solo e avanços na biotecnologia possibilitarão novos avanços.
A introdução de uma 3ª cultura no período seco é uma questão de tempo e o trigo é o candidato natural. Quem sabe o cerrado ainda promoverá a autossuficiência brasileira do trigo?
Um grande avanço foi a criação das associações estaduais e nacionais de agricultores e de pecuaristas, que orientam muito bem seus associados nas áreas política, jurídica, ambiental e tecnológica.
Com relação ao Mato Grosso, diria que a conquista do cerrado é responsável por mais de 80% do PIB estadual.
A conquista do cerrado conseguiu se posicionar o Brasil como um dos maiores e mais eficientes produtores e exportadores de grãos, fibras e proteína animal do Mundo.
Seria necessário um livro para contar a história da conquista do cerrado. Talvez este artigo inspire algum historiador a escrever sobre o assunto enquanto os pioneiros ainda estão vivos.
ARNO SCHNEIDER é engenheiro agrônomo e pecuarista.