Vítima de Vitória relata importunação de jornalista de Cuiabá com conteúdo sexual

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Foto ilustrativa

A mobilização de um grupo de mulheres jornalistas para denunciar o assédio e importunação sexual em Cuiabá também ocorreu ano passado, na Grande Vitória, Espírito Santo. Além da sororidade, ou seja, empatia entre vítimas, outro ponto se repete: o suposto autor das importunações feitas pelo WhatsApp.

As acusações que pesam contra o jornalista Leonardo Heitor Martins Araújo, 38 anos, ainda estão no início das investigações em Cuiabá, já que cerca de dez mulheres registraram, na terça (1), boletins de ocorrência na Delegacia Especializada da Defesa da Mulher, envolvendo importunação sexual, tentativa de estupro, estupro consumado e ameaça. Em Vitória, no entanto, os relatos das também jornalistas já geraram o indiciamento de Leonardo Heitor, que deve participar de audiência no 13º Juízado Especial Criminal, em novembro.

Conversamos com uma das supostas vítimas do jornalista no Espírito Santo, que preferiu não se identificar, com temor de algum tipo de retaliação. A mulher relembra que trabalhou com Leonardo na mesma redação entre 2013 e 2014. Inicialmente, ela e os colegas de empresa acolheram o indiciado com certa atenção, já que o mesmo não era daquele Estado. No entanto, não demorou muito para que ele começasse a agir de forma desrespeitosa, fazendo piadas com conotação sexual, mesmo sem qualquer abertura.

A jornalista ouvida pela reportagem relembra que, incomodada, se afastou. Em 2017, porém, começou a ser perturbada por um homem que, com número de São Paulo, se apresentou como Fernando e disse que a conhecia de um aplicativo de relacionamentos.

Mesmo não tendo um perfil em tal app, a jornalista resolveu continuar a conversa para tentar descobrir quem era o homem que puxou conversa. “Fiz algumas perguntas, mas as respostas eram rasas. Contou que era engenheiro de São Paulo, que veio para Vitória, pois a ex expôs um vídeo íntimo dele e estava perseguindo-o. Parei de responder e foi quando ele começou a mandar vídeos e fotos com conteúdo pornográfico. Comecei a xingar e, quanto mais xingava, mais ele mandava imagens e mensagens. Foi então que resolvi bloquear”.

Já em 2018, a mulher voltou a ser importunada por perfil com mesma foto, mas com um DDD de Brasília (DF). Já sem paciência em continuar recebendo imagens e vídeos indesejados, a jornalista bloqueou o contato, mas conversou sobre o ocorrido para uma amiga também jornalista. Para sua surpresa, ela também havia passado pelo mesmo. Conversando com outras colegas de profissão, a repórter chegou a, pelo menos, mais dez mulheres assediadas pelo perfil fake.

Com provas e relatos reunidos, ela e as outras afetadas foram até a Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Cibernéticos que, logo no início da investigação, descobriu que o número com DDD de Brasília havia sido registrado no CPF de Leonardo Heitor. Já o número de São Paulo, incrivelmente, estava no CPF do ex-governador Eduardo Campos, de Pernambuco, morto em um acidente aéreo em agosto de 2014.

“Com base nisso, a polícia iniciou a investigação e o delegado não tem dúvidas de que seja ele o autor das mensagens”, relata a jornalista.

Ainda de acordo com a mulher, a partir do momento que começou a conversar com outras colegas de profissão, descobriu que, assim como em Cuiabá, Leonardo Heitor também importunou mulheres de “cara limpa”. “Houve diversos casos de assédio pessoalmente. Mesma abordagem. Dizia: ‘tenho um grande problema; as mulheres com quem eu saio reclamam, pois meu pênis é muito grande’. Mostrava a foto do pênis, pessoalmente, mesmo sem que essas jornalistas quisessem ver”.

Ao tomar conhecimento de casos similares em Cuiabá, a jornalista apontou que Leonardo Heitor é reincidente e questionou aqueles que defendem a atitude do indiciado. “Ele já é uma pessoa reincidente há muitos anos. São 20 mulheres falando a mesma coisa. Não é possível que 20 mulheres estejam mentindo, sendo que temos prints, e ele esteja falando a verdade. Por isso que me choca saber que ele ainda recebe apoio de algumas pessoas”.

Prisão

Em julho deste ano, quando o indiciamento de Leonardo Heitor foi noticiado na imprensa de Vitória, o delegado do caso, Brenno Andrade, disse que a polícia possui provas técnicas que mostram que o jornalista é mesmo o autor da contravenção penal. Ele foi indiciado pelo artigo 65, que significa molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável. Leonardo Heitor pode ser condenado de quinze dias a dois meses de prisão, prestação de serviços ou multa.

À imprensa capixaba, o indiciado negou os crimes. Ao site Gazeta Online, disse que foi pego de surpresa. Afirmou que o número de Brasília em seu nome não era usado por ele desde 2016, quando se mudou de lá. Ele também negou o uso do número de São Paulo.

Após ter passado por diversas redações em Mato Grosso, Leonardo Heitor passou a trabalhar nos últimos meses na assessoria de imprensa do gabinete de um deputado estadual. Após as acusações das jornalistas, o parlamentar decidiu exonerar o jornalista do cargo comissionado.

Outro lado

Ouvimos o jornalista e ele confirmou que tinha essa prática de “falar bobagens” sexuais com colegas, mas jamais usou perfil fake. “Esse telefone de Brasília não usava há mais de 2 anos”, alega.

 

 

 

Fonte: RD News | Foto: ilustrativa

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