#SomosTodosMarielle pode se tornar #SomosTodosBrasil?, pergunta Livianu

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Os tiros contra Marielle foram um ataque ao Estado Democrático de Direito. Ali houve mais crimes, muito mais amplos que um homicídio. Contra o sistema republicano e democrático, contra as instituições, contra toda a sociedade. É claro que me preocupo também com o jovem motorista morto que dirigia para ela. E com a médica morta na Linha Vermelha no mesmo dia. Claro que me preocupo com o direito universal à paz. Isto é óbvio e indiscutível.

Mas, temos a sensação nítida que a eliminação de Marielle é um desafio ao Estado e foi posto o sistema no paredão. Quem atirou o fez convicto que seria mais um crime apenas para as estatísticas com a certeza da impunidade. Pouco importava para o atirador ter a vítima legitimidade de uma parlamentar eleita pelo povo. O que importava de fato é que ela vinha incomodando, questionando atos de abuso de poder policial e precisava ser calada.

É perceptível que, em tese, gente da polícia poderia ter o interesse em eliminá-la. Mas não só. Ela era filha da Comunidade da Maré, onde havia nascido e se criado. A voz de Marielle pode ter atraído para a comunidade a indesejada presença da polícia e do Estado, sob a ótica do comando do tráfico. Ela pode ter sido morta a mando do crime organizado porque estaria falando demais, segundo a lógica da bandidagem e isto poderia estar atrapalhando a lucratividade do negócio ilícito. É uma outra hipótese para explicar o crime.

Chama a atenção o fato que no enredo de Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro, de José Padilha, cujos traços de realidade a cada dia se reafirmam mais em relação ao Rio de Janeiro, há mortes importantes na história causadas pela polícia por estar a vítima se tornando inconveniente para seus interesses. O policial André Matias do Bope, interpretado por André Ramiro é morto pelas costas pelos próprios colegas e a jornalista investigativa Clara, interpretada por Tainá Müller, foi morta por também começar a se tornar inconveniente para a polícia, descobrindo seus podres. Em Tropa de Elite 1, o traficante Baiano (Fábio Lago) coloca Maria na parede sobre a presença da polícia no morro, ameaçando-a de morte. Em Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, retratando a criminalidade do mesmo Rio, há várias mortes causadas pelo crime organizado, a mando de Zé Pequeno (José Firmino) por atrapalharem os negócios do tráfico.

O fato é que por ser ela uma mulher negra, corajosa, guerreira representando uma nova face da política, onde se projetou graças à sua luta, seu extermínio produzido por tiros de arma de fogo gerou reação que parece mostrar que existe aqui um sentimento de nação. Que há brio. Estes tiros parecem ter atingido de certa forma a todos os brasileiros, que exigem o esclarecimento da barbárie e sua punição.

Infelizmente, alguns tentam tirar proveito do delito, querendo a martirização de Marielle com objetivos político-partidários. Mas isso não diminui o significado deste forte sentimento de indignação nacional diante desta atrocidade, que pode servir como instrumento de transformação do Brasil, se for o ponto de partida para influenciar o espírito cidadão nas eleições de 7 de outubro. Precisamos escolher representantes que comecem um processo profundo de amplas transformações de que o país precisa.

O crime que vitimizou Marielle, uma execução fria e calculada, evidencia que não há entre nós o império da lei. Não é só uma questão de violência fora de controle. O #SomosTodosMarielle precisaria ser o ponto de partida para o #SomosTodosBrasil.

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