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    Passa de R$ 10 milhões o corte do Ministério da Saúde nos recursos da diálise em março e abril, inviabilizando o tratamento

    Medida agrava situação financeira das clínicas conveniadas ao SUS que
    ampliaram sua demanda e amargam prejuízo com custos do coronavírus

    Brasília, 28 de maio de 2020 – A crise financeira das clínicas de
    diálise que prestam serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil
    contabiliza mais um capítulo dramático. O Ministério da Saúde cortou
    mais de R$ 10 milhões do pagamento dos serviços prestados por meio da
    Terapia Renal Substitutiva (TRS) nos meses de março e abril, sendo que
    os estabelecimentos ampliaram sua demanda no último ano. A Associação
    Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) manifesta
    novamente sua discordância com a medida e cobra esclarecimento de como
    serão pagas estas diferenças, que inviabilizam o tratamento aos mais
    de 140 mil renais crônicos do país, sem considerar os custos
    adicionais advindos do atendimento aos pacientes suspeitos ou
    contaminados com o Covid-19.

    A Portaria Nº 662, de 1º de abril de 2020, estabelecia, de forma
    excepcional, que no período de 90 dias, a transferência de recursos
    aos estados, Distrito Federal e municípios, referentes à produção de
    serviços prestada por estabelecimentos de saúde com financiamento pelo
    Fundo de Ações Estratégicas e Compensação, seria feita com base na
    média da produção aprovada no 2º semestre de 2019. De acordo com
    informações da Coordenação de Média e Alta Complexidade do Ministério
    da Saúde, pagamentos realizados a partir da competência de abril
    seguem a Lei Nº 13.992/2020 e Portaria Nº 1.124, de 7 de maio de 2020
    (que substitutiu a Nº 662), considerando a média dos últimos 12 meses.

    Conforme esclarece a ABCDT, nos últimos meses algumas clínicas de
    diálise, devido à alta demanda de pacientes e à solicitação do gestor,
    chegaram a dobrar sua capacidade de atendimento, portanto, dobrando o
    valor da produção mensal. Diante desta contradição, a Associação cobra
    do Ministério da Saúde um esclarecimento urgente de como serão pagas
    estas diferenças, uma vez que os estabelecimentos já estão em
    insolvência financeira, pois sobrevivem há quase quatro anos sem
    reajuste no valor da tabela do SUS. Dois casos graves de prejuízo
    seriam, por exemplo, do Grupo Daher, de Belém (PA), que em 2019
    atendia 89 pacientes e hoje atende mais de 200, um crescimento de
    125%. Por sua vez, a Clínica de Nefrologia Debora Paula de Castro, de
    Campo Limpo (SP), atendia uma média de 80 pacientes e atualmente
    ultrapassa os 130, resultando perda de receita de R$ 90 mil por mês.

    “Precisamos de uma resposta imediata do Ministério da Saúde de quando
    serão pagas essas diferenças, pois as clínicas não têm a mínima
    condição de arcar com mais esse prejuízo, que pode impactar no
    tratamento de milhares de pacientes. As clínicas ainda foram
    gravemente atingidas pela crise do coronavírus. Além do reajuste dos
    insumos e EPIs, foram feitas novas contratações para atender os
    pacientes com suspeição ou confirmação da doença”, explica o
    presidente da ABCDT, Yussif Ali Mere Junior. Yussif reforça que a
    população dialítica, já considerada de alto risco e constituída em
    grande parte por pacientes diabéticos e com comorbidades, precisa
    manter tratamento nas mais de 700 unidades de diálise do país.

    Em março, a ABCDT e a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) haviam
    formalizado ao MS aporte financeiro que seria direcionado às
    particularidades do cuidado com pacientes que realizam TRS, garantindo
    as condições de segurança aos profissionais que atendem estes
    pacientes fora do ambiente hospitalar e reduzindo o risco de novas
    contaminações.

    Na esfera legislativa, a ABCDT, a SBN e a Federação Nacional de
    Associações de Pacientes Renais e Transplantados do Brasil (FENAPAR)
    buscam mobilizar deputados para a subscrição do Projeto de Lei nº
    2270/2020. Proposto pela deputada Carmen Zanotto, o incentivo seria
    disponibilizado por meio de uma fatura extra mensal para custear o
    aumento dos custos dos insumos da dialise, de R$ 257 milhões para o
    conjunto das clínicas de diálise que oferecem serviços para o SUS. O
    montante, que considera em torno de R$ 2.250,00 por paciente, faria
    frente aos custos dos quatro primeiros meses da pandemia, referente ao
    período de 15 março de 2020 a 15 de julho de 2020.

    Pacientes com COVID-19

    Entre as medidas que precisam ser adotadas nos casos de pacientes
    renais crônicos suspeitos ou positivos ao Covid-19, estão a aquisição
    de equipamentos de proteção individual, a criação de local próprio de
    isolamento para a Covid-19 nas unidades de diálise, a abolição do
    reuso nos casos de pacientes infectados confirmados. Estão sendo
    consideradas a contratação emergencial de pessoal qualificado para
    atender esses pacientes, viabilizando a criação de turnos extras para
    realizar hemodiálise nos infectados, além do pagamento de hora extra
    para funcionários que poderão vir a cobrir o turno de outros
    funcionários afastados por contraírem a Covid-19.

    Sobre a ABCDT

    A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) é
    uma entidade de classe que representa as clínicas de diálise de todo o
    país. Tem como principal objetivo zelar pelos direitos e interesses de
    seus associados, representando-os junto aos órgãos públicos,
    Ministério da Saúde, Senado Federal, Câmara Federal, Secretarias
    Estaduais e Municipais. Também representa as clínicas e defende seus
    interesses individuais e coletivos.

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