Por Ana Adélia Jácomo e Rafael Medeiros – OBDN
A senadora Selma Arruda (PSL) afirmou nesta segunda-feira (20), que irá se reunir com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, nesta semana para relatar os problemas emergenciais do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá. Ela esteve no local, de surpresa, na última sexta-feira (17), e afirmou que o hospital é uma “fábrica de cadáveres”, semelhante a um “campo de concentração e a um hospital de guerra”.
Selma foi acompanhada do promotor de Justiça Alexandre Guedes, um membro do Sindicato dos Médicos (Sindimed) e um membro do Ministério da Saúde. Ela disse que irá, agora, se debruçar em projetos de lei que possam humanizar o atendimento no hospital municipal, que recebe repasses do Sistema Único de Saúde (Sus) e do Governo do Estado.
“Lá eu fiquei muito mais chocada do que eu imaginei. Eu já vi muita cadeia mais limpa do que aquele pronto-socorro. E eu não vi pouca cadeia nessa vida, porque são 22 anos como juíza criminal e eu já visitei várias cadeias nesse país, e vi muita cadeira mais limpa e mais cheirosa do que aquilo lá. Ferrugem ao lado de paciente da UTI, caldo marrom descendo de uma parede que sai de algum esgoto dentro de uma UTI, parede descascando, mofo… Não tem um ambiente que você não vê esse tipo de coisa naquele pronto socorro”, disse ela.
Selma está em Cuiabá para receber o título de mulher cidadã Ana Maria do Couto, pela Câmara de Vereadores. Ela concedeu entrevista coletiva, e dentre outros temas, comentou sobre as ações voltadas à saúde da capital. “É uma coisa que não é de Deus (…)Falta humanidade. É desumano. As pessoas são tradas pior que bicho. Eu vi um senhor fedendo porque ele tinha que amputar o pé e não tinha serra pra fazer cirurgia. Ele está podre, vivo, lá esperando”, afirmou ela.
O hospital tem sido alvo de diversas denúncias do tipo. No local, faltaria medicamentos básicos para atendimentos, como luvas, remédios para dor, gazes, seringas e até mesmo higienização do ambiente hospitalar. Selma afirmou que, na falta de remédios para dor de nível alta, como a morfina, os funcionários do PS usam o analgésico Tramal combinado com um sedativo.
“Tramal não serve pra dor de fratura e nem para cirurgias. Então a pessoa fica com dor, mas fica dormindo. É assim que estão sendo tratados os pacientes na UTI de Cuiabá. Estive na Sala Vermelha, que mais parece um campo de concentração de filme. Sabe filmes onde aquelas pessoas estão faltando um pedaço e estão sendo atendidas alí? Ente uma maca e outra, não cabe uma pessoa. O corredor lotado. Eu fotografei!!”, disparou a senadora.
INVESTIGAÇÃO
Selma aproveitou para dizer que acha “muito estranho” o fato de a administração municipal optar por contratar a Empresa Pública de Saúde para gerir a contratação de pessoal nos hospitais. Uma vez que, segundo ela, acaba sendo mais oneroso usar um intermediador do que realizar a contratação ou concurso público para formar o quadro de médicos.
“Não podemos deixar que se perpetue essa situação dessas empresas que terceirizam. Por exemplo, se contrata um médico por R$ 1.600 por dia. A empresa paga para o médico R$ 800 por plantão. Ou seja, só vem o profissional recém-formado, sem experiência. Porque precisa desse atravessador? Se ele pega a metade (do dinheiro) pra ele. Quem está ganhando com isso? Porque vale a pena pra alguém terceirizar esses serviços”, disse ela.
A senadora denunciou ainda um caso de erro médico envolvendo uma criança de sete meses de idade. Segundo ela, ao ser entubada com material errado, a criança teve dois dentes arrancados, a língua cortada, e o tubo não teria sido colocado no lugar certo, que é na traquéia, mas no estômago, causando danos cerebrais irreversíveis por conta da falta de oxigenação no cérebro.
“As pessoas entram no hospital com um problema e saem em estado vegetativo. O povo não tem voz pra lutar contra isso. Eu perdi uma filha com câncer, eu sei o que é isso. A gente fica à mercê, impotente, e quem manda na tua vida e na saúde do teu parente são aquelas pessoas que estão te atendendo. Morreu, você vai pra casa, chora, mas isso não pode continuar, gente”.
Ouça o áudio da entrevista da senadora no fim da matéria.
O OUTRO LADO
A reportagem manteve contato com a assessoria da Prefeitura de Cuiabá e aguarda posicionamento.