Crimes contra a natureza e a vida humana que seguirei denunciando

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Por Professora Rosa Neide |Sobreviver envolto a uma fumaça branca, densa e tóxica. Fuligem por toda a parte, nas ruas, nas casas, nos apartamentos, no comércio e nas empresas. Essa é a triste rotina da população de Cuiabá, Várzea Grande e dos moradores da maioria das cidades de Mato Grosso, nos meses de julho, agosto e neste início de setembro deste ano.

Em 2019, o desmatamento ilegal da Floresta Amazônica e as queimadas para limpar as áreas desmatadas provocaram intensas nuvens de fumaça em nosso Estado. Este ano, o drama foi potencializado com a maior queimada já registrada em toda a história do Pantanal Mato-grossense.

O Pantanal tem 150.000 km² e de acordo com o Ibama, 10% de todo o território pantaneiro já foi consumido pelo fogo. Ou seja, dez vezes o tamanho da cidade de São Paulo já virou cinzas no Pantanal. Milhares de espécies de animais e plantas se perderam para sempre. A sobrevivência desse bioma único está ameaçada.

Desde o final de julho o Pantanal está queimando. Com o clima seco, umidade do ar na casa dos 10% (clima de deserto) e a escassez de chuvas, as queimadas não dão sinais de que estão perto de serem controladas. Mas porque o Pantanal foi tão atingido pelo fogo em 2020? Por causa do desmatamento ilegal e das queimadas na Amazônia.

Pesquisadores e cientistas apontam que é da Amazônia que vem a maior parte da umidade que alimenta o Pantanal. A floresta lança no ar a umidade que é levada pelas correntes até esbarrar na Cordilheira do Andes. De lá, volta distribuindo chuva por nossa região se estendendo até a região Sul do Brasil. Quando essa camada verde começa a ser destruída, não lança tanta umidade assim e falta chuva no Centro-Oeste. É visível que nos últimos dois anos as chuvas ficaram mais escassas em Mato Grosso.

O maior desmatamento da Amazônia das últimas décadas ocorreu em 2019. No ano passado, primeiro ano do governo Bolsonaro, a área desmatada da floresta chegou a 9.165,6 km². Um crescimento na devastação de 85% em relação a 2018.

Pará, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia foram os Estados que mais desmataram a Amazônia em 2019. Após a derrubada das árvores para venda ilegal da madeira e expansão também ilegal de pastagens para o gado, os devastadores em sua maioria grileiros colocam fogo no terreno para limpar a área. Por isso a Amazônia foi o bioma que mais registrou incêndios em todo o País no ano passado. Foram 89.178 focos de calor, um aumento de 30% em relação a 2018.
O ritmo acelerado da devastação prossegue em 2020. Neste ano, 6.536 km² de floresta nativa foram derrubados, um aumento de 29% em comparação com 2019. Na esteira do desmatamento vem as queimadas que encobrem de fumaça as cidades do norte de Mato Grosso. Somente este ano já foram registrados 31.469 focos de calor na Amazônia mato-grossense.

A escassez de chuvas no Centro Oeste provocou a menor cheia dos últimos 47 anos no Pantanal. Com os rios, lagos e baias vazias e o com o mato seco, as queimadas se alastraram com facilidade registrando recorde de focos. Em 2019 foram registrados 2.264 focos de calor no Pantanal. Em 2020 até o final de agosto já foram registrados 7.497 focos. E com o fogo fora de controle esses dados tendem a aumentar.

Não é somente o Pantanal que tem sofrido com a falta de chuvas. A destruição da Amazônia tem afetado gravemente o Cerrado. Em 2019, o bioma registrou 21.392 focos de calor. Até agosto de 2020 foram registrados 18.871 focos.

Incêndios no cerrado de nossa Chapada dos Guimarães também tem contribuído tristemente para deixar nossa Capital e Várzea Grande mergulhadas na fumaça tóxica. Focos de calor que atingem a Área de Preservação Permanente (APA) de Chapada já consumiram mais de 6.000 hectares, o que equivale a 38 parques do Ibirapuera em São Paulo. O fogo também continua sem controle e já adentrou ao Parque Nacional.

Em 2019, Chapada dos Guimarães já havia registrado as maiores queimadas de sua história. Naquele ano mais de 50.000 hectares foram consumidos pelo fogo.

O drama do desmatamento e a consequência das queimadas nos três biomas mais importantes de Mato Grosso: Amazônia, Cerrado e Pantanal tem provocado perdas irreparáveis para a fauna e flora. As próximas gerações não terão a oportunidade de conhecer animais e plantas que existem apenas aqui, porque estão desaparecendo em meio a essa devastação.

Por sua vez, a saúde de todos nós continua sendo atacada por sermos obrigados a respirar os gases tóxicos da fumaça das queimadas. E toda essa tragédia está ocorrendo por incentivo do governo federal aos criminosos ambientais.

Na fatídica reunião do ministério de Bolsonaro, ocorrida em 22 de abril deste ano, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que era preciso aproveitar que as atenções estavam voltadas para a Covid-19, para passar a boiada na legislação ambiental e desregular tudo que fosse possível. E de fato o atual governo tem feito isso.
Desde que assumiu a presidência do País em primeiro de janeiro de 20219, Jair Bolsonaro tem promovido um verdadeiro desmonte no Ibama, atacado o Inpe, cortado o orçamento dos órgãos de controle e desmobilizado equipes de fiscalização. A porteira está aberta aos grileiros e aos desmatadores.

Como deputada federal eleita pelo povo do meu Estado não me calarei. Seguirei firme em Brasília e em Mato Grosso denunciando os crimes ambientais do atual governo e cobrando do Congresso Nacional e do Poder Judiciário um freio a essa marcha criminosa e insensata de destruição da natureza e sua consequente destruição da vida.

*Professora Rosa Neide é Deputada Federal (PT-MT).

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