“É preciso pensar em outras alternativas para o futuro, mas primeiro temos que garantir o básico agora: BRT a 1 real para o povo”
Candidato do PT advoga a garantia do passe livre para os estudantes e a melhoria do sistema de transporte público para a população
Por João Orozimbo Negrão, Diretor de Redação
A edição especial do Jornal do Ônibus Mato Grosso Eleições traz as promessas dos candidatos a prefeito de Cuiabá sobre mobilidade urbana e transporte coletivo. São dois temas que se interagem umbilicalmente e muito sensível aos gestores. A cidade que não garante o direito constitucional e humano de ir e vir é tida como uma “cidade falida”.
Para saber o posicionamento dos candidatos acerca dos temas a editoria submeteu às assessorias de Imprensa das candidaturas um questionário elaborado a partir da consulta feita aos nossos leitores. Abílio Brunini (PL), Domingos Kennedy (MDB), Eduardo Botelho (União Brasil) e Lúdio Cabral (PT) responderam e seus posicionamentos estão publicados nas páginas seguintes, de acordo com a ordem de recebimento das respostas.
Nós consideramos esses posicionamentos (para além de suas propostas de governo) um documento importante para nossos leitores se posicionarem no debate eleitoral, formando opinião e se conscientizando sobre seus direitos como cidadão.
Além do tema desta edição, a editoria prepara para as próximas quatro edições do especial os seguintes assuntos: “A ‘Cidade Verde’ e as mudanças climáticas”; “Saúde e atendimento humanizado”. “Educação pública, gratuita e laica”; “Cultura, esporte e lazer”.
Lembrando que este material foi preparado para a versão impressa do JÔMT, que circulará na próxima semana. Como a dinâmica da campanha eleitoral requer, antecipamos o material aqui na versão online.
“O povo quer transporte de qualidade e barato e é isso que eu defendo. Como prefeito, vou pautar essa questão até melhorar a vida da nossa gente, porque o que a gente quer é o BRT funcionando, licitado, com integração às linhas de ônibus para o restante da cidade”
Como o candidato pretende resolver os diversos problemas no trânsito da capital, o que provoca congestionamentos e transtornos?
Lúdio Cabral – O que a gente precisa deixar claro é que os problemas no trânsito de Cuiabá são gerados por diversos fatores, que juntos desrespeitam a população e o direito das pessoas de locomoção e segurança nas nossas ruas e avenidas. A falta de um transporte público de qualidade e acessível, a falta de estudos de mobilidade urbana e a falta de boas práticas no trânsito contribuem muito para esses transtornos. No nosso programa de governo, a gente traz uma série de propostas para resolver essa situação e dar dignidade aos motoristas, motociclistas e principalmente os pedestres. Uma delas é a criação de um programa para reduzir acidentes de trânsito, que todos os dias fazem vítimas e lotam os hospitais, afetando o atendimento também na saúde pública. E para diminuir esses acidentes a gente vai fazer adequações baseadas em estudos técnicos para melhorar o fluxo de veículos. Além disso, teremos um sistema de informações sobre os pontos críticos, onde o trânsito é caótico, para realizar as intervenções necessárias, prevenindo acidentes. Claro que essas medidas serão mais eficazes com o nosso programa permanente de educação para a paz e a cidadania no trânsito, alertando a população sobre a importância da direção responsável e defensiva, com atuação dos agentes de trânsito capacitados.
É notável que somente o BRT não sanará o problema do transporte em Cuiabá e alguns especialistas advoga a necessidade de retomar o projeto do VLT. O que o candidato pensa sobre este item?
Lúdio – A população cuiabana e também de Várzea Grande já sofreu bastante à espera de um modal de transporte que melhore a sua vida no caminho de casa para o trabalho e na volta, na hora de levar o filho na escola ou na creche. O que todos nós queremos, e pra já, é um modal funcionando e com valor acessível para todas as pessoas. Eu defendo e propus um projeto de lei na Assembleia Legislativa para que a tarifa do BRT (Ônibus de Trânsito Rápido) seja 1 real. É o valor justo para o povo que tanto sofreu com a novela do VLT ao longo de todos esses anos. Essa tarifa é possível com o subsídio do governo de Mato Grosso, que já vendeu os vagões do VLT por quase 1 bilhão de reais. O povo quer transporte de qualidade e barato e é isso que eu defendo. Como prefeito, vou pautar essa questão até melhorar a vida da nossa gente, porque o que a gente quer é o BRT funcionando, licitado, com integração às linhas de ônibus para o restante da cidade. A gente sabe que Cuiabá cresce todos os anos e na nossa gestão vai crescer muito mais, de forma organizada e planejada, então, com certeza o transporte público não pode continuar estrangulando as pessoas por horas no trânsito caótico. É preciso pensar em outras alternativas para o futuro, mas primeiro temos que garantir o básico agora: BRT a 1 real para o povo.
A questão do passe livre é crônica em Cuiabá, com frequentes reclamações dos usuários, em especial os estudantes, que aponta desleixo por parte da Semob e da MTU, especialmente com o descaso em relação aos cartões. Como sanar de vez tais problemas?
Lúdio – Eu fui vereador por Cuiabá por dois mandatos. Durante os oito anos de atuação na Câmara sempre defendi os usuários do transporte público dos aumentos abusivos da tarifa e sempre defendi o passe livre para os estudantes e a ampliação desse direito para pessoas idosas ou com deficiências. Essa é uma luta que sempre teve e terá o meu apoio. Como prefeito da cidade, não vai ser diferente. Está lá no nosso plano de governo: vamos assegurar o passe livre estudantil e ainda vamos garantir passe livre no transporte público para pessoas que estejam em tratamento com a rede de atendimento psicossocial, assim como seus acompanhantes. Para isso funcionar, vamos qualificar o atendimento, revertendo a lógica de que o usuário com passe livre está sendo beneficiado: o passe livre é um direito e no caso do passe livre estudantil é também um investimento no futuro da nossa cidade.
Ainda sobre o transporte coletivo. Como o candidato pretende resolver as frequentes reclamações sobre quantidade reduzida de veículos, especialmente nos horários de pico, a péssima qualidade da frota, sujeira e falta de ar-condicionado, os frequentes atrasos de horários e a drástica redução de ônibus durante os finais de semana (especialmente domingos) e feriados. Um problema lateral: a desumanidade de motoristas, em especial com idosos e pessoas humildes.
Lúdio – A melhoria no transporte público sempre foi uma pauta dos meus mandatos, tanto na Câmara de Vereadores quanto agora na Assembleia Legislativa. O que precisa ficar claro para a população é que a forma como a tarifa do ônibus é calculada só favorece os donos das empresas de ônibus, que cobram R$ 4,95 por passagem e recebem mais R$ 4,95 da prefeitura, ganhando um total de R$ 9,90 por cada passagem, para prestar um serviço de péssima qualidade. Os empresários ficam ricos enquanto a população é estrangulada em latas de sardinha que a gente vê circulando por aí, um aperto, um calor, tudo em condições muito precárias. Então, além de melhorar a saúde que está exigindo muito da nossa atenção, meu compromisso com a nossa cidade é alterar a fórmula para o cálculo do valor da tarifa. Com essa mudança, a gente vai forçar as empresas a colocarem mais ônibus nas ruas, porque elas não vão mais ganhar com a superlotação. Quando mudar a lógica atual, com certeza o problema da superlotação vai acabar. E as condições dos ônibus também serão rigorosamente fiscalizadas. Lá no nosso plano de governo, a gente propõe ampliar a frota de ônibus com veículos novos e ter 100% desta frota com ar-condicionado. Não podemos aceitar mais ônibus sem ar-condicionado nesta cidade. Outra proposta é ampliar o horário do funcionamento do transporte coletivo com a implantação de corujões nas linhas de ônibus. A gente também não pode esquecer que os motoristas de ônibus são trabalhadores e estão trabalhando em condições estressantes diariamente nesse trânsito caótico. Eu tenho certeza de que, com as melhorias que a gente implantar, o ambiente de trabalho deles será mais agradável, menos cansativo, e isso vai refletir no atendimento ao público. A verdade é que hoje o sistema de transporte público penaliza os usuários e os trabalhadores das próprias empresas.
Outro problema objeto de muitas reclamações de nossos leitores: as paradas de ônibus sempre precárias, especialmente nos bairros mais periféricos.
Lúdio – Essa é mais uma reclamação do usuário que faz muito sentido e evidencia como o assunto deve ser tratado com urgência e prioridade. As pessoas não podem aguardar o ônibus ao relento, sem conforto, sem dignidade. Cuiabá tem regiões que esperam estação de ônibus há muito tempo. A região do Coxipó não tem um terminal sequer. No nosso plano, nós garantimos uma estação no Coxipó. Na nossa gestão, com as mudanças que iremos implantar e os enfrentamentos que iremos fazer, os usuários não ficarão muito tempo nos pontos esperando, porque vamos ampliar a frota circulando e com ar-condicionado. Mas enquanto a pessoa espera, ela tem que esperar em uma parada que tenha condições mínimas de conforto, um lugar limpo para sentar, proteção contra o sol de 40 graus que temos na cidade, proteção nos dias de chuva, acessibilidade para pessoas com deficiências e dificuldade de locomoção. A gente precisa pensar também na segurança das pessoas. Nós vamos implantar a Guarda Municipal Cidadã, que vai estar nos bairros, nas praças, nas ruas, em contato com a comunidade e vai garantir a segurança dos usuários de ônibus. Nós vamos criar um aplicativo para as pessoas acompanharem os itinerários e horários das viagens de ônibus. E essa Guarda Municipal vai dar segurança para as pessoas utilizarem os seus celulares no ponto de ônibus. No nosso plano de governo também está assegurada a ampliação do número de estações de ônibus cobertas e climatizadas e nós ainda vamos adotar o modelo de “teto verde” nos pontos de ônibus.
A acessibilidade nas calçadas e edifícios públicos, quase inexistentes.
Lúdio – Em todo o nosso plano de governo a gente enxerga as diversas áreas da administração pública e os temas relevantes à sociedade de uma forma integrada. Na mobilidade urbana é da mesma forma. A gente quer um transporte público de qualidade e barato para a população, mas não podemos esquecer da acessibilidade das nossas calçadas. Esse é um problema sério na nossa cidade. Caminhar pelas calçadas é um desafio para muita gente. Por isso, a gente vai integrar o sistema do transporte coletivo municipal com uma rede de calçadas que preze pela acessibilidade para pessoas com dificuldade de locomoção, como os idosos, pessoas com deficiência física e visual. Além disso, teremos uma rede cicloviária, para incentivar o uso das bicicletas, sem deixar de lado a arborização das nossas calçadas com os corredores verdes que estamos propondo.
“A gente quer um transporte público de qualidade e barato para a população, mas não podemos esquecer da acessibilidade das nossas calçadas. Esse é um problema sério na nossa cidade”
A melhoria da sinalização do trânsito, em especial as faixas de pedestres e os semáforos, também neste caso a necessidade da manutenção deles em sinal de alerta nas madrugadas, por questão de segurança em alguns pontos da cidade. E ainda a sincronização a permitir a chamada “onda verde” e assim melhorar o fluxo nas ruas e avenidas especialmente do centro e outras áreas de grande movimentação.
Lúdio – A gente vai executar a pavimentação de 300 quilômetros das vias urbanas que ainda não foram asfaltadas e recuperar a malha viária do município com um programa permanente de recapeamento asfáltico, com materiais e soluções duradouras. E vamos fazer isso com uma ampla sinalização vertical e horizontal das nossas ruas. Eu tenho certeza de que com a sinalização de trânsito adequada, atualizada, teremos uma forma eficiente de orientar os motoristas e também os pedestres para prevenir acidentes. Nós temos diversas formas de sinalizações viárias importantes para pedestres, como as faixas de pedestres e aqueles semáforos inclusivos para pedestres, além de placas que indiquem os melhores lugares para atravessar a rua, por exemplo.
OBS: as três últimas perguntas estão contempladas em respostas anteriores.