Alice Conceição de Almeida viveu e cresceu na comunidade São Gonçalo Beira-Rio e pretende deixar como legado a arte do artesanato para as próximas gerações, mas enfrenta desafios.
Por Rogério Júnior
A ceramista Alice Conceição de Almeida, de 75 anos, procura pessoas que gostem tanto do artesanato quanto ela para ensiná-las o ofício. Ela enfrenta dificuldades para continuar trabalhando por causa de problemas de saúde e precisa fazer uma pausa para uma cirurgia.
Ela disse que ainda não encontrou alguém tão apaixonado quanto ela para dar conta da demanda na comunidade ribeirinha São Gonçalo Beira-Rio, em Cuiabá.
Alice faz parte da Associação dos Artesãos e conta com o apoio de algumas auxiliares. “Você não faz nada sem amor. Tudo tem que ser feito com amor”, afirmou.
Em busca de encontrar quem sinta tanto amor pelo artesanato quanto ela, a artesã vem realizando oficinas com alguns interessados. “Eu quero deixar mais ou menos pronto, meio organizado para deixar para os outros darem continuidade ao meu trabalho”, contou.
Alice vem adiando a cirurgia desde novembro do ano passado porque não quer deixar a loja de qualquer jeito, algo que aconteceu apenas durante os primeiros meses da pandemia, quando o estabelecimento ficou sete meses fechado.
Ela deve colocar uma prótese para aliviar a dor do desgaste do osso fêmur, que vem causando dor, mas ela não sai da loja de jeito nenhum.
Nascida e criada na comunidade São Gonçalo Beira-Rio, Alice aprendeu as técnicas do artesanato com a mãe dela, aos 10 anos de idade. Desde então, foi amor intenso sem medidas. Ela passou a trabalhar por um período como merendeira de uma escola no Coxipó e em outros setores gerais, mas sempre voltava para casa, de bicicleta, e ia para o barro, para criar novas peças.
Ela começou a montar o que chamam de ‘miúdas’, e depois foi desenvolvendo o trabalho até outros mais complexos, como a moringa. Depois disso, foi aperfeiçoando a arte com diferentes peças, como fruteiras, utensílios para cozinha, mesa e decorações.
Alice revelou que a inspiração vem de dentro, vem da força e do amor que sente pelo que faz. Esse é o legado que ela quer deixar e pretende abrir mais espaço para dar continuidade ao trabalho que aprendeu com a mãe.
“Quero chegar nos meus 90 anos e continuar trabalhando. Tenho certeza de que vou fazer muito mais do que eu estou fazendo. Quero ajudar as ceramistas a abrir outra casa do artesão, é levar a feira com nossos produtos, porque eu sei que daqui uns tempos alguém vai deixar [o artesanato]”, disse.
Ela contou que deseja ampliar as vendas do artesanato através de uma feira na região. Além disso, Alice também almeja ver às margens do rio Cuiabá na comunidade a construção de uma orla, o que pode atrair mais turistas ao local.
Segundo a artesã, essa seria a valorização da arte do artesanato: poder vender cada vez mais e ensinar novos ceramistas para dar continuidade à arte.
Fotos por: Rogério Júnior