Depois de 19 anos de sua primeira passagem pelo Cruzeiro, o técnico Luis Felipe Scolari, pentacampeão mundial com a seleção brasileira, voltou a comandar o Cruzeiro nesta terça-feira e, numa circunstância diferente, por um jogo válido pelo Campeonato Brasileiro da Série B. A vitória por 1 a 0 sobre o Operário-PR, em Ponta Grossa, parece ter sido um pequeno degrau para sair do que ele mesmo chamou de “atoleiro”.
Felipão, com 71 anos, faz parte do grupo de risco da covid-19. E utilizou uma máscara na área técnica. Ele chegou ao estádio Germano Kruger escondendo a falta de bigode, debaixo de muitos holofotes e flashes. Não quis falar e entrou para os vestiários ao lado da delegação. Em campo gritou, gesticulou e vibrou muito com a vitória. Na coletiva, após o jogo, pediu muita cautela a todos.
Para Felipão, é preciso caminhar com muita consciência. “Este foi o primeiro passo. E ainda faltam muitos. Hoje foi um pequeno passinho. Temos muitos ainda a dar, para não termos a dificuldade que estamos passando. Temos algumas situações que vamos conversar com o presidente para tirar o pé deste atoleiro que estamos passando”.
Nem mesmo conseguiu fazer uma análise de seu grupo, apesar da vitória importante. “Sobre a equipe eu não tenho muito a falar, porque são dois dias que cheguei. Apenas conversei com os jogadores. Tentei dar a eles um pouco de confiança. Nós temos um projeto, que é interessante. Quero dizer a todos cruzeirenses que sou profissional. Estou fazendo tudo com amor, mas recebo para isso. Trabalho aqui profissionalmente. Por isso quero elogiar o presidente por montar um projeto. É difícil falar para fazer tudo aquilo que idealizamos” ponderou.
Sem tempo para treinar, Felipão acredita que contribuiu neste momento para passar tranquilidade aos jogadores do Cruzeiro, que estão sob forte pressão. “Eles estão desconfiados de si próprios Não acreditando totalmente nas qualidades que tem. Sabemos que algumas coisas são diferentes na Série B. Nós tínhamos cinco da base hoje e eles só tinham um menino de 18 anos. Estudamos o adversário e eles têm uma altura maior do que nossos jogadores”
Superar as dificuldades faz parte da vida e é isso que Felipão promete pregar para os jogadores, dentro do clube e para a torcida, através da imprensa. “Se nos quisermos que o Cruzeiro volte como antigamente, vamos ter que fazer diferente. No momento, eu passei a confiança que tenho neles. Todos nós passamos por dificuldades na vida. Fizemos um treino tático, de 45 minutos. Não tem nada de diferente. Faltam muitos degraus para nos subirmos. E algumas situações para melhorar tecnicamente e enfrentar as equipes de melhores condições”.
Mas o técnico ainda acha cedo para falar em reforços, sem observar melhor o grupo e, junto com a diretoria, buscar as peças realmente necessárias, tendo em vista as dificuldades financeiras do clube. Felipão foi cobrado na coletiva sobre a possível chegada de jogadores e não se mostrou afoito.
“Sobre reforços, sobre a possibilidade de contratação eu tenho conversado com o presidente, com o Deivid e com o Brunoro, que são as pessoas com as quais eu conversei em Porto Alegre (no dia do acerto). Tenho que observar alguns detalhes do nosso grupo. Algumas situações, porque nós ficamos com menos experiência para jogar uma Série B do que algumas equipes. Vamos ver o que vai acontecer no decorrer dos treinos”.
A respeito das dificuldades encaradas pelo Cruzeiro em campo, o técnico considerou normal. “As dificuldades na marcação, na criação e tudo mais eu pensei hoje um pouquinho diferente. Tentei colocar uma equipe mais experiente, do meio para frente. E quem colocou o Adriano (volante) na equipe foi o Célio Lúcio (auxiliar fixo) e ele disse: pode colocar porque é um menino, assim, assim e assim…Ele jogou muito bem, se posicionou bem e mérito para o Célio. Precisamos de mais experiência e mais qualidade. Vencemos um jogo hoje num sufoco. Calma. Muita calma”
Mas o técnico pentacampeão do mundo não se ilude e evitou falar da possibilidade de acesso, tanto que ele pediu cautela a todos. “Estou com barro até o pescoço, primeiro temos que sair de onde nós estamos. Ainda faltam muitos e muitos jogos, muita qualidade, muito treinamento, muitos pontos para que a gente possa sair desta situação. Primeiro, entendo, que devemos fazer isso. Jogo a jogo, ponto a ponto. Objetivo por objetivo.
Hoje ganhamos uma posição e assim vamos melhorando. Hoje ganhamos por entrega, de luta, por colocação de situações que trabalhamos e que aconteceram e os jogadores estavam posicionados. Falta muito, gente. Não vamos comemorar muito esta vitória, porque nós estamos lá embaixo. No futuro a gente pode falar uma coisa diferente, se conseguirmos nosso primeiro objetivo que é sair desta situação. De deixar os jogadores tranquilos, sem medo de errar e de ter confiança para fazer uma jogada”, concluiu.
Estadão Conteúdo – São Paulo