A sina da vacina

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Quando Eduard Jenner inventou a vacina, em 1798, não havia outro propósito senão salvar vidas humanas contra a infecção pela varíola que, então, varria o mundo com seu morticínio inexorável. Entretanto, 223 anos depois, a vacina ganha outro propósito, servir de disputa política entre contendores cujo fim último não é salvar vidas, mas auferir votos nas urnas da próxima eleição presidencial.

Esta triste sina da vacina não fica só nisso. Muita gente a desqualifica, a identifica como uma poção de bruxa que transforma pessoas em jacarés, que deixa muita gente com deficiências e, até, pasmem, que a vacina muda a estrutura genética de seres humanos.

Enquanto milhares de cientistas, estudiosos e comprometidos com o avanço de métodos para evitar adoecimentos e garantir a sobrevivência da humanidade, alguns não-seres lideram campanhas contra a vacinação de crianças e adultos. Qual o fundamento científico ou mesmo lógico para que continuem praticando campanhas antivacinas?

Muita gente a desqualifica, a identifica como uma poção de bruxa que transforma pessoas em jacarés
Nenhum! Não há fundamento, nem o mais mínimo possível, para alguém se engajar numa prática deletéria a qualquer grupo social e, pior, para toda a humanidade.

Infelizmente, o que me entristece e me deixa decepcionado, existem médicos que, mesmo não sendo frontalmente contra a antivacinas, a toleram e a divulgam como algo jocoso, aceitável e hilário.

Não existe nada de alegre, de tolerável, de hilário ou jocoso nas campanhas anti-humanas. A missão que funda a medicina na história da humanidade é salvar vidas e, para isso, todos os médicos juram perante a sociedade o sagrado Juramento de Hipócrates:

“Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panaceia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: […]

Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, […] Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça.”

Nesta Pandemia que assola o Planeta, a sina da vacina ainda encontra muitas autoridades que desconsideram a ciência, demonstram uma sensibilidade de iceberg e desprezam com gargalhadas o sofrimento de milhares de brasileiros enquanto se empanturram de leite condensado, como se em uma glorificação adocicada com dinheiro público.

Que triste sina, divina vacina! Em cada esquina uma mão assassina empunha uma lâmina afiada pelos detratores do uso das máscaras e do distanciamento para evitar o contágio do coronavírus. Agora, as mentes putrefatas, aliadas da Covid-19, encetaram mais um ataque contra a vacina, disseminando, como um vírus pior do que o corona, que a vacina tem um chip líquido e inteligência artificial para controle populacional.

Nenhuma animal irracional consegue ter em si mesmo uma maldade de tamanha monta. Uma terrível afronta à inteligência humana, nem mesmo Hitler ou Mengele conseguiram imaginar tamanha barbaridade contra pessoas inocentes.

E a sina da vacina deve continuar nessa toada, mas, todos nós, em nossa caminhada haveremos de ir destruindo, nessa estrada, as armadilhas postadas por essa quadrilha de desalmados, ou seria uma matilha de lobos esfaimados? VACINEMOS, POIS!

José Pedro R. Gonçalves é médico.

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