Fonte: A Gazeta
Mato Grosso conta hoje com 32 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica habilitados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Somando com leitos da rede privada, o número chega a 96. O deficit destes leitos, conforme a Secretaria de Estado de Saúde (SES), é de 45 vagas. Mesmo com essa deficiência, prestes a completar um ano da inauguração oficial, UTI pediátrica do Hospital de Câncer de Mato Grosso (HCan) segue fechada. A UTI, inaugurada em 21 de agosto de 2018, conta com 10 leitos equipados. A falta de funcionamento deste setor é o tema da primeira reportagem da série “Dossiê Saúde” que revela diversos problemas na unidade referência em tratamento contra o câncer no Estado.
A UTI, que seria a primeira pediátrica oncológica do Estado, permanece vazia, mesmo estando pronta. De acordo com o hospital, o projeto da UTI começou a ser pensado em 2014, quando foi identificada a necessidade de atendimento intensivo. Entre 2015 e 2017, parte dos recursos do McDia Feliz foi direcionada para as obras e compra de parte dos equipamentos. Em 2017, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) e a Associação Matogrossense de Produtores de Algodão (Ampa) arrecadaram doações para compra de móveis e equipamentos. Da mesma forma, a Associação de Amigos da Criança com Câncer (AACC) realizou doação para compra de equipamentos. Duas emendas parlamentares federais complementaram os recursos.
Representante da Sociedade Matogrossense de Pediatria (Somape), Rubem Couto avalia como lamentável a falta de UTIs pediátricas. O médico ressalta que quanto menor o número de leitos, maior a taxa de mortalidade. A falta deste respaldo para as crianças tem feito com que muitas famílias recorram à Justiça na tentativa de uma vaga. No entanto, conforme Rubem, nem com a decisão liminar está sendo possível pois faltam leitos. Com isso, crianças morrem esperando uma vaga.
“A falta de leitos de UTI compromete com a demora do início do tratamento. Se a criança é indicada para uma UTI é porque a situação é grave. Quando está à espera de uma UTI cada minuto é precioso para a eficácia no tratamento”, enfatiza Rubem Couto.
Uma das instituições que contribuiu para a construção da UTI no Hospital de Câncer foi a AACC. À época, a associação investiu cerca de R$ 650 mil na compra de 12 respiradores para a UTI. A aquisição foi feita com recursos de campanhas realizadas nos anos de 2014 e 2015. A AACC decidiu ajudar nesta construção por verificar o crescente número de óbitos de crianças e adolescentes em decorrência do câncer. As mortes, segundo a entidade, não se resumiam apenas à patologia, mas às deficiências no sistema de tratamento da doença, como a falta de UTI.
Vice-presidente da AACC, Benildes Aureliano Firmo diz que a entidade também não entende o motivo da não abertura dos leitos no Hospital de Câncer. Ele reforça que assistidos pela associação também indagam o motivo do local, mesmo equipado, permanecer de portas fechadas.
Benildes diz que uma explicação que surgiu era a não autorização da vigilância sanitária. No entanto, a Vigilância Sanitária confirmou à reportagem que, desde junho deste ano, já há a autorização para o funcionamento. Benildes afirma que a AACC, no dia da inauguração das UTIs, em agosto de 2018, já havia doado os equipamentos, que inclusive estavam instalados. Ele salienta que tudo estava em conformidade para atender às necessidades dos pacientes. “Para quem está precisando, isso é um sério problema. Um local que está todo pronto, equipado e que permanece de portas fechadas, não sabemos por quais motivos. Esperamos que as UTIs estejam funcionando, pois muitas crianças estão dependendo delas”, afiança.
O motivo da não abertura também é questionado por pais de crianças que fazem tratamento contra o câncer. R.S, 39, afirma que desde os 3 anos de idade o filho faz tratamento na unidade de saúde. E a falta de estrutura vem assustando os pais destes pacientes. “Imagine só, uma criança, já neste estado, e que está a qualquer momento suscetível a uma piora, necessitar de uma UTI. Você chega num hospital referência como este e ter um local todo pronto, mas que está a fazer aniversário de fechamento. Acompanhamos toda a construção neste período de tratamento, é triste ver isso, ter um local mas não poder usar”, comenta R.S.
Confira reportagem completa na edição do Jornal A Gazeta
Foto: Elza Fiuza