O Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) descobriu uma nova arma para o combate ao Aedes Aegypti, mosquito que transmite vírus que propaga, entre outras doenças, a dengue. A solução foi desenvolvida por um grupo de pesquisadores estrangeiros em 2013, mas foram pesquisadores da UFMT que detectaram a eficácia do composto no extermínio de larvas do mosquito.
A pesquisa foi orientada pelo professor doutor em Microbiologia Agrícola Marcos Antônio Soares, em parceria com o professor doutor em Química Orgânica Sintética Lucas Campos Curcino Vieira. Participam também do projeto dois alunos de doutorado, dois alunos de mestrado e um de graduação. A pesquisa foi financiada com recursos públicos, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat).
Os pesquisadores testaram sete compostos diferentes para combater as larvas do mosquito, porém, apenas um deles se mostrou excelente. A solução foi classificada assim pela quantidade de vantagens que ela apresentou frente às outras soluções testadas.
“Ele foi excelente por causa de algumas características. Primeiro, ele mata a larva rapidamente. Em menos de uma hora, mata 100% das larvas, todas morrem. A segunda vantagem é que esse composto mata qualquer outra larva que chegue a essa água com, no mínimo, 30 dias. Então, durante 30 dias, pelo menos, ele fica ativo e permanece com a capacidade de matar as larvas”, explicou o professor Marcos, complementando que a equipe encontrou o prazo mínimo de ação porque a ação do composto foi acompanhada apenas por 30 dias.
A solução tem outras vantagens. O professor explica que o produto é altamente econômico em seu custo de produção e em sua aplicação. Segundo ele, uma quantidade muito pequena já se mostra totalmente eficaz. O baixo preço de produção pode contribuir para que o produto chegue aos mercados com preço bem acessível, caso alguma grande empresa decida comercializá-lo.
Soares também explica que, tão importante quanto a eficácia de 100% na morte das larvas, a solução não agride o meio ambiente, tendo sido testada em outros organismos, vegetais e animais.
“São organismos que a gente utiliza pra avaliar a toxicidade [taxa para uso sem risco] pra não ter que usar nem em humanos, que envolve questões éticas complexas, e nem em outros mamíferos, também por questões éticas. Esses animais são invertebrados, [com] questões éticas mais simples para manipulá-los. A gente verificou que [a solução] não é tóxica nesses animais”, explicou.
O OBJETIVO – A solução tem como alvo as larvas do mosquito. Isso porque é muito mais fácil controlar a população do Aedes Aegypti o combatendo ainda em sua fase larval, já que depois de adulto ele se locomove em longas distâncias.
A larva, por sua vez, ainda está vulnerável. A fêmea do mosquito deposita seus ovos em água parada acumulada. Após o ovo eclodir, ocasião em que se dá o nascimento, a larva permanece neste “reservatório” de água pelo prazo de sete dias.
Enquanto é larva, o Aedes passa por quatro fases de crescimento, passando para a fase de pupa e depois adulto. Grosso modo, essa fase chamada “pupa” é semelhante à fase de metamorfose da borboleta, quando a lagarta forma seu casulo para se transformar.
SOLUÇÃO QUE VEM DAS PLANTAS
O composto se parece com hormônios de plantas. O professor Marcos Antônio Soares explica que o professor Lucas Curcino trabalha com modificações químicas em moléculas. Um de seus alunos, então, decidiu fazer sua Tese de Mestrado com essa abordagem.
“Como a gente tinha o projeto aprovado, de buscar novos compostos pra controlar o mosquito, nós pedimos ao professor Lucas a doação desses compostos para avaliarmos. Ele cedeu e o nosso grupo tinha como hipótese de que alguns desses compostos poderiam matar as larvas de Aedes”, comentou.
O trabalho do professor Lucas e de seu aluno foi de mudar a estrutura dos compostos que se parecem com hormônios vegetais. Já a pesquisa da equipe de Marcos se baseou em testar esses compostos no combate às larvas do Aedes Aegypti. Esse último estudo foi iniciado em junho de 2016 e concluído no final de 2017.
A solução não pertence à UFMT, já que foi descoberta em 2013 por outros pesquisadores. No caso, a patente da instituição diz respeito ao uso do componente para o combate ao mosquito, conhecido popularmente também por “mosquito da dengue”. Isso quer dizer que qualquer pessoa pode produzir o composto, apenas o aplicação dele que está restrito.
Por exemplo, se um novo levantamento concluir que a solução pode ser utilizada em outra atividade, essa patente de uso pertencerá a esses pesquisadores que fizerem essa descoberta.
ÁGUA SUJA TAMBÉM SERVE DE “INCUBADORA” PARA OVOS
Até pouco tempo acreditou-se que o mosquito Aedes Aegypti só depositava seus ovos em água limpa. Contudo, um estudo liderado pelo biólogo Eduardo Beserra, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), encontrou larvas do mosquito em água bastante poluída, em alguns casos até com esgoto bruto. A veiculação da notícia foi feita em 2016, há apenas três anos.
Nosso entrevistado, o professor doutor Marcos Antônio Soares, nos confirmou já ter essa informação, e ressaltou que essa descoberta nos obriga a ter ainda mais cuidado em não deixar o acúmulo de qualquer água parada, seja ela limpa ou suja.
“Ele [o mosquito] consegue se reproduzir em qualquer água, então, o que você tem que evitar é que ele tenha a chance de encontrar água. Na nossa casa a gente pode fazer diferentes métodos para evitar isso. Você não pode deixar pneus, vasilhas que acumulem água. Independente de se a água vai ser potável ou não potável, o importante é a gente não deixar a água parada”, recomendou.
O Aedes Aegypti é um mosquito perigoso. Ele é vetor de vírus que causam diferentes doenças. A mais comum das doenças é a dengue, que tem quatro tipos. Quando a pessoa contrai um tipo da doença, fica automaticamente imune a ele. Até 12 de outubro deste ano, foram registradas 689 mortes por dengue no país.
A febre amarela é outra das doenças causadas pela picada do Aedes Aegypti. Para combater a doença, o país conseguiu erradicar o mosquito em 1955, mas sua existência no Brasil foi “ressuscitada” no final da década de 1960.
Outra doença transmitida pela picada do mosquito é a Chikungunya, famosa por fortes dores nas juntas em geral, como joelhos, cotovelos e tornozelos. A Chikungunya causa outros sintomas semelhantes às demais doenças causadas pelo Aedes, como febre, dor de cabeça e mal-estar.
O mais perigoso dos vírus transportados pelo mosquito é o zika. Ele tem grau de risco superior às demais doenças, pois pode desenvolver complicações neurológicas.
Na lista do Ministério da Saúde está a Síndrome de Guillain Barré, que é quando nosso sistema imunológico ataca parte de nosso sistema nervoso. O Ministério da Saúde também cita a microcefalia, que é uma má-formação congênita. Nesse caso, o cérebro da criança não se desenvolve da forma como deveria.
Fonte: O Estado de Mato Grosso