O hábito de fumar é o fator de risco mais conhecido para o câncer de pulmão. Ele aumenta em até 20 vezes a chance de uma pessoa desenvolver a doença quando comparado aos não fumantes. Ainda assim, o país registra um elevado número de casos da doença entre fumantes. Alertas como estes foram feitos na semana em que se celebra o “Dia Mundial sem Tabaco”, comemorado hoje (31).
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), para o biênio 2018/2019, são estimados 18.740 casos novos de câncer de pulmão entre homens e de 12.530 nas mulheres no Brasil. Esses valores correspondem a um risco estimado de 18,16 novas ocorrências a cada 100 mil pessoas do sexo masculino, sendo o segundo tumor mais frequente; e com um risco estimado de 11,81 para cada 100 mil mulheres.
Em Mato Grosso, a estimativa é de 270 novos casos desse tipo neoplasia maligna entre os homens, e de 150 entre o público feminino, no mesmo período, ou seja, um total de 420 ocorrências. Essa quantidade representa uma incidência de 13,35 novos casos a cada 100 mil homens e de 8,93 a cada 100 mil mulheres. Já para Cuiabá, a estimativa é de 60 novas ocorrências entre os homens e de 40 entre as mulheres. A incidência bruta é de 20,49, a cada 100 mil homens e de 11,94 entre 100 mil mulheres.
Segundo o Inca, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de pulmão em homens é o segundo mais frequente nas regiões sul (36,27/100 mil) e no centro-oeste (16,98/100 mil). Sendo nas regiões sudeste (19,22/100 mil), nordeste (10,37/100 mil) e norte (9,03/100 mil), o terceiro mais frequente. Para as mulheres, é o terceiro mais frequente nas regiões sul (20,59/100 mil) e sudeste (12,72/100 mil). No centro-oeste (11,52/100 mil), nordeste (7,82/100 mil) e norte (5,83/100 mil), ocupa a quarta posição.
Porém, pesquisa da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) ressalta a importância de conscientizar a população sobre os diversos outros tumores que possuem relação direta com o tabagismo, que está relacionado a meia dúzia de outros tumores que não recebem a mesma atenção por parte das pessoas.
A SBOC aponta que fumar é um dos hábitos que mais causam danos ao organismo, sendo responsável por cerca de um terço de todas as mortes por câncer, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre os tumores cuja incidência está diretamente relacionada ao tabaco estão o da cavidade oral, laringe, esôfago, estômago, bexiga e do colo do útero.
Pelo menos cinco dessas formas de câncer são desconhecidas por uma parcela preocupante da população: laringe e estômago não são lembrados por dois em cada dez brasileiros (19%); o tumor de boca não é conhecido por um quarto deles (24%); esôfago não é lembrado por um terço (33%); e quase metade dos brasileiros não reconhece o câncer de bexiga (44%). O câncer de colo de útero é o sexto tumor mais lembrado de todos, sendo desconhecido por 14% da população.
“O fato de as campanhas de conscientização contra o tabagismo terem criado o alto reconhecimento do câncer de pulmão é uma ótima notícia – afinal, o tumor de pulmão, brônquio e traqueia é o que mais mata no Brasil. Entretanto, é muito preocupante que uma parcela tão significativa da população desconheça os cânceres da cavidade oral, laringe, estômago, esôfago e bexiga, que, juntos, representam mais de 20% de todos os casos de tumor diagnosticados no país. Se considerarmos também o colo de útero, a incidência chega a ser de quase 30% de todos os casos de câncer do Brasil. Isso significa que pelo menos 13% da população desconhece as formas de câncer responsáveis por um terço de todos os diagnósticos. É um número assustadoramente alto”, afirma a Dra. Clarissa Baldotto, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Outro dado alarmante do estudo da SBOC é que, por mais que os níveis de desconhecimento já sejam altos entre a população como um todo, os fumantes são ainda menos propensos a conhecerem todas as formas de câncer com relação direta com seu hábito: colo de útero (20%) e estômago (21%) são desconhecidos por dois em cada dez fumantes; laringe (23%) e boca (27%) por cerca de um quarto; esôfago por quatro em cada dez fumantes (39%); e bexiga por metade deles (50%). No que refere ao câncer de pulmão, o nível de conhecimento, apesar de mais baixo do que entre os brasileiros como um todo, é o tumor mais lembrado por aqueles que fumam (89%).
“Um número importante de brasileiros ainda mantém o hábito do tabagismo – 14%, segundo a pesquisa da SBOC. Eles são 20 vezes mais propensos a ter câncer de pulmão, dez vezes mais a ter câncer de laringe e têm de duas a cinco vezes mais chances de desenvolver câncer de esôfago. Essa é a parcela da população a quem mais interessa saber os riscos do tabagismo, porém, de maneira contraditória, é a que menos sabe. Por mais que o acesso à informação e à saúde seja precário no Brasil, precisamos nos esforçar ao máximo para alcançar essas pessoas e conscientizá-las sobre o risco que elas correm por prosseguir fumando”, diz a Dra. Clarissa Mathias, diretora da SBOC.
*Informações Diário de Cuiabá