“O negócio é ficar quietinho. Você fica na sua fazendo o feijão com arroz, não questiona, faz o que te pedem, e você vai durando no seu trabalho!” – falou Renato, auxiliar administrativo há 4 anos a Marília que acabava de entrar na empresa.
Atitudes assim ocorrem com o objetivo de manter afastado o julgamento e a crítica.
Todos querem ser reconhecidos por serem quem são, querem ser bem quistos, aceitos e integrados em um grupo.
Isso é tão forte em cada pessoa, que chega a ser um limitador em relação a continuar a subir os degraus, e se tornar destaque no que faz.
– Olhando pra mim agora pelo jeito que estou vestido, você diria que sou músico?” – fala Barão, questionando a alguém se suas roupas falam de si.
– Pois é, eu mudei totalmente meu jeito, sou outra pessoa! – fala num tom ranzinza, e quando é questionado sobre o porquê, ele responde: – Críticas! Julgamentos!
E ali, ele perde também um pouco da sua identidade e deixa de estar vulnerável, com o objetivo de não ser criticado, se torna mais um profissional comum, seu grande diferencial: seu carisma vai embora dando lugar ao profissional abatido. Segundo ele mesmo, frustrado, decepcionado com a profissão e com o meio cruel, que o prendeu dentro de uma caixa.
Quem lembra da Greyci? Financeira sênior da empresa, que passava por mudanças, na qual ao receber a visita de Vinícius, gerente de RH, em sua unidade, reage:
– Nem vem! Não mexe comigo! Deixe-me quietinha aqui!” (quer saber mais sobre Greyci- Leia também: Crescer Exige Mudanças)
Greyci depois de 2 meses foi desligada. A empresa não podia mais segurar. Após 15 anos ali, a 7 como analista sênior, 4 recusas em assumir a coordenação da equipe (posição que já realizava informalmente) e não facilitar a inserção de quem topava assumir, minando estes que assumiam a coordenação com suas críticas e julgamentos, a competência técnica já não bastava para mantê-la por mais um mês sequer naquele lugar. Não naquela crise. Na qual seu salário devido aos reajustes anuais advindos da Convenção Coletiva do Trabalho, após todos aqueles anos atingira um patamar, tal qual o de um gerente financeiro experiente, só que com poucas responsabilidades, devido à recusa de Greyci por várias vezes de aceitar a promoção de um novo cargo.
A empresa precisava cortar custos, não podia mais arcar sozinha com as consequências de uma funcionária sem essa contrapartida, que nunca arriscava nada enquanto ela (empresa) estava a arriscar muito; com sua exceção a regra, com sua flexibilidade e contorcionismo para manter Greyci, a colaboradora antiga, de confiança, competente tecnicamente, porém rígida diante das mudanças, onerosa em relação as suas responsabilidades e entrega de resultado. Greyci custava caro, a cada coordenador que a empresa tinha que dispensar devido à sua postura crítica, rejeição e do seu não assumir a contrapartida de tudo aquilo que ela tanto criticava.
Em prol da sua segurança e recusa de se colocar em estado de prova, de encarar sua vulnerabilidade, Greyci estava naquele momento juntando suas coisas e se despedindo do seu porto seguro. A “corda” não suportou mais, arrebentou.
A sua estratégia tão eficiente por tantos anos, naquele momento falhou, apunhalou-a pelas costas. “Empresa injusta!” Saiu magoada, culpando o meio cruel pelo que aconteceu com ela.
E você? Qual é o pedacinho de corda que tem se segurado para se proteger das correntezas do rio da vida? Quanto tempo será que este seu pedacinho de corda garantirá sua segurança, até que você se decida soltar, ao invés de ser jogado, quando ela não suportar e arrebentar, sem que você possa decidir em qual período: no verão? No inverno, de noite, de dia? Na chuva? No calor? Sob quais condições seria melhor, em quais condições você poderia gerenciar melhor os riscos? Os riscos da vulnerabilidade!
Ou você está a torcer: “Essa corda vai aguentar! Eu tenho fé! Cordinha, cordinha (num tom apavorado) não me deixe na mão!”
Sim, encarar a vulnerabilidade tem seu preço, mas ela é franca. Ela deixa clara a grandeza do rio a encarar, e seus riscos para se chegar à bela margem, com maravilhas e com certeza outros tipos de obstáculos, ela deixa claro que haverá várias pessoas como aqueles vizinhos que ficam na janela observando os outros e tecendo as críticas e apontamentos? Isso faz parte! E estar em estado de vulnerabilidade é estar diante dos aplausos como também das críticas de muitos, que em suas janelas gozam da sua falsa “Segurança”, sem saírem de suas gaiolas, criticando aqueles que se jogam, que se arriscam a saírem de suas cavernas.
Se você souber encarar as críticas com inteligência, elas serão seus grandes indicadores de que você não está a viver a falsa ilusão de segurança. De que você não se cristalizou, de que você está a evoluir, a se mexer!
Analise-se:
Há quanto tempo você não recebe nenhuma crítica, feedback de melhoria?
Tome cuidado com esse falso estado de perfeição ok?
Como já disse Bert Helinger: “ Só o imperfeito pode evoluir. O perfeito já se estagnou.
Cristalizou-se. Portanto, só o imperfeito tem futuro.”
Pois só o que está em estado de vulnerabilidade poderá encarar suas falhas para corrigi-las, afinal ele não está sentado passivo, atrás da janela, ele se arrisca.
É fato, junto com os louros vêm também os duros apontamentos, e muitas vezes pelo medo da crítica deixamos de ousar, de se arriscar, de dar um passo além.
Quantas vezes você quis fazer algo diferente, mas paralisou por medo do julgamento?
Quantas vezes naquela reunião da empresa, onde gerentes e diretores estavam presentes, ao pedir sua opinião, você tinha uma ideia incrível, sentiu sua mão suar, o coração bater acelerado, mas por medo da crítica, do julgamento, você silenciou e perdeu no mesmo pacote aquela oportunidade de ser visto, reconhecido, de crescer?
Se você quer ir mais longe, se você quer ser referência, autoridade no que faz, além das buscas nas áreas do conhecimento técnico, você terá que encarar o estado de vulnerabilidade.
Sair da sua zona de controle.
Quando você vai soltar a corda?
Por quanto tempo vai continuar a acreditar que ela lhe protege?
Por quanto tempo realmente você acha que ela lhe aguenta!?
Você meu amigo, está pesado pra ela… uma hora ela lhe solta, porque ela arrebenta! E que bom seria se antes disso você pudesse soltar, consciente ao invés de: “Corda fraca, não prestou! Corda fraca, me ferrou!”
Vítima do meio! Crítico da vida!
Cynthia Lemos é Psicóloga Empresarial e Coach na Grandy Desenvolvimento Humano. Especialista no Desenvolvimento de Líderes e Empresas tem a missão de: Expandir a Consciência e Gerar Ações Transformadoras – para pessoas e empresas que desejam evoluir em seus projetos e objetivos. Email: [email protected]