Em meio à exposição de esquemas bilionários de corrupção que encerram tragicamente sua história de defesa da ética e moralidade na política, ainda existe algo que o Partido dos Trabalhadores (PT) e o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva sabem desenvolver muito bem: estabelecer uma narrativa na política brasileira conveniente aos seus interesses.
A narrativa do momento é de que Lula, condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, será pela sexta vez candidato à Presidência da República nas eleições de outubro.
Estimulados pelo discurso da irresponsável presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman, de que o presidiário Lula será candidato mesmo que a Justiça Eleitoral venha a negar o registro de candidatura, a militância cega, rouca, louca e intransigente dos petistas repete o mantra do lema Lula candidato. Pura balela. Lula não será candidato à Presidência da República e os motivos vão além da sua permanência no cárcere e da lei da ficha limpa que impede o registro de candidatura aos condenados em órgãos colegiados.
Imaginemos que Lula seja candidato e vitorioso nas urnas. Todos os holofotes da imprensa se concentrarão em seus escândalos e do seu partido
Em seu íntimo, o próprio Lula não deseja ser candidato. Disputar a eleição no atual cenário seria péssimo a Lula porque nenhum resultado que se vislumbra é satisfatório.
Embora as pesquisas eleitorais apontem seu nome na liderança da corrida pelo Palácio do Planalto, muito em razão de seu recall, basta lembrar que em 2010, a maioria dos brasileiros afirmava espontaneamente votar em Lula, desconhecendo assim uma regra básica de que é impossível um terceiro mandato presidencial, as mesmas pesquisas do momento apontam uma rejeição superior a 35%.
Derrotado nas urnas, a imagem de eterno pai dos pobres de Lula, rótulo do qual tenta roubar a qualquer custo de Getúlio Vargas, estará definitivamente enterrada.
Em 2015, Lula deixou escapar que tinha receio de ter o mesmo melancólico final de carreira política de Leonel Brizola, que na eleição de 1994 terminou em quarto lugar e perdeu até para Enéas Carneiro.
Agora, imaginemos que Lula seja candidato e vitorioso nas urnas. Todos os holofotes da imprensa se concentrarão em seus escândalos e do seu partido.
Isto, certamente levaria ao conhecimento público mais condutas antirrepublicanas suas e de seus aliados, provocando devassa na terra já arrasada do PT cujos efeitos são prisões, processos e acusações sem fim de corrupção.
Não há dúvida de que Lula viverá um inferno astral em meio a delações premiadas e crise econômica com fortes possibilidades de vir a sofrer um impeachment.
Réu em outros seis processos criminais pela suspeita de corrupção, Lula deve ter como única preocupação do momento torcer para que sua única condenação permaneça em 12 anos e 1 mês de prisão.
Diante do entendimento consolidado do Supremo Tribunal Federal (STF) de que esgotados os recursos em segunda instância pode ser autorizada a execução provisória da pena, eventuais condenações prolongaria o seu tempo na cadeia sem qualquer perspectiva de liberdade iminente. Mas, até o dia 5 de agosto, o PT poderá homologar em convenção partidária Lula como candidato à Presidência da República.
Porém, até o final do mês o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negará seu registro de candidatura com base na lei da ficha limpa ou no entendimento ainda em fase de consolidação de que o réu em processo criminal não pode ser candidato à Presidência da República. Naturalmente, teremos o encerramento do roteiro de dramatização montado por Lula e o PT, mas ainda assim será construída por ambos uma nova narrativa para ser imposta a qualquer custo na história ainda que esteja totalmente na contramão da realidade.
Dirão à exaustão que Lula foi vítima de uma conspiração do Ministério Público Federal (MPF) e do Judiciário, ambos compostos pela elite branca, para impedir que os pobres possam exercer sua livre escolha e elegê-lo presidente da República.
RAFAEL COSTA é jornalista em Mato Grosso