Plano de fundo de trama da Globo, ecossistema que fica no Mato Grosso e Mato Grosso do sul é importante para o meio ambiente e a economia nacional
Por Arthur Almeida
Com o remake de Pantanal na TV Globo, o bioma que dá nome à novela tem ganhado cada vez mais destaque, principalmente, por suas belezas naturais. O pantanal é a maior área úmida do mundo e fica no chamado “coração do Brasil” — ou “da América do Sul”, já que além de ocupar parte dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Pantanal se estende também pela Bolívia e Paraguai.
O cenário da novela mostra a diversidade desse importante ecossistema brasileiro, que serve de lar para diversas espécies, desempenha papel econômico no agronegócio e é foco do ecoturismo. Confira, a seguir, cinco fatos importantes sobre o Pantanal.
1. Pequeno em espaço, mas muito povoado
O pantanal ocupa cerca de 150 mil km², somente 1,76% da área total do território nacional, concentrados nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar disso, a pesquisadora Sandra Aparecida Santos, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), defende que ele é um dos mais ricos em biodiversidade.
Uma das características de destaque do pantanal é que ele recebe a influência de outros biomas que estão no seu entorno: mata atlântica, cerrado, floresta amazônica e resquícios da caatinga. Isso faz com que a região matogrossense não apresente muitas espécies endêmicas (isso é, que só existem por lá), mas faz com que o ecossistema sirva de lar para diversas plantas, fungos e animais que também podem ser encontrados em outras áreas do país e do mundo.
“Temos cerca de 5.000 espécies do pantanal, são mais de 2.000 plantas, 400 aves e 200 tipos de peixes. É uma região muito diversa. E o que chama a atenção são as grandes populações de animais, como os jacarés e as capivaras”, explica Santos. É, inclusive, por esse motivo que a pesquisadora se refere ao bioma como um “santuário ecológico”.
2. Marcado por inundações
Nos belos cenários do remake de Pantanal a água é um elemento constante. Mas isso não acontece apenas na dramaturgia. As inundações são uma das principais características do bioma. O terreno é formado por uma planície aluvial fortemente influenciada pelos ciclos de chuva e pelos rios que drenam a bacia do Alto Paraguai.
Isso não acontece em todas as áreas, mas, em uma grande parte do pantanal, o solo fica alagado durante meses. A porta-voz da Embrapa explica que, em períodos não prejudicados pela seca, algumas regiões ficam debaixo d’água por até 8 meses, devido às constates cchuvas entre outubro/novembro e março/abril. A subida e descida das águas é um importante fenômeno para a renovação da flora local e para a redistribuição da fauna.
Por ser a maior área úmida do mundo, o pantanal é considerado um Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e é protegido pela Convenção de Ramsar (1971), um acordo internacional que prevê a conservação e o uso sustentável da região.
3. Pecuária como carro-chefe econômico
Pelo excesso de umidade no solo pantanoso, bem como pelo alto índice de lixiviação (gerado pela a lavagem da camada superficial do solo durante as chuvas), a terra do pantanal é pouco desenvolvida e apresenta pobreza em recursos naturais, como os minerais, importantes para a produção agrícola.
Dessa forma, a atividade econômica que, historicamente, mais ganhou força na região foi a pecuária, sobretudo no manejo de gado e da pesca. Não à toa, tanto na novela original de 1990 quanto na versão de 2022 de Pantanal, as boiadas estão muito presentes na vida dos personagens protagonistas e fazem parte dos seus arcos de desenvolvimento, em especial dos Leôncios.
A porta-voz da Embrapa acrescenta que, devido às características físicas do pantanal, a pecuária na região focou na criação de espécies generalistas, que conseguissem enfrentar a dinâmica das águas do bioma. Ela cita, por exemplo, o cavalo pantaneiro. O animal foi primeiro introduzido no território com a invasão dos espanhóis, mas foi a partir da sua adoção pelas populações indígenas que ele ganhou popularidade. Resistentes às inundações, esses equinos são utilizados até hoje para guiar as boiadas e se locomover de um lugar ao outro.
4. Bioma mais bem conservado
Apesar de ser o menor bioma do Brasil, Santos destaca que o pantanal é uma das vegetações nativas que menos sofreu processos de desmatamento e degradação, mesmo com a ocupação dos seres humanos na região. Para ela, isso é um reflexo da ação do “homem pantaneiro”, que não apenas reside no bioma, mas também faz suas atividades econômicas a partir de técnicas de manejo dentro de princípios racionais.
A pesquisadora ainda explica que menos de 10% do bioma é classificado como unidade de conservação e, portanto, protegido e fiscalizado pelos órgãos competentes. Ela defende que historicamente foram os pantaneiros que, sabendo “a importância da natureza e da produção alinhada ao meio ambiente”, impediram as perdas vegetais.
A preocupação hoje é com as pessoas que estão chegando ao pantanal mais recentemente. Há 35 anos na região, Sandra Santos destaca que tem “observado um aumento de desmatamento nos últimos anos”, sendo as queimadas os principais agentes causadores desse fenômeno.
5. Sob ameaça das queimadas e atividades agropecuárias insustentáveis
Com as mudanças climáticas, o pantanal tem enfrentado períodos de seca que, não apenas diminuem os níveis de água nas planícies alagáveis, mas, também, potencializam o alastramento de queimadas. Segundo estudo do MapBiomas, desde a década de 1980, a região perdeu cerca de 29% de sua superfície de água e 57% de seu território já foi queimado pelo menos uma vez.
A pesquisa também mostra que, nesse período, a ação humana no pantanal cresceu 261%, ocupando 1,8 milhão de hectares. A área de pastagens dobrou, de 15,9% em 1985 para 30,9% em 2020. Já a agricultura, por sua vez, quadruplicou, passando de 1,2% para 4,9%.
Santos destaca que, a partir de 2019, com a seca mais recente, o cenário foi catastrófico. “Eu nunca vi uma destruição tão grande da biomassa do Pantanal. O fogo consumiu muitas áreas e os animais silvestres também sofreram uma grande mortalidade. Esse evento extremo de seca associado com as queimadas foi destruidor”, expõe. A pesquisadora conclui que o problema visto hoje na região não será solucionado apenas com a volta das chuvas.
Foto: Divulgação