Há décadas, o Brasil conta com sistemas de monitoramento de solo por satélite, com dados confiáveis sobre o avanço do desmatamento e outras mudanças no uso da terra. Esses sistemas são reconhecidos dentro e fora do país por sua qualidade técnica, sendo utilizados em pesquisas de ponta por cientistas brasileiros e estrangeiros. Nada disso, no entanto, é relevante para Jair Bolsonaro e seus seguidores: ao longo dos últimos anos, o presidente e seu entorno têm desprezado os dados científicos sobre desmatamento, acusando-os sem qualquer prova de distorcer a realidade na Amazônia.
Um novo estudo publicado por pesquisadores do Institute for Advanced Sustainability Studies (IASS), da Alemanha, mostrou como a extrema-direita tem atacado a expertise científica do próprio governo em favor de um discurso fraudulento de contestação do desmatamento. “Grupos de extrema-direita estão realizando um esforço amplo e sofisticado para produzir e difundir uma ‘verdade’ diferente sobre a Amazônia – ou seja, que o desmatamento é um preço aceitável a pagar pelo desenvolvimento econômico”, disse Cecília Oliveira, uma das autoras da análise. “Estruturas construídas ao longo de muitos anos para rastrear e controlar o desmatamento estão sendo cada vez mais desmanteladas”.
A pesquisa argumenta que o entorno político e ideológico do atual governo trabalha sob uma lógica de “hipertransparência”, caracterizada pelo excesso de informação, que confunde ao invés de explicar. “Esse contra-ativismo trabalha para refutar a validade científica das imagens e dados de satélite produzidos pelo INPE, questionando sua qualidade, precisão e veracidade e exigindo regularmente que sejam verificados através das chamadas ‘auditorias’. Ao fazer isso, eles sugerem que as imagens não são confiáveis. O objetivo desta prática parece ser confundir o público sobre a extensão do desmatamento”, explicou Oliveira. O EcoDebate destacou os principais pontos da análise.
Em tempo: O jornalista norte-americano Terrence McCoy, do Washington Post, passou dias percorrendo a BR-319, entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO), para relatar o avanço do desmatamento no coração da Amazônia. Uma das prioridades de infraestrutura do governo Bolsonaro tem sido a recuperação e asfaltamento da estrada, o que pode servir para impulsionar ainda mais a devastação na região, com efeitos desastrosos para o meio ambiente e o clima global.
Por ClimaInfo