O peso da liderança

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Por: Cynthia Lemos
Psicóloga Empresarial e Coach na Grandy Desenvolvimento Humano. Especialista no Desenvolvimento de Líderes e Empresas tem a missão de: Expandir a Consciência e Gerar Ações Transformadoras – para pessoas e empresas que desejam evoluir em seus projetos e objetivos. Email: [email protected]

– Por que eu fui escolhido? Parlatori repete a pergunta, que seu amigo lhe fez, como se fosse óbvio, em uma conversa informal após o futebol.

– Ah! Fácil, porque eu sempre fui o melhor funcionário! Eu nunca tive problemas em entregar os resultados, sempre foi muito fácil para mim.

– Cara, então qual é o problema? Por que está com essa de reclamar então?

– É que eu achei que seria tranquilo. Pra mim estava claro, se eu tivesse poder era só mandar e pronto. Só que eu percebi que agora ficou complicado. Não depende mais de mim. E a turma não me obedece. Está osso, meu amigo. E eu critiquei tanto a Valquíria…

Agora eu estou entendendo o que ela passava. Se eu não for lá fazer, meu amigo, nada acontece no setor.

– Agora eu tenho várias outras pessoas que não são como eu. Eu acho que não sirvo para ser líder. Estou quase certo que isso não é pra mim. As pessoas não são comprometidas.

– Eu falo, explico, 1000 vezes. Até que eu perco a paciência, vou lá e eu mesmo faço.

-Estou cansado. Se eu soubesse que seria desse jeito, não teria aceitado. Muito mais simples quando era só eu.

– Estou achando que não fico muito tempo e sei que não posso mais voltar atrás. Preciso do emprego. Não sei o que fazer.

Silencia em um tom engasgado o ex- engenheiro de produção da indústria, agora como supervisor da área da qualidade.

Parlatori representa sentimentos reais de grandes técnicos de empresa, que devido a seus resultados e potencial elevado foram promovidos e neste momento se veem totalmente desorientados, sem chão, sem direção, cansados, perdidos.

A liderança pode ser aprendida ou se trata somente de vocação de quem nasceu para tal?

Na semana seguinte, Parlatori em sua jornada tensa de líder, juntamente com outros gestores, caminhavam até a sala de treinamento da indústria, para participar de um grande evento sobre a inauguração de mais uma unidade no Brasil. Era um momento de celebração e eles seriam agraciados por uma  palestra muito especial.

Ali Parlatori teve a oportunidade de um importante despertar para que pudesse seguir em frente em seus desafios.

Após a cerimônia de abertura, entra um senhor baixinho, magro e de voz mansa:

– Eu nunca tive vocação, disse Valter conselheiro e ex presidente daquela indústria, que liderou por 25 anos. Parlatorie ficou atento.

Valter compartilhava suas experiências e estratégias buscadas para conseguir liderar pela primeira vez, no início de sua carreira, uma equipe de 30 pessoas.

– Quando eu atuava como engenheiro  não tinha nenhuma experiência em liderar outras pessoas, a maior habilidade que eu tinha era de ser um bom observador, saber fazer perguntas com curiosidade. E acredite, essas duas habilidades me salvaram. Nesse período, eu, o brilhante engenheiro agora como gerente, observava a insegurança me invadir, gerenciar aquele negócio com tantas especialidades, processos e metas que não dependiam mais só de mim, era algo realmente desafiador.

– Ao observar aquele ambiente, e aquelas pessoas de uma coisa eu pude me certificar, eles eram os melhores no que faziam, assim como eu era. E o que eu precisava fazer era estar humildemente aberto para ouvi-los. Para aprender com eles. Foi o que eu  fiz. Aliás, faço até hoje. Eu precisava estar aberto e ao mesmo tempo conectado. Sabia, que se eu soubesse me manter conectado com eles, eles poderiam confiar em mim e darem o melhor deles, e naquilo que eles não pudessem fazer, se sentissem que tinham um parceiro, um apoio, eles poderiam abrir com segurança suas limitações, pois ali eu poderia ser a fonte de orientação  segura e verdadeira. Eles poderiam confiar.

– Se eu me julgasse superior, mais sabido, com certeza esse desnivelamento já me distanciaria o suficiente para que me impedisse de liderar.

– Se eu me colocasse simplesmente como o representante, atento, curioso, conectado e questionador, eles poderiam ter valor; utilidade e eu consequentemente poderia ter parceiros e não mais funcionários. Sentimento de Equipe, parceria foi o que consegui a partir deste meu comportamento.

– Atingir objetivos e ter resultados são consequências, é o fim, um indicador.

-As pessoas são o meio, são elas que precisam ser orientadas, acompanhadas, consideradas, valorizadas. Isso não tem nada a ver com conquistar obediência ou seguidores, e sim com a conquista de um time comprometido com um objetivo maior, comum a todos, um ideal. Assim, eu consegui liderar inicialmente 30, para que então, após 25 anos, encerrasse minha carreira liderando está companhia inteira…

Parlatori divagou. Divagou em seu pensamento solitário, como o pequeno chefe arrogante, autossuficiente, sufocado na ânsia de ter todas as respostas para tudo.

Ouvir o conselheiro e ex presidente naquela pequena parte de sua palestra o deixou confuso. Então não se tratava de dominar e controlar tudo?  Não se tratava mais de ser o melhor?

Então não era mais “eu”…

Então não significava saber todas as respostas? Tratava-se de saber fazer perguntas?

De saber ouvir? De conexão humana?

Mas é disso mesmo que esse cara está falando?

CONFUSÃO.

Assim saiu daquela palestra. Cheio de questionamentos, dúvidas. Então estava livre para uma nova ideia. Algo novo então podia nascer.

Como Albert Einstein certa vez nos disse:

‘A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original’.

Estranhamente Parlatori não era mais o mesmo. Novas possibilidades e caminhos puderam se abrir.

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