O desafio de educar sem punir

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“De onde tiramos a ideia absurda de que, para levar uma criança a se comportar melhor, antes precisamos fazê-la se sentir pior?”. A frase a psicóloga, educadora e mãe de sete filhos, Jane Nelsen, que é uma das fundadoras da disciplina positiva, nos convida a rever o processo educativo baseado em violência.

É importante destacar que punições nem sempre significam algo grave, como castigos físicos, podem ser feitas por meio de um olhar de censura ou palavras que ferem a criança. Uma vez estimuladas sob essa perspectiva negativa, elas tendem a ter uma visão distorcida sobre ter que agradar os outros para serem amadas e aceitas.

Aliás, como pai ou mãe, você tende a apontar mais as características positivas ou negativos dos seus filhos? Apesar de haver na cultura atual uma tendência natural em focar nas falhas, uma das primeiras orientações da disciplina positiva é resistir ao hábito de criticar.

A professora Dra. Lea Waters, da Universidade de Melbourne, nos Estados Unidos, descreveu em seus estudos que essa predisposição negativa se trata de um antigo mecanismo de sobrevivência, que estimula nosso cérebro a procurar o que está errado como meio de promover segurança a nós mesmos e à nossa tribo.

Mas é possível introduzir uma nova forma de educar para mudar esse foco, substituindo medo por encorajamento. Isso não significa ser otimista, ignorar problemas ou mimar as crianças com elogios excessivos. Muito pelo contrário, é buscar ter a mente aberta para agir com discernimento e não colocar nossas expectativas nos outros.

É adotar na educação dos filhos e alunos um método mais eficaz de comunicação que leva crianças e jovens a desenvolverem habilidades sociais importantes, como cooperação, escuta, proposição de ideais, resolução de problemas (foco na solução), senso de aceitação e importância.

Os erros são ótimas oportunidades para o aprendizado! Quando bem trabalhados, ensinam sobre a importância de se acalmar antes de responder. Também são uma oportunidade maravilhosa de criar proximidade entre os membros da família, com estreitamento do vínculo afetivo, que é algo meio perdido nos dias de hoje.

Filhos que são sistematicamente encorajados, ao invés de criticados, se tornam mais independentes, seguros, criativos e emocionalmente saudáveis, pois lidam melhor com as frustrações, medos e tristezas. Todas essas habilidades são conquistadas na maneira como lidamos com erros e acertos.

Por outro lado, a crítica gera muito medo de errar, que por sua vez promove estagnação e/ou passividade. Famílias que se baseiam nesse modelo costumam reproduzir indivíduos com baixa autoestima e que têm dificuldade de lidar com o novo e que possuem pouco empatia, ou seja, não sabem se colocar no lugar dos outros.

Uma ferramenta prática que nos treina atitudes de encorajamento é a gratidão, que é deixar de focalizar no que está faltando, em procurar por falhas, para notar as qualidades. Mas isso exige uma busca ativa para fazer diferente do que estamos acostumados. Estudos demonstram que focar na qualidade do outro estimula as crianças a serem mais felizes e com maior controle interno.

Como começar a praticar essa nova mentalidade? Primeiramente, por você. Observe uma qualidade por semana em seu filho e converse com ele (ou ela) sobre isso. Quando os desafios surgirem, ajuste a sua mentalidade para estimular a criança ao invés de tentar ‘consertá-la’.

Outra maneira interessante é usar as perguntas curiosas: ‘Como você acha que poderá resolver essa situação?; ou ‘Que superpoderes você gostaria de ter agora para lhe ajudar a consertar essa situação?’.

A disciplina positiva afirma que por meio de técnicas simples, mas reproduzidas de forma constante, é possível reescrever a própria história de infância. Que tal pensar sobre esta nova abordagem na educação dos seus filhos?

*Gina Coelho, psicóloga, especialização em treinamento parental e desenvolvimento infanto-juvenil, facilitadora nas relações de educação e psicoeducação, [email protected], @psicologiaginacoelho 

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