Pelo telefone, no Centro de Valorização da Vida (CVV), chegam diariamente centenas de pedidos de socorro. No entanto, Mato Grosso está entre os oito estados do Brasil, onde o atendimento caiu neste último ano. Ainda que o número de suicídios no Estado tenha aumentado em 44% no período de 4 anos. Os óbitos saíram de 150 registros para 216. Os dados constam no boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES) divulgados na última segunda-feira (21).
O boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde aponta que maioria dos casos envolve jovens, de 15 a 29 anos, mulheres e desempregadas. Como forma de não incentivar, optamos em não divulgar a maioria dos casos de suicídio.
De janeiro a agosto de 2019, o Centro de Valorização da Vida de Mato Grosso registrou apenas 320 ligações de pessoas em estado emocional abalado. Os números representam uma queda de 30% comparado com o ano passado. A solidão é a mais constante reclamação feita pelos mato-grossenses aos voluntários do CVV.
A taxa de mortalidade a cada 100 mil habitantes saiu de 4,6 para 6,4. Nos 4 anos compreendidos no levantamento, 738 pessoas tiraram a própria vida em Mato Grosso. As tentativas de suicídio e automutilação chegaram a 1.753 registros no mesmo período.
O boletim aponta ainda que a maioria dos casos envolve jovens de 15 a 29 anos e representa a terceira maior causa de morte nesta faixa etária em Mato Grosso entre os homens e a 7ª entre as mulheres. A taxa de suicídio a cada 100 mil habitantes para o sexo masculino fica em 12,3. Para as das mulheres é de 3,1 a cada 100 mil.
Tomada por um quadro grave de depressão, em Abril deste ano, uma jovem evangélica, Meirejaine Teixeira, 24 anos, foi vítima da doença. Meirejane foi encontrada morta no quintal da casa onde morava na cidade de Terra Nova do Norte (a 651 km de Cuiabá). O laudo do Instituto Médico Legal (IML) comprovou que a jovem suicidou.
Nas redes sociais a jovem que congregava na igreja Batista Nacional, mostrava que estava sofrendo com a perda da mãe, que morreu em Cuiabá há alguns meses vítima de câncer. Sem encontrar consolo na igreja a jovem se despede através do facebook e se mata.
Para a psicóloga Laura Ribeiro, o aumento dos casos de suicídios pode estar diretamente ligado à desestrutura da família e a falta de tempo para ouvir o outro. “Os maiores casos de suicídio estão exatamente na faixa etária dos jovens. E esta desestrutura familiar traz um cenário para que os casos aumentem. Muitos pais não acompanham a vida do filho e não sabem o que passa com ele”, ressalta.
Laura Ribeiro frisa que é muito comum que o suicídio esteja motivado por um quadro depressivo. E ficar atento aos pequenos sinais é uma forma de salvar vidas. “A pessoa ise sola, sente sozinha, desamparada, isso torna mais propício. O suicídio é uma patologia e as pessoas querem apenas amenizar a dor”, afirma.
O relatório da SES conclui que, apesar de ser um sério problema de saúde pública e social no Brasil, há poucos relatos que indiquem formas eficientes de lidar com o suicídio. Indica ainda a escassez de programas governamentais de qualificação para os profissionais da saúde no sentido de atuação e manejo nestes casos. Como estratégias de combate, a secretaria destaca a necessidade de organizar a rede de assistência social. E ainda a construção de Caps nos municípios e promover parcerias com instituições.
Mulheres se matam mais
O levantamento da SES destaca que a maioria das tentativas de suicídios ocorridas entre os anos de 2015 e 2019 foi de mulheres, 61,4% dos registros. A cada 10 tentativas, cerca de 6 foram por envenenamento ou intoxicação. As tentativas de suicídios envolvendo vítimas do sexo masculino correspondem a 38,6%.
Socorro
Quem precisa de ajuda deve procurar o Centro de Valorização da Vida pelo telefone 188, que realiza um trabalho de apoio emocional e prevenção. O atendimento é feito de forma voluntária, gratuita e sob total sigilo.
Mais informações https:// www.cvv.org.br/.
Fonte: O Bom da Notícia | Foto: Reprodução
