POR: Wellington Fagundes | Todos os anos a cena se repete nesta época do ano. Os incêndios florestais se multiplicam e as cidades são tomadas pela densa fumaça. Já houve ano em que aeroportos ficaram fechados por falta de visibilidade para as operações das aeronaves. Já ocorreram situações inversas, com índices de umidade aceitáveis para os padrões regionais. Desta vez, no entanto, pelos dados, estamos vivendo a maior seca das últimas três décadas.
Mais ou menos, o fato é que nas ocorrências – dependendo do grau que o fenômeno da estiagem ocorre – se apressa a buscar culpados. Ataca-se, invariavelmente, o setor produtivo, tendo a frente como principal apontamento a expansão das áreas de produção.
Não se descarta! Todavia, a questão dos incêndios florestais em Mato Grosso – a cada inverno – é mais complexa e, como tal, exige que os debates sejam aprofundados para que não se propague falsas idéias, sobretudo, nos atuais tempos da chamada pós-verdade.
É fato que a população nesta época do ano sofre amargamente. Neste momento, uma das regiões mais atingidas é o Pantanal, embora há que se ressaltar que outros importantes santuários ecológicos do Estado – e são muitos, diga-se de passagem – também estejam ameaçados pelos incêndios.
A vegetação seca, os ventos e as altas temperaturas, normais nesta época do ano, têm contribuído para o aumento dos incêndios. Até meados de agosto, haviam sido registrados mais de 11 mil 770 focos de queimadas, representando um aumento de 9% em relação ao mesmo período do ano passado.
Quais as causas? Por que desse aumento? O que podemos fazer?
As respostas só serão possíveis com uma pesquisa séria e abrangente. Um estudo que ofereça métodos seguros para orientar o povo brasileiro de como deve agir, baseadas na ciência, e, sobretudo, desamarrada das teorias ideológicas, e no conhecimento empírico das populações tradicionais do Pantanal. Até porque combater os incêndios florestais e as queimadas vai muito além do debate entre economia versus meio ambiente.
Alias, economia e meio ambiente não estão e nunca estiveram desassociados. Não existe produção com meio ambiente destruído. Quem produz precisa e protege a natureza. Porém, não há dúvidas de que o fogo ameaça a produção e coloca em risco a fauna e a flora, tão essenciais à vida.
No Pantanal, especificamente, de acordo com o Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, o número de atendimentos para o combate de focos cresceu 530% este ano 2020. O acúmulo de biomassa tem criado as condições favoráveis à progressão do fogo na região.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial também mostraram que o volume de chuvas em todo o bioma ficou 50% abaixo do normal no período de janeiro a maio, o que também colaborou para deixar o bioma mais suscetível aos incêndios. Já o Ibama informa que pelo menos 1,5 milhão de hectares já foram consumidos pelo fogo, causando prejuízos ao meio ambiente e aos moradores da região, incluindo pecuaristas e donos de pousadas.
Esta semana, após o ministro do Meio Ambiente sobrevoar pelas áreas mais atingidas pelo fogo no Santuário do Pantanal, defendi junto a ele a destinação de investimentos em estudos e pesquisas como forma de encontrarmos a real solução para essa questão dos incêndios florestais nesta época do ano, além da criação de um programa amplo de incentivos aos proprietários de áreas no Pantanal, pecuaristas, investidores da área do turismo (pousadas e hotéis), mais investimentos públicos na infraestrutura, etc. De forma que, necessariamente, precisamos – e continuaremos cobrando – respostas efetivas, que nos garantam o desenvolvimento econômico e social de Mato Grosso como um todo.
Ao concluir, julgo importante enaltecer – de forma muito especial –o trabalho que vem sendo desempenhado por grupos de bravos homens e mulheres, que estão no dia a dia do combate aos incêndios florestais em Mato Grosso. São militares do Corpo de Bombeiros, brigadistas ambientais, voluntários (muitos proprietários rurais) que têm, mais uma vez, nos dado mostras do quão tem sido valentes e valorosos nessa tarefa de enfrentar o fogo e na defesa da biodiversidade.
Não há palavras que possam expressar tamanha gratidão pelo empenho e pela disposição com que enfrentam esse desafio. Recebam o nosso reconhecimento. Vocês são grandes!
Wellington Fagundes é senador por Mato Grosso