Mocidade Independente mostra na avenida relações entre Índia e Brasil

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Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil

Com o original enredo Namastê… a estrela que habita em mim saúda a que existe em você, a escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, do grupo especial, entra na passarela da Marquês de Sapucaí relacionando os aspectos que unem a Índia e o Brasil.

O objetivo é mostrar “tudo que de Índia há no Brasil e se tornou identidade brasileira”, explicou o historiador Fábio Fabato, que ajudou a desenvolver o tema. Segundo ele, o carnavalesco Alexandre Louzada foi quem “teve a sacada” de mostrar tudo de indiano que se transformou em identidade nacional no Brasil.  “Por exemplo, a banana é de origem indiana e tem toda cara de Brasil, a marchinha de carnaval e tudo mais. Até a cana-de-açúcar veio da Índia”, disse.

Fabato acredita que o setor do desfile que vai tratar das influências indianas na alimentação brasileira é onde está a sua expectativa de causar mais impacto no público. Ele destacou que no samba enredo tem uma analogia dessa relação: “o deus hindu Brahma foi quem guiou as caravelas de Portugal e trouxe a Índia ao Gantois da Mãe querida”.

“A gente brinca que o tabuleiro da baiana veio da Índia, por incrível que pareça. A gente brinca até que o próprio carnaval veio. A [escola de samba] Mangueira se chama Mangueira, porque havia muitas árvores da manga no morro [onde se localiza a escola] e a Portela nasceu de uma jaqueira. A gente brinca que, de uma certa forma, até o samba tem uma ajudinha indiana. Há um setor todo de comida e de gastronomia absolutamente brasileira porque fala do tabuleiro da baiana. Todas com origem na Índia”, apontou.

Outro setor que deve causar impacto, segundo o historiador, é a parte final do desfile, quando a escola vai fazer um elo entre o líder indiano Gandhi e os pacifistas brasileiros. “Haverá um encontro de pacifistas para promover a paz. É um enredo totalmente pacifista, com uma mensagem inclusiva no final”, revelou.

Entusiasta nato

A proximidade do historiador com a Mocidade vem de longe. Ele já foi até compositor e diretor cultural da escola, mas começou a flertar com a agremiação quando ainda era criança e frequentava a quadra em Padre Miguel acompanhando os pais. Depois disso, já adulto, escreveu a história da agremiação. “Há duas biografias sobre a Mocidade, uma delas, eu que fiz ”, contou.

Para Fabato, poder participar da elaboração do enredo foi um momento único. “Foi de fato algo muito especial. A ideia do Louzada era chegar no coração da torcida. Por isso, ele chamou um torcedor, que tem muito a ver com escola, até porque escreveu a biografia dela e entende muito da Mocidade, que vinha de dez carnavais muito ruins. Passou por uma fase absolutamente perdida e acabou que ganhou no ano passado”, apontou, destacando que o carnavalesco queria um enredo que fosse a “cara da escola”.

Enredo CEP

A ideia de trazer a Índia partiu da possibilidade de conseguir um patrocínio privado, mas a primeira recomendação do carnavalesco Alexandre Louzada foi evitar a permanência da linha do enredo do carnaval passado: “As Mil e Uma Noites de uma Mocidade Pra lá de Marrakech”, quando a escola fez referências a uma cidade do Marrocos.

“Ele ficou desesperado com o enredo da Índia, porque seria mais um enredo do que a gente chamou de enredo CEP, quer dizer, com cidade, estado, país. É aquele enredo que as escolas desenvolvem para ganhar um dinheirinho [com patrocínios pagos para tratar de um local], mas a gente tinha que falar de um jeito mais próximo do Brasil. Por isso a gente trouxe essa pegada de brasilidade que tem tudo a ver com o Fernando Pinto, que foi carnavalesco da escola nos anos 80 e trazia uma linguagem muito brasileira. Também com o carnavalesco Renato Lage…  Daí, decidi extrair desse enredo da Índia o que mais tem de brasilidade”, explicou Fábio Fabato.

Ele disse que agora a escola inverteu a lógica das escolhas dos enredos. Enquanto no do Marrocos a escola ia até aquele país, no deste ano, se deu o contrário e terá cultura popular brasileira por todos os lados. Um desses casos são as festas de Bumba meu Boi, em que o boi é considerado sagrado como a vaca é na Índia. “A gente homenageia o Bumba meu Boi, o Boi Bumbá, todas as formas de boi, sempre tão presentes no carnaval e em outras manifestações folclóricas”.

Samba bem cotado

O historiador acrescentou que o samba desse ano vai ajudar a contar bem o que foi programado para o carnaval de 2018. “O samba da Mocidade é fantástico e a maioria das enquetes dá que o samba é o melhor do ano. A gente espera até que ele ganhe o Estandarte de Ouro [premiação feita pelo jornal O Globo]. É um samba com uma assinatura estelar, feito pelo Altay Veloso e pelo Paulo César Feital, autores de grandes musicais. O enredo está todo ali e a gente espera que toque o coração das pessoas”.

No ano passado, a Mocidade Independente conquistou o título de campeã, que dividiu com a Portela, depois de contestar uma nota em que houve erro do julgador.

 

Edição: Augusto Queiroz

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