Em muitos aspectos, podemos lamentar o que acontece no futebol atual. A elitização dos estádios, a falta de identificação dos clubes com seus torcedores, hoje tratados mais como consumidores, e a migração massiva de craques que ainda nem compraram a primeira lâmina de barbear estão entre as grandes mazelas do futebol brasileiro e sul-americano. Há, no entanto, outros pontos em que o ambiente do futebol evoluiu — porque às vezes é difícil acreditar, mas, sim, em certas questões fundamentais nós evoluímos como sociedade.
Machismo, homofobia, racismo e outras formas de violência ou intolerância continuam acontecendo, mas não passam mais despercebidos. Provocam reações contundentes de parcela cada vez maior da sociedade, porque esse é o primeiro movimento para que sejam combatidos. Geram reações inclusive de quem é diretamente afetado. De quem é vitima da opressão cotidiana que jamais deveria ter tido lugar no dia a dia, dentro de um ônibus, na sala de trabalho ou num campo de futebol, e há não muito tempo calava (porque não tínhamos ouvidos).
Que hoje as mulheres possam sentar na arquibancada sem disfarce, que um jogador negro se retire de campo após sofrer insultos racistas, que o goleiro argentino abertamente gay escolha um uniforme rosa para provocar os machirulos da torcida rival, são passos importantes para uma nova construção social. O papel que cabe ao futebol, vitrine enorme e onipresente, é ser um agente de consolidação dessa transformação. Sem nenhum passo atrás.
Por Douglas Ceconello