Isis Valverde: “A maternidade é uma transformação eterna e dolorida”

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Quando viu a Torre Eiffel pela primeira vez, Isis Valverde não conteve as lágrimas. Estar em Paris, na França, era um sonho de menina, desde quando ela morava na pequena cidade de Aiuruoca, interior de Minas Gerais, com uma população estimada em quase sete mil habitantes. Em sua quinta vez na Cidade Luz, onde acompanhou a Semana de Moda à convite da Dior e posou para as fotos desse ensaio de capa, a atriz ainda se emociona como se estivesse lá pela primeira vez.

“Neste ano já fui duas vezes. Paris nunca é demais! Sempre foi a cidade dos meus sonhos, a que eu mais queria conhecer no mundo e ir à Torre Eiffel me deixou muito emocionada. Chorei muito! Tenho alguma coisa com aquela cidade, que é chamada Cidade Luz por atrair artistas e pensadores”, conta.

Aos 32 anos, Isis já realizou muitos sonhos, o mais recente: a maternidade. Casada desde junho de 2018 com o modelo André Resende, com que já dividia a casa há dois anos, a mineira relembra que oito meses antes da cerimônia sentiu o despertar da vontade de ter um filho. “Foi bem intenso. Eu falei um dia que tinha vontade de ser mãe e ele me respondeu: ‘Então, tá! Vamos fazer’. E foi pá! Três meses depois, aconteceu”, relembra.

Hoje, ela abre um sorriso largo para contar que o filho, Rael, de 11 meses, já fala ‘mamãe’ e engatinha pela casa. Após se dedicar com exclusividade ao primeiro filho, a atriz não vê a hora de voltar para as telinhas. Longe das novelas desde que viveu Ritinha em A Força do Querer, em 2017, Isis se prepara para interpretar a enfermeira Betina na próxima trama das 9, Amor de Mãe.

“Ele mamou até os seis meses no peito exclusivamente. Fiquei doente, dava de mamar com febre e com gelo na cabeça. Tive uma rede de apoio linda, mas foi bem intenso! Além disso, tinha as fraldas, o bebê que chorava, as noites mal dormidas, a dor da barriga, que ainda estava se encontrando, sangramentos fortes… Mas apesar de tudo isso, a todo momento, olhava para o meu filho e chorava de emoção por ele ser tão perfeito e saudável. Não tenho mais nada para reclamar. Hoje, vendo meu filho falando ‘mamãe’ e engatinhando, eu olho para trás e penso: ‘Foi tudo tranquilo e abençoado’. Me emociono”, explica ela, que recentemente brilhou no cinema como Tereza no longa Simonal.

Para o futuro, Isis vislumbra mais personagens marcantes e ser na sua vida pessoal uma extensão do que foi sua avó materna, Manuelina. “Uma mulher que me inspirou durante a minha vida toda foi a minha avó materna, que morreu quando eu tinha 17 anos (vítima de câncer de mama). Nunca conheci uma pessoa tão inspiradora, forte e feminista. Na época em que ninguém falava disso, ela me ensinou o lugar da mulher. Tinha uma visão de mundo muito à frente de seu tempo. Deixou o marido dela, com quem tinha quatro filhos, porque viu que não dava para ela, virou prefeita da cidade, fez baile da terceira idade para as senhoras poderem sair de casa e se divertir… Ela também apresentava fanfarra nas ruas, dava dinheiros para as pessoas mais pobres aprenderem a tocar instrumentos musicais, investia no teatro, escrevia poesia e viajava muito. Era uma mulher muito autossuficiente. Até hoje penso nela e peço para que esse sangue possa correr na minha veia para caso a coisa apertar eu possa ter a força dela.”

Você já disse em entrevistas anteriores que era muito moleca na infância e nem ligava ou entendia de moda. Hoje vemos uma Isis cada mais antenada neste universo. Como se deu essa mudança?
Na minha infância eu era grudada no uniforme. Usava basicamente calça jeans, camiseta branca e tênis. Não gostava muito de ousar e tinha timidez para descobrir meu estilo, não tinha paciência. Ao longo do tempo, a moda foi me encantando por ser mais uma forma de passar ideias, sensações e emoções. Comecei a conhecer mais as peças, a entender de combinações, a me encantar pela moda e hoje ouso mais. Vi que a moda não me obriga a usar algo que não eu me sinta bem. Não sou um cabide, não uso algo só por estar na moda. Tem pessoas que não se sentem confortáveis com o que vestem. Se não estou confortável com aquilo, não uso. O desfile da Dior foi a coisa mais linda do mundo. Teve muita fluidez, delicadeza e mostrou essa possibilidade de vestir alta-costura de forma confortável.

A maternidade modificou algo no seu modo de se vestir?
Mudou, principalmente na questão do salto. Agora, quando vou comprar sapato, dou três corridinhas pela loja, e vejo que se for muito alto ou desconfortável, não vai rolar. Meu filho está engatinhando e corro o tempo todo atrás dele. Então, estou fugindo de salto alto. Prefiro sempre uma rasteirinha, um tênis ou um salto médio. Também tenho usado mais calça do que vestido. A gente levanta e abaixa o tempo todo e tem o perigo de deixar o bumbum ou a calcinha à mostra. Em casa fico bem à vontade, de shortinho ou vestido, e sou daquelas que dorme com o camisetão do marido.

Presenças vips e parcerias com grandes marcas de roupas fazem cada vez mais parte do trabalho do ator. Hoje esse trabalho paralelo já faz grande parte da sua renda?
Não vejo como trabalho. Estou tendo prazer com isso. A Juliana (Mattoni, sua agente e assessora de imprensa) já me viu falar ‘não’ para esses convites. Mas nunca vai me ouvir dizer ‘não’ para gravação. Atuar é meu trabalho. Esses convites agregam ao artista e, de alguma forma, isso traz retorno. Mas não preciso me esforçar para fazer isso porque não é meu trabalho, é apenas algo prazeroso e gostoso. É um plus.

Vida de ator não é tão fácil e glamourosa como os telespectadores acreditam. Passou muito perrengue no começo para conseguir seu espaço?
Eu acredito muito em destino. Claro que se você ficar sentada em casa esperando, não vai acontecer, mas acho que se você se movimenta e aquilo é o seu destino, as portas se abrem. Minha mãe é atriz e eu comecei a atuar aos cinco, mas era amadora. Me mudei para o Rio de Janeiro aos 17 anos para estudar teatro e em nove meses estava fazendo a minha primeira novela, Sinhá Moça, do Benedito Ruy Barbosa. Não foi fácil. Eu era uma criança e sentia muita falta da minha família. Chorei muito. Mas meu pai me disse: ‘Você quer ser atriz? Então vai se virar sozinha’. Trabalhava como modelo pela Ford e alugava um quarto na casa de uma senhora, que não gostava que a gente circulasse muito pela casa. Comecei a fazer vários cursos porque queria me aprimorar. Sou muito perfeccionista. Entrei para o Tablado, que era bem difícil de entrar, e foi lá que uma pessoa viu o meu trabalho e começou a encaminhar meu composite para a Rede Globo. Passei a fazer vários testes na portaria 4 da Globo, com centenas de pessoas e fui chamada para a minha primeira novela. Daí, não parei mais e fiz novelas, séries e filmes. Aluguei um apartamento em Copacabana que ficava na frente do ponto do ônibus. Era tanto barulho que nem conseguia dormir. Mas a vida é assim. Se a gente conquista algo sem se esforçar e se dedicar, não valoriza. Então, não lamento nada que enfrentei durante o meu trajeto, pelo contrário, exalto tudo. É importante. E ainda acredito que o meu caminho não acabou. Quero crescer muito mais como artista. Tenho muito ainda que aprender e crescer. Tenho grandes exemplos como Fernanda Montenegro, que é uma mulher que sabe a idade que tem, que soube chegar nesta idade de forma bacana, que sabe atuar, apresentar e ainda tem uma participação social enorme. Também me inspiro em Gloria Pires, Meryl Streep e Julianne Moore.

Como foi a sensação de realizar o seu sonho de comprar a sua casa própria?
Eu digo que tinha o sonho de ver o céu. Morava em um apartamento na Barra da Tijuca e deitava de costas com as pernas encostadas nas paredes, me espremendo para poder ver o céu. Mas queria morar em uma casa. Apartamento me fazia sentir como em uma prisão. Vivia na rua para não ficar lá. Não pense que sou metida. Sou do interior e cresci em uma casa, onde abria a janela e olhava o céu, tinha um quintal, eu estava sempre em contato com a natureza… Então, o meu sonho era comprar a minha casa e ter o meu jardim. Há cinco anos comprei e foi tão mágico. Ela ainda precisava ser reformada. Quando cheguei, peguei uma marreta e dei a primeira marretada no chão. Foi aquela sensação de ‘é meu!’. Hoje tenho o meu jardim florido. É muito gostoso ter esse cantinho para criar o meu filho e dar a possibilidade dele ter esse contato que eu tive com a natureza, de botar a mão nas plantas, engatinhar no chão, ter contato com animais.

Você deu uma pequena pausa na carreira para cuidar do Rael. Sentiu muita falta do trabalho?
Senti falta e bastante. Quando não atuo fico angustiada, ninguém me aguenta, fico uma mala. Atuar é um remédio para a minha alma.

As mulheres que escolhem voltar para o trabalho quando ainda têm filhos pequenos em casa sofrem pressão ainda hoje. Como vê isso?
Eu vejo com grande tristeza. Chateada não por mim, mas pelas outras. Ser mãe é tão difícil! Você não nasce mãe. A maternidade é uma transformação eterna e dolorida. Você é mãe de um bebê, depois de uma criança, daí tem que aprender a lidar com um adolescente, depois com um adulto e, às vezes, com um idoso. Já existe tanta pressão interna para ser uma boa mãe e para suprir as necessidades do filho. Ter que ser julgada pelo outro é muito cruel. Faço questão de expor a minha maternidade de forma singular e mostrar que não existe um molde de mãe perfeita. Existem vidas e mulheres com diferentes necessidades. Acho muito cruel acusar ou dar indiretas nessa mulher que está exercendo o papel de mãe.

O bebê vem sem manual. Quais foram as principais angustias que enfrentou no começo?
Não conseguia dar banho nos primeiros dias e chorava. Minha mãe me deu o Rael peladinho com umbigo daquele jeito e eu não consegui pegar ele no colo. Tinha medo de derrubar, afogar ou puxar o umbigo do meu filho. Fiquei meio apavorada. Então, deixei ela dar banho nele por um tempo. Hoje é tranquilo. No final do ano, a gente estava no Copacabana Palace e ele fez muito cocô, sujou tudo. Peguei ele no colo, tirei toda a roupa, abri a torneira da pia e o lavei ali mesmo. Minha mãe ficou admirada com tanta agilidade e eficiência (risos).

Você teve uma rede de apoio no começo além de sua mãe?
Minha mãe ficou comigo dois meses, minha melhor amiga, que é madrinha do meu filho, também em ajudou muito e meus outros amigos também me deram uma força. Como eles sabiam que eu não podia sair de casa, faziam a festa aqui (risos). Mas no começo foi muito difícil. Quando a minha mãe teve que voltar para a casa, ele tinha dois meses. Lembro que senti uma maçã inteira descendo pela minha garganta quando ela disse que precisava ir embora. Quando ela se foi, desabei no choro. Pensei: ‘Meu Deus do céu, o que eu vou fazer com essa criança?’. Mas ao mesmo tempo foi o meu renascimento, foi saber que eu podia dar conta. O André também é um paizão! Sem ele não sei se isso seria possível. Desde a gestação, ele me ajuda muito. Quando eu estava na reta final e com um barrigão enorme, ele me levantava e me deitava na cama, me carregava pelas escadas… Depois ficou comigo no parto, mesmo não conseguindo ver tudo aquilo. Acordava comigo todas as noites e colocava almofada nas minhas costas enquanto eu amamentava o Rael. Ele ficou como um panda por causa das noites sem dormir. Hoje ele ainda me traz café na cama todos os dias, fica com o Rael sem reclamar ou cobrar, me apoia quando tenho que viajar a trabalho, me manda vídeos e fotos do meu filho para eu matar a saudades, que me fazem chorar horrores (risos)… Enfim, ele é o meu porto seguro, meu braço direito. Hoje somos nós dois e a babá.

Após se dedicar um período por completo à maternidade, sentiu a necessidade de buscar a sua individualidade e identidade?
Nunca deixei de olhar para mim. Não senti essa transição. O tempo todo eu estava ali presente. Às vezes, enquanto ele dormia, eu fazia uma maquiagem, botava uma roupa bonita – que manchava de leite, mas faz parte – fazia hidratação no cabelo, uma esfoliação ou chamava uma amiga para ficar na piscina comigo. Hoje, boto ele no colo e vou fazer as minhas coisas na zona sul. Esses dias fiquei o dia todo na rua com ele e em um momento, ele começou a chorar porque estava com dor de dente e ficou meio chatinho. Dá mais trabalho, mas é o jeito que encontrei. No fim das contas, ele adora sair de casa. No meu aniversário, ele dormiu naquela bagunça, no meio da pista, em um carrinho ao lado do pai. O povo gritando, o som alto e ele nem aí.

Ele é um bebê tranquilo então…
Tranquilo? (risos). Ele é Escorpião com Áries. É genioso. Quer as coisas na hora dele. Mas é muito fofo também e está aprendendo a me obedecer. Quando digo ‘não’, ele balança os braços duas vezes, mas entende.

Você vai voltar para as novelas agora em Amor de Mãe para viver uma enfermeira. Como tem sido a preparação para essa personagem?
Não posso falar muito da Betina ainda, mas tenho acompanhado de perto a rotina de hospitais, pediatria e CTI (Centro de Tratamento e Terapia Intensiva). Aprendi a manipular pessoas debilitadas, pacientes em coma induzido, a fazer soro, botar garrote, cateter, fazer a infusão de medicamentos no soro, como falar com um paciente, o tom para fazer o protocolo… Mas ainda não posso ver sangue na minha frente que desmaio. Quase desmaiei várias vezes durante esse laboratório. Faz parte e é importante passar por isso. Ganhei uma temperatura incrível para a personagem, que não é dramática, é trágica. Ela tem certeza que a morte vai acontecer e sabe lidar com isso.

O que nunca ninguém contou sobre a maternidade que você acha que as mulheres deveriam saber?
Que a maternidade não é um conto de fadas. Esse romantismo em torno da maternidade não existe. Depois que nasce, tem aquele período do puerpério, em que você acha que a vida acabou, chora, pensa que não vai dar conta, se sente culpada e pensa que não pode se sentir assim porque a maternidade é aquilo que vendem, da mulher linda na gestação, acordando sem olheiras, com o filho limpinho te esperando. A maternidade é pauleira! Mas existe, sim, a beleza de olhar para o seu filho e pensar: ‘fui eu que fiz’. É muito mágico quando ele olha no seu olho e interage com você.

A gente vê tantas histórias de partos complicados. O seu foi tranquilíssimo, né? Você deixou a maternidade no dia seguinte…
Foram nove horas de trabalho de parto e ele nasceu. Graças a Deus, não tive problema com o parto, que foi normal, e nem para amamentar. Orei muito e deu tudo certo!

Você demorou para sair com ele de casa e para mostrá-lo nas redes sociais. Tinha medo?
Achava o Rael muito pequeno e indefeso para isso. Não queria vários olhares para ele ainda. Ele era recém-chegado a esse mundo. O André também não queria. Quando ele fez quatro meses, a gente resolveu apresentá-lo e acabar com essa curiosidade. Mas não fico mostrando o meu filho toda hora no Instagram. Posto só quando não consigo resistir a uma foto. E ele ama uma câmera, acredita? Eu também amava uma câmera quando criança.

Qual a preocupação de criar um filho homem em uma sociedade machista?
É uma tarefa árdua. Peço muita ajuda das pessoas que já têm filhos, das minhas amigas. A conversa entre mães me ajudou muito quando o Rael nasceu. Quero ensinar o meu filho sobre igualdade, bondade, honestidade… Não vai ser fácil. É uma tarefa diária. Esses dias, ele deu um tapa na cara da babá e na hora eu o repreendi. Ele já tem onze meses e entende. Se você ri quando ele faz esse tipo de coisa, acha divertido, não ensina. Sou uma mãe muito justa. Não sou brava, mas não sou rédea frouxa. Não deixo ele me bater. Quando ele começa, já fecho a cara e falo ‘não pode fazer isso’. Tem que começar desde cedo a ensinar. Vou tentar dar o meu melhor para ele ser um bom cidadão.

Pensa em mais filhos?
O André quer três filhos. Quando nasceu o Rael, pensei: ‘já vou fechar a porta’. A gravidez aconteceu muito rápido. Agora nem consigo pensar em mais filhos. Só penso em criar o filho que já existe (risos).

Qual o seu maior sonho hoje?
Meu sonho enquanto profissional é fazer cada vez mais personagens incríveis, personagens fortes. Desejo crescer como artista e fazer mais novelas e cinema. Estou rezando pelo cinema crescer cada vez mais. Estamos em uma fase muito complicada do cinema, vendo essa decadência, essa falta de apoio e a arte sendo calada.

E o maior medo?
Meu maior medo está relacionado com o meu filho. Tenho medo de tudo! Sou uma mãe muito medrosa. Temo ficar doente e não poder cuidar dele, dele cair, ficar doente, dele não poder ter alguma coisa… Quando a gente se torna mãe, parece que toda a preocupação do mundo vai para aquela pessoinha. Mas além desse medo, temo não ser útil para o próximo. Sempre faço questão de estar envolvida em alguma causa. Ajudo a natureza, os animais, cuido de orfanato e ajudo pessoas que não divulgo. Gosto de fazer o bem para alguém porque isso faz bem para a gente e agrega. Tenho medo de me esquecer disso da minha vida e de um dia não ser mais útil para os outros. Mas sempre estou atenta a isso.

CRÉDITOS
Fotos: J.L. Bulcão
Stylist: Fernando Batista
Make: Carla Biriba
Looks: Dior

Fonte: Revista QUEM

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