Quase que “de repente”, aquele bebê que permanecia deitado o tempo todo começa a mostrar a que veio. A partir do terceiro ou quarto mês de vida, ele – do nada – sustenta a cabeça sozinho. Lá pelo quinto mês, rola. Sem você esperar, aos seis meses, ele senta. No oitavo mês, começa a se arrastar. E o tão aguardado primeiro passo chega perto de seu aniversário como um sinal de que aquele serzinho que dependia de você para tudo está conquistando a independência aos poucos. Certo? Sim e não.
Rolar, sentar, engatinhar e andar são os principais marcos do desenvolvimento infantil – e motivo de celebração para as famílias. No entanto, nada de comparações: apesar das previsões, cada bebê encontra seu próprio ritmo de evolução. Para as crianças com Síndrome de Down, esse espetáculo do desenvolvimento requer atenção e estímulos físicos, motores e neurológicos durante a infância para ajudá-las a otimizar todo o seu potencial.
Conforme explica a especialista em neuropediatria, a fisioterapeuta Camila Albues Melo Torres, em consonância com o Dia Internacional da Síndrome de Down (21.03), crianças com esse perfil genético apresentam um conjunto de caraterísticas bem definidas e quadros de saúde recorrentes que podem ser trabalhados – entre eles, o de hipotonia (diminuição da força e do tônus muscular), que favorece desordens de postura e de movimentos.
“Crianças com Síndrome de Down têm uma capacidade imensa de se reinventar. E, para que elas possam ter uma vida plena e feliz – ganhar autonomia –, precisam se desenvolver de maneira adequada. Neste sentido, a fisioterapia se torna uma aliada do desenvolvimento motor típico – sem atrasos. Para além desse ganho, ela contribui para uma melhora do desenvolvimento cognitivo, a prevenção de complicações osteomusculares e beneficia a qualidade do sono, entre outros”, ressalta.
INTERVENÇÃO PRECOCE – Entre os métodos mais avançados, está o conceito Bobath – que visa facilitar a coordenação motora e inibir posturas e movimentos inadequados. Criada pelo neuropediatra Karel Bobath e sua esposa, a fisioterapeuta Berta Bobath, a metodologia utiliza os reflexos e os estímulos sensoriais para evitar ou provocar respostas motoras – como, por exemplo, reações automáticas de proteção, endireitamento e equilíbrio. Além de fortalecer a musculatura, a técnica aprimora a coordenação motora pela aprendizagem da sensação do movimento.
“O conceito Bobath preza pela intervenção precoce. Quanto mais cedo a criança com Síndrome de Down contar com estímulos de padrões de movimentos, melhor será seu desenvolvimento – que pode chegar a atingir o máximo de suas funções. Para tal, é preciso entender o paciente como um todo para traçar objetivos terapêuticos voltadas para cada fase da vida da criança. E, caso ela não consiga atingir o marco, prever estratégias para melhorar esse quadro”, ressalta a fisioterapeuta, que possui capacitação em Bobath avançado pelo JP MAES da Inglaterra e pelo NTDI dos Estados Unidos .
Camila reforça que esse processo exige respeito e paciência. “Já trabalhei com bebês a partir dos 15 dias de vida e que tiveram um desenvolvimento perfeito. Mas, é preciso ter muita prática e consciência para tratá-los. Crianças com Síndrome de Down podem ter algumas doenças associadas – como cardiopatias. Isto requer uma sensibilidade muito grande por parte dos profissionais para entender que os programas de reabilitação dependem de cada criança. Também requer o engajamento dos pais para a continuidade no dia a dia”, sinaliza.