Falta de ração gera canibalismo em granjas de Mato Grosso

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Frangos e suínos confinados em granjas de todo o Estado já começam a praticar canibalismo por conta da falta de ração e da superlotação, reflexo da greve dos caminhoneiros, que chegou ao 9º dia nesta terça-feira (29). De acordo com Daniela Bueno, presidente do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), já são 22 milhões de aves com restrição alimentar, dentre as 85 milhões alojadas. No caso dos suínos que estão passando fome, são 2,5 milhões em todo o Estado.

Bueno explica que o canibalismo se dá por conta da situação de estresse do animal. O fenômeno ocorre com as aves bicando umas às outras e os suínos se mordendo, comendo pedaços uns dos outros e de si próprios. “Eles não se comem por inteiro. Eles começam a se morder. Em toda situação de estresse, tanto o suíno quanto a ave, têm a tendência de fazer o canibalismo bicando ou se mordendo, comendo orelha. O bem-estar animal deles realmente acaba porque vão se automutilando”, afirma.

De acordo com Custódio Rodrigues de Castro Júnior, diretor da Associação de Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), essa situação já ocorre em cerca de 200 granjas de suínos por todo o Estado. Além disso, conforme o Indea, mais de 850 mil ovos férteis já foram destruídos para evitar que novas aves tivessem que dividir espaço com as que já estão nas granjas, agravando a escassez de ração nos estabelecimentos.

A presidente do Indea destaca que todos os frigoríficos já estão paralisados em Mato Grosso devido ao fato de as câmaras frias estarem lotadas de carne estocada e as cargas que já sairam nas câmaras frias dos caminhões estarem paradas nas estradas.

O comitê de crise instalado pelo governo do Estado sugeriu a criação de um selo para identificar os caminhões que carregam alimentos para os animais e as produções perecíveis para que sejam liberados do bloqueio, seja por convencimento dos grevistas ou por escolta militar. Somente com o escoamento do que já foi produzido, a cadeia produtiva poderá ser retomada.

“A gente precisa tirar essa carne para que os animais que estão hoje morrendo por falta de alimento e por falta de espaço, tanto nas granjas de suínos quanto de aves, possam ser abatidos. É tudo uma cadeia”, disse Daniela Bueno. *Repórtagem de Celly Silva, repórter do GD

Indea vai identificar cargas com selo

Sem ração para os animais, devido à paralisação dos caminhoneiros, provoca mortes e canibalismo nas granjas de aves e suínos de Mato Grosso. Para resolver o problema, o setor agropecuário se reuniu nesta segunda-feira (28.05) com o Comitê Gestor de Crise do Estado e decidiu criar uma campanha de conscientização, que prevê a adesivagem de caminhões que transportam rações, carnes e animais para abate. Em Mato Grosso, a paralisação dos frigoríficos impede o abate de cerca de 16,5 mil bovinos por dia, segundo a Acrimat e a perda estimada é de R$ 35 milhões/dia.

No setor de suínos, são cerca de 11,5 mil abates diários e pelo menos 200 granjas já sofrem com o desabastecimento de ração, estima a Acrismat.

“Estamos tentando convencer. Quando não há o convencimento, é feita a escolta. Esse selo é para que se identifique que esse alimento está indo para animais, porque a base alimentícia é o milho, e ele pode ser usado na produção de etanol. Então temos que identificar colocar esse selo e convencer que é destinado aos animais”, explica Daniella Bueno, presidente do Indea.

Custódio Rodrigues, diretor-executivo da Acrismat, explica que a crise da suinocultura que já era acentuada aumentou.

“Os frigoríficos estão completamente abarrotados e as carnes que saem não andam. Especificamente, o suinocultor e avicultor estão sofrendo, porque não conseguimos buscar a ração e já tem casos de canibalismo praticamente em todo o Estado”.

Luciano Vacari, diretor da Acrimat, destaca que Mato Grosso é o maior exportador de carne do Brasil e contratos não têm sido cumpridos desde o início dos protestos.

“Temos dificuldade de colocar o nosso produto nos portos e nos supermercados. Estamos preocupados com o produtor que precisa abater e não tem conseguido. Tentamos essa solução para escoar esse produto”.

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