Esses animais têm pigmentação reduzida e alguns são transparentes, sem qualquer condição de viver a céu aberto.
Por Rogério Júnior e Emilly Cassim, TV Centro América
Os animais da espécie troglóbia, que só vivem em cavernas, são pouco estudados e estão sob ameaça porque o habitat natural deles é restrito, afinal eles não sobreviveriam fora das cavernas. Isso é o que aponta o biólogo e especialista em fauna subterrânea Rodrigo Lopes Ferreira.
Por viverem somente no subterrâneo, esses animais são os mais ameaçados de extinção. Além das cavernas em Mato Grosso, essa espécie também pode ser encontrada em outras regiões.
“A espécie troglóbia é conhecida de uma única caverna [no estado], são muito endêmicas. Então, se aquela caverna for impactada e aquela população desaparece, a espécie inteira é extinta”, explicou.
Os animais desta espécie têm pigmentos que vão se reduzindo ao longo da vida e outras estruturas do corpo vão se alongando, como as antenas.
“Às vezes ficam completamente despigmentadas ou até mesmo albinas. Elas reduzem estruturas oculares também, muitas vezes tem olhos reduzidos ou até mesmo ausentes, ficam com antenas alongadas, pernas, barbilhões de peixes, justamente para perceber melhor esse ambiente. As troglóbias são as mais ameaçadas, porque como o único habitat delas é o ambiente subterrâneo”, contou.
Segundo Ferreira, existem mais de 22 mil cavernas registradas no país. Para ajudar na preservação dessa biodiversidade, ele recomenda que o primeiro passo seja estudar esses ambientes.
“Eu acho que a primeira coisa é a gente de fato, estudar esses ambientes, descobrir onde eles estão e como eles são”, disse.
Atualmente, existem mais de 250 espécies descritas e que vivem estritamente no ambiente subterrâneo no país. Para o biólogo, esse número tende a crescer conforme mais pesquisas são feitas na área.
Classificação
Segundo ele, os animais que habitam as cavernas podem ser classificados em quatro categorias. O primeiro grupo desta categoria são chamados de “acidentais”. De acordo com Ferreira, são aqueles organismos que não são cavernícolas verdadeiros, ou seja, entram na caverna por acidente.
A segunda classificação são de trogloxenos, que usam o ambiente cavernoso para alguma finalidade, como abrigo, por exemplo. Na terceira denominação, são troglofilos, sendo capazes de completar todo o ciclo de vida em um ambiente subterrâneo. Eles podem nascer, crescer, se desenvolver e se reproduzir neste tipo de habitat. Contudo, os troglofilos podem sair e viver a céu aberto, segundo Ferreira.
Essa é a principal diferença dos troglofilos para as troglóbias.
“Então, as primeiras pessoas que passaram adentrar cavernas, eles viram que existe uma variedade muito grande de formas de vida lá dentro, com níveis diferentes de especialização ao ambiente subterrâneo. Lembrando que cavernas são ambientes escuros, permanentemente escuros, você não vai ter fotossíntese acontecendo lá dentro, então, não tem produtividade primária via fotossíntese. São ambientes com menos alimento do que fora dela”, disse.
Segundo Ferreira, uma estratégia para evitar colocar essa espécie em risco seria a adoção dos planos de manejo.
Em Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá, Ferreira fez vários trabalhos pelas cavernas da região e observou que a visitação dos turistas nestes locais poderia representar um risco a essas espécies específicas e, também, aos próprios visitantes.
“A caverna Aroe Jari, que já era visitada há muito tempo, houve a necessidade de regulamentar, por assim dizer, essa visitação e para isso servem os planos de manejo. Eles são obrigatórios quando se tem algum tipo de uso previsto para essa caverna, e o turismo é exatamente isso. O plano é para proteger, tanto a caverna, em relação aos impactos que a visitação pode causar a ela, quanto aos próprios visitantes. Então, essas duas coisas acabam sendo importantes para serem verificadas e compor um bom plano de manejo”, explicou.