Após aprovação do “combustível do futuro”, expectativa é que Brasil terá investimentos de R$ 200 bilhões em novos projetos
Por Humberto Azevedo
“Cada região do nosso Brasil produz etanol a partir de um produto, produz biodiesel e isso significa que é mais um passo para o Brasil retomar o crescimento econômico”
Após a aprovação da proposição apelidada de “combustível do futuro” pela Câmara dos Deputados na última quarta-feira, 11 de setembro, o relator da iniciativa – deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) – afirmou com exclusividade para o portal “RDMNews”, que a expectativa é que Brasil terá investimentos, praticamente imediatos, da ordem de R$ 200 bilhões em novos projetos para acelerar a transição energética dos combustíveis produzidos a partir da matéria-prima de origem do petróleo para os combustíveis produzidos por meio de vegetais como a cana-de-açúcar, mamona, milho, soja, dentre outras.
“Os princípios da nova industrialização do Brasil, quando eles foram anunciados pelo governo, eles têm no marco das energias renováveis um dos eixos”
A proposta, já remetida à sanção do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deverá sancioná-la nos próximos dias. Na oportunidade, o parlamentar paulista destacou ainda o caráter consensual de como o projeto foi aprovado pelos deputados. Segundo ele, isso demonstra que a iniciativa não é uma ação de um governo “a”, ou “b”, é um modelo de país e que foi tratado desta forma, seja pelos parlamentares governistas, ou do campo da oposição. Com relação à expectativa do ingresso dos R$ 200 bilhões no país para ampliar o setor, Jardim ressaltou que isso já é “uma perspectiva já confirmada”.
“Nós já temos um avanço muito grande de produção de energia a partir da biomassa (…) nós temos biomassa que sobra, que produz e que nos permite impulsionar neste sentido. Um feito extraordinário!”
“Nós tivemos hoje [quarta-feira, 11 de setembro] um fato muito importante. A matéria foi aprovada por consenso e isso me dá uma garantia de que não é algo momentâneo, de governo. Mas é uma política de Estado. Então, independente, de governo, ela representa uma escolha de país, um rumo para o país, um eixo para o desenvolvimento do nosso país”, comentou o deputado para a reportagem de maneira alegre e de maneira muito efusiva.
“O Brasil não é um algoz ambiental. O Brasil tem a legislação ambiental mais rigorosa do mundo. (…) O Brasil será a vanguarda da nova economia, economia verde e de baixa emissão de gases de baixo carbono.”
Também muito ligado ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), de quem foi secretário de Agricultura à época em que o ex-tucano governou o estado de São Paulo, Arnaldo Jardim destacou ainda que o “combustível do futuro” tem muita relação com o programa da Nova Indústria brasileira que o vice-presidente está a frente no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
“O fato de termos aprovado por consenso, diz bem do grau de adesão – que eu fiquei muito feliz porque o parecer que eu apresentei conseguiu ter aqui [um amplo apoio] do conjunto dos partidos da Câmara”
Arnaldo Jardim é ainda um dos vice-presidentes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), também conhecida como “bancada ruralista”, e um dos principais nomes de elo de ligação do setor agropecuário com o governo Lula III.
“Nós temos que caminhar para cada vez mais ter cuidados ambientais e termos energias renováveis. (…) Imagina, você, se nós não tivéssemos o biodiesel? (…) Imagina, você, se em São Paulo, onde a mistura do etanol à gasolina é de 60% nos veículos leves. (…) seria muito pior”
Abaixo, segue a íntegra da entrevista exclusiva concedida por Arnaldo Jardim ao portal “RDMNews”.
RDMNews: Deputado Arnaldo Jardim, qual a importância da aprovação e envio a sanção deste projeto do “combustível do futuro”?
Arnaldo Jardim: O Brasil tem uma história extraordinária nos biocombustíveis, que são os combustíveis renováveis, combustíveis com o menor impacto ambiental e combustíveis diferentes dos combustíveis fósseis, durante todo o seu processo, geram empregos e ativam a economia. Tudo isso já faz parte da nossa história, mas hoje com a aprovação aqui na Câmara, indo à sanção, nós vamos tornar isso mais vigoroso ainda. Os primeiros estudos indicam, que diante da perspectiva de ampliar o uso do etanol, do biodiesel, do biometano, do biogás, e tudo mais, nós temos uma perspectiva já confirmada de R$ 200 bilhões em novos projetos para ampliar plantas atuais, ou para criar novas plantas. Isso é extraordinário! Isso impacta diretamente no desenvolvimento econômico, traz um benefício ambiental extraordinário, permite que o Brasil se consolide como vanguarda da nova economia, da economia verde, e cria todo o impulso do ponto de vista social. Por que isso significa emprego, renda, distribuído ao longo do país, e não concentrado. Cada região do nosso Brasil produz etanol a partir de um produto, produz biodiesel e isso significa que é mais um passo para o Brasil retomar o crescimento econômico.
RDMNews: Esse projeto tem tudo a ver com a Nova Indústria, que busca reindustrializar o país, e é tocado pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, não?
Arnaldo Jardim: Sem dúvidas. Os princípios da nova industrialização do Brasil, quando eles foram anunciados pelo governo, eles têm no marco das energias renováveis um dos eixos. Isso significa equipamentos novos, significa inovação tecnológica. Tudo isso está muito frisado, do ponto de vista da nova política industrial, com o processo que nós estamos vivendo aqui.
RDMNews: Na década de 70, havia uma Secretaria do ex-ministro Severo Gomes do governo do ex-presidente militar, Ernesto Geisel, que era chefiada pelo físico José Walter Bautista Vidal em que foi criado o Programa do Álcool combustível (Pró-Álcool), que hoje é esse sucesso no Brasil e no mundo. Mas na época, duas décadas depois, o Bautista Vidal destacava a importância e a necessidade dos investimentos em energia de biomassa, em que seria um fator fundamental para o desenvolvimento da Amazônia e dos demais biomas brasileiros como a Caatinga, a Mata Atlântica, o Cerrado, o Pantanal e os Pampas. Assim, esse projeto do “combustível do futuro” vai fazer com que isso seja acelerado, não?
Arnaldo Jardim: Sim, sem dúvidas. Nós já temos um avanço muito grande de produção de energia a partir da biomassa, que se faz pela utilização do bagaço da cana em São Paulo, pela palha do arroz no Rio Grande do Sul, pelos restos da exploração da silvicultura em Mato Grosso, por aquilo que se faz com a cultura do cacau na Bahia. Estou citando exemplos como estes, onde nós temos biomassa que sobra, que produz e que nos permite impulsionar neste sentido. Um feito extraordinário!
RDMNews: Como que o Sr. avalia este novo cenário da geopolítica do que está acontecendo no mundo, esta mudança que está acontecendo no mundo, e nisso essa mudança da matriz energética, qual é o papel do Brasil?
Arnaldo Jardim: De liderança. O Brasil não é um algoz ambiental. O Brasil tem a legislação ambiental mais rigorosa do mundo. O Brasil tem a matriz energética mais limpa do mundo. Tem uma matriz de biocombustíveis absolutamente diferenciada e esse projeto ao lado do marco do hidrogênio verde, que nós já aprovamos, entre outras legislações, nos permite um avanço muito significativo neste sentido. O Brasil será a vanguarda da nova economia, economia verde e de baixa emissão de gases de baixo carbono.
RDMNews: O projeto acabou deixando de fora algumas alterações que tinham sido feitas no Senado. A retirada destas iniciativas não prejudica o projeto “combustível do futuro”?
Arnaldo Jardim: Bem, a maior parte das alterações feitas no Senado foram por nós incorporadas. O Senado fez 22 emendas, nós aprovamos 16 destas emendas. Está certo? Aquela [emenda] que causou mais repercussão foi uma que não era referente a matéria do ‘combustível do futuro’. E havia uma emenda que ela discutia sobre microgeração [de energia] estendendo prazos de uma lei anterior já aprovada aqui. Então, ela não foi aprovada. Há pessoas que são a favor, outras são contra, e isso é natural. Mas nós decidimos não aprovar isto porque não tinha a ver com a matéria. As outras mudanças foram mudanças pontuais, que nós achamos que o texto da Câmara, original, estava melhor. Então, o Senado contribuiu muito. O relator lá foi o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), que trouxe belas sugestões ao projeto. Mas o fato de termos aprovado por consenso, diz bem do grau de adesão – que eu fiquei muito feliz porque o parecer que eu apresentei conseguiu ter aqui [um amplo apoio] do conjunto dos partidos da Câmara.
RDMNews: Para encerrar, o Brasil está ardendo em chamas por conta das inúmeras queimadas que ocorrem em quase todo o território nacional, e esse projeto do “combustível do futuro” e as regras do hidrogênio verde que já foram estabelecidas, pode ajudar a enfrentar e a mitigar esses problemas?
Arnaldo Jardim: Eu não vou fazer esta associação porque eu acho meio forçada de barra aí, mas é lógico que no Brasil, nós temos que caminhar para cada vez mais ter cuidados ambientais e termos energias renováveis. Então, eu acho que isso contribui. Outro dia saiu uma matéria sobre o ar da cidade de São Paulo (SP), dizendo que a cidade de São Paulo estava com um grau de poluição muito acentuada.
RDMNews: O pior ar do mundo.
Arnaldo Jardim: O pior do mundo. Imagina, você, se nós não tivéssemos o biodiesel? Se na cidade de São Paulo fosse só diesel em caminhões e ônibus. Imagina, você, se em São Paulo, onde a mistura do etanol à gasolina é de 60% nos veículos leves. Ou seja, tudo que se utiliza, [o etanol], se nós não tivéssemos [isso], seria muito pior.