Poucas coisas conseguiram descontentar a tantos como ocorreu com a viagem de Bolsonaro a Israel. Descontentou os israelenses que esperavam uma atitude maiúscula do governo, transferindo a embaixada, como prometera anteriormente, mas ao invés disso, como uma criança, voltou atrás ao ser alertado dos riscos de tal atitude impensada. Em campanha se promete tudo, mas no governo se realiza pouco. Particularmente considero um erro crasso realizar tal ação política, um desrespeito à comunidade internacional, uma provocação e hostilidade desnecessária, que nos afasta das demais nações da região sem aproximar mais dos israelenses, visto que não havia nada que nos afastava dos mesmos.
Descontentou os evangélicos que também queriam que se realizasse essa mudança, devido a alguma interpretação mística das escrituras que parece defender que Israel controle Jerusalém. Descontentou os palestinos, pois claramente se colocou favorável a Israel e contrário a Palestina. O governo Bolsonaro nitidamente tomou partido de um lado, e já não pode mais pretender intermediar as negociações pela paz. Enfim, fazendo jus a sua fama, o Brasil decididamente não é um país sério. Nem confiável! Sabe-se lá até quando vai se manter nessa posição….. Os governos mudam.
O Brasil está deixando de ocupar um lugar de intermediação e de recepção das causas internacionais, para ser um país que só se interessa por si mesmo, uma cópia mal feita dos Estados Unidos,
Descontenta as pessoas razoáveis fazendo afirmações absurdas, que envergonham o cidadão que possui algum tipo de conhecimento, afirmando que o nazismo é de esquerda, quando todas as evidências mostram que ele surgiu para lutar contra o comunismo e acabou matando judeus, ciganos, homossexuais, além dos comunistas, e sabe-se lá o que mais matou. Nega o que está escrito no monumento aos seis milhões de judeus mortos que visitou em Israel, que afirma categoricamente que era um movimento de direita que surgiu para combater o comunismo. Nega a Segunda Guerra, quando milhões de soviéticos morreram para combater o nazismo. Parece que a realidade é desprezível, o que importa para o ignorante do ministro e ao tolo do presidente são suas crenças pessoais. O mundo está abismado com tanta tolice e posições execráveis do presidente e de boa parte dos seus ministros, que desconhecem história e a realidade.
Suas posições defendendo ditadores de direita e só condenando ditadores de esquerda, menosprezando as barbaridades cometidas por esses regimes, seu discurso infantil, ignorante, raso sobre os fenômenos sociais e humanos, defendendo causas atrasadas, primitivas, sua atitude de ficar falando mal da esquerda, mas sem nada fazer para melhorar o país, é algo que está começando a cansar a todos. Aceitamos que as pessoas errem algumas vezes, que errem na tentativa de acertar, mas só errar sem saber de fato o que fazer para além das mensagens de twitter, cansa e se esgota o capital político, que é sempre volúvel.
O governo precisa se dar conta que a esquerda já não governa e que ele tem que começar a governar; não há inimigos ideológicos a serem vencidos (derrotados na eleição), mas problemas reais difíceis de serem solucionados. Da educação à segurança, da economia à infraestrutura tem muita coisa para ser feita, e ao que parece, sem pessoas competentes para realizar essas tarefas. Talvez, o governo Bolsonaro possa achar que está realizando grandes gestos diplomáticos, por marcar uma posição radical contra a corrente majoritária do planeta, contra uma posição comum tomada pelo conjunto de nações.
De concreto, no entanto, além do decréscimo de importância na arena mundial do país, alguns reles acordos econômicos. O Brasil está deixando de ocupar um lugar de intermediação e de recepção das causas internacionais, para ser um país que só se interessa por si mesmo, uma cópia mal feita dos Estados Unidos, mas sem autonomia econômica e poder político do mesmo.
ROBERTO DE BARROS FREIRE é professor do Departamento de Filosofia da UFMT.