Curso de Braille capacita professores e comunidade para auxiliar deficientes visuais

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Da redação (com informações da assessoria)

 

O Sistema Braille é um código de escrita utilizado por deficientes visuais com combinações de pontos que formam letras, algarismos e sinais de pontuação. À primeira vista, a complexidade de combinações parece dificultar o aprendizado. Mas na capacitação realizada pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) os participantes descobriram que, para aprender a ler e a escrever em Braille, só dependiam de vontade, memorização e prática. E, claro, de instrutores com domínio do sistema e da metodologia de ensino.

Ministrado pelo servidor público Manoel Pinto de Moraes, o curso de sistema de leitura e escrita em Braille é um dos programas de qualificação oferecido todo ano pela Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça, um dos equipamentos administrados pela Secel.

Manoel atua há mais de 31 anos na Biblioteca e, além do jeito prestativo de ensinar, possui uma peculiaridade que contribui para o ensino do método. Ele é cego desde os seis anos de idade. Com a ajuda da estagiária de pedagogia Jucinéia Lopes, Manoel multiplica o conhecimento que obteve ainda criança quando foi alfabetizado pelo Sistema Braille no Instituto Sul-mato-grossense para Cegos.

“Eu sinto que estou levando um importante conhecimento pra frente. Muita gente já passou pelo curso nesses anos que estive por aqui e é um orgulho saber que estou ajudando professores e universitários a atenderem as necessidades e desenvolverem as habilidades de seus alunos. E o curso está sendo muito bom, eles estão conseguindo pegar, eles conseguiram aprender os números, as letras, todos vão sair bem preparados”, celebra Manoel.

Manoel Pinto de Moraes em atendimento na Biblioteca Pública Estadual – Foto: Menghini – Gcom/MT 

Com 40 horas de duração, de 1º a 15 de abril o curso capacitou professores da rede de ensino básico e comunidade em geral para a mediação do acesso à leitura, estudo e pesquisa a pessoas com deficiência visual. Dados do censo 2010 do IBGE mostram que em Mato Grosso mais de 452 mil pessoas possuem alguma dificuldade visual e mais de 5 mil não conseguem enxergar de modo algum.

Para o participante Jefferson Luiz de Farias, professor da rede municipal, a decisão de se inscrever no curso de braile foi motivada pela vontade ajudar o contingente de crianças que possuem deficiência visual. Professor Farias, como é mais conhecido, é também intérprete de libras da rede estadual de ensino, fato que facilitou o processo de memorização do sistema Braille. No entanto, enfatiza que há somente um impacto inicial para identificar cada letra e número, e que o segredo é decorar.

“Depois de quase 15 dias de aula conseguimos escrever em braille com facilidade. O processo de leitura é um pouco mais difícil principalmente pelo fato de não sermos deficientes visuais, nós nos guiamos pela visão, mas com o  tempo e prática vamos aprender a ler por meio do tato”, explica Farias.

Professor Jefferson Luiz de Farias praticando as atividades em braille desenvolvidas durante o curso  Foto: Ahmad Jarrad – Secel/MT

Com o uso da reglete, uma régua com espaços chamados celas contendo duas colunas de três pontos cada uma, e da punção, um material com ponta em aço para a marcação, os participantes do curso descobriram como usar os pontos para fazer 63 combinações diferentes e formar palavras e números da simbologia utilizada na escrita e leitura de uma pessoa não cega. Também aprenderam que, com a reglete, a escrita deve ser feita da direita para a esquerda, porque as palavras são lidas pelo relevo que é formado ao se afundar a punção no papel.

Durante a capacitação, Manoel sempre pergunta se alguém tem alguma dúvida, oferece algumas dicas e lembra os espaços e sinais de pontuação. Solícito e com uma didática que simplifica a instrução, ele consegue repassar o conhecimento do código Braille sem dificuldade.

A estudante do 3º ano de pedagogia da UFMT, Isabella Cunha, resume o sentimento da classe quanto aos ensinamentos do Manoel. “É um instrutor maravilhoso, a gente entende tudo que ele explica, e o fato da gente ter um contato diretamente com um deficiente visual ajuda mais ainda”, elogia.

Isabella, assim como a maioria participante do curso, teve interesse em estudar o Sistema Braille para ajudar outras pessoas, seja na vida pessoal ou profissional.  Todos estavam em busca de assimilar as especificidades da alfabetização por meio desse sistema para realizar com êxito a tarefa de auxiliar o próximo.

O Sistema Braille

Idealizado por Louis Braille, na França, em 1819, o sistema é um processo de escrita e leitura baseado em 64 símbolos em relevo, resultantes da combinação de até seis pontos dispostos em duas colunas em espaços chamados celas na reglete.

O sistema Braille permite a representação de letras, algarismos e sinais de pontuação. É utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão. Para escrever, usa-se a linha da direita para a esquerda, fazendo o relevo. Na leitura se vira o papel para que o relevo fique na superfície e assim possa ser sentido/lido pela pessoa cega ao passar a mão sobre os pontos.

Atualmente o Braille está difundido pelo mundo todo e simboliza um importante avanço para a acessibilidade das pessoas com deficiência visual.

A Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça disponibiliza mais de 2 mil volumes em Braille, bem como a digitalização e conversão em áudio (MP3) para atender as pessoas com deficiência visual em seus estudos e pesquisas.

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