“Eu conto ou você conta?”. Meus amigos carinhosamente me trolavam pela atitude automática de pegar o canudinho deixado pelo garçom na mesa. “As tartarugas no oceano vão comer o canudo, Juju”, completaram. O suficiente para a pessoa aqui que mora a mais de dois mil quilômetros da praia pousar o canudo de volta à mesa. E por mais distante que pareça, na natureza é assim mesmo: tudo que fazemos aqui, reverbera em algum lugar.
O tal do canudo virou o símbolo da luta por um mundo com menos plástico. E se pararmos para pensar: qual é a lógica de usar o tubinho derivado de petróleo se é possível beber no copo? Dei um Google para saber qual a explicação para usarmos o canudo e surgiram mesmo foram centenas de matérias imbuídas da missão de convencer os consumidores a deixá-lo de lado.
E não é pra menos, o plástico realmente virou um problema. Um estudo feito pelo Fundo Mundial da Natureza (WWF, sigla em inglês) mostra que o Brasil é o 4o. Maior produtor de lixo do mundo e recicla apenas 1% disso. E se formos falar em cidades como Cuiabá e Várzea Grande que ainda se debatem para ter ao menos um aterro sanitário, eu não quero nem pensar na quantidade de plástico que as capivaras, onças, jacarés e pintados do Pantanal precisam conviver todos dos dias. Afinal, tudo que fazemos aqui na cidade, reverbera em algum lugar.
Não recolher o plástico para reutilização ou reciclagem é manter na natureza por séculos um produto que foi utilizado por poucos meses ou até por poucos minutos, caso do famigerado canudinho. E há alternativas para conter isso. Uma delas é justamente a logística reversa já prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos, que caminha a passos lentos. O que na prática quer dizer que se você, indústria, gerou o plástico, precisa encontrar alternativas para cuidar dele.
O melhor exemplo de logística reversa vem do agronegócio. Não vou aqui entrar no mérito do tipo de produto que esses invólucros carregam o que importa é honrar um bom exemplo. Desde 2002, a união de toda a cadeia do setor possibilitou a retirada do meio ambiente e destinação adequada de mais de 500 mil embalagens de agrotóxicos vazias.
Ainda que de maneira isolada, começam a surgir iniciativas para aplicação da logística reversa nos produtos que consumimos no dia a dia. Na indústria cosmética, já é comum encontrar fabricantes que se comprometem a comprar de volta e reciclar volume equivalente de plástico colocado no mundo afora. A indústria de bebidas incentiva startups a desenharem modelos para recolher e dar o destino certo para embalagens, especialmente o vidro, que é 100% reciclável. Eu, particularmente, dou preferência por essas marcas que já se mostram mais engajadas com a sustentabilidade.
Consumidores mais atentos já separam o lixo, o que é super válido, mesmo em cidades que ainda não possuem aterro sanitário, como a capital mato-grossense. Afinal, além de ajudar a natureza, você ajuda o catador que se expõe aos mais variados riscos no lixão em busca de recicláveis. Deixando tudo separado, os riscos diminuem. Ter sempre à mão um copo reutilizável, evitar sacolas plásticas e beber direto no copo também trazem grandes benefícios ao Planeta.
Seja consumidor, comerciante, fabricante ou produtor, nos mais variados níveis de responsabilidade, nos tornamos todos eternamente responsáveis pelos plásticos que criamos, consumimos e deixamos na natureza.
Juliana Carvalho é Jornalista e Mestre em Comunicação pela Université Stendhal