Certo dia um paciente me procurou querendo melhorar o aspecto de cansaço, que ele julgava ter. Disse que estava trabalhando em home office, arquiteto ele apresentava os projetos para os clientes de forma online e esclarecia todas as dúvidas. Porém começou a ter um feedback inesperado dos clientes que falavam que ele não parecia entusiasmado com a própria criação, estava com aspecto de esgotamento. Meu paciente tentou mudar o jeito de abordagem, mas percebeu que o problema não era interior, mas sim exterior.
Depois dessa conversa conseguimos levantar o olhar e melhorar a expressão facial dele. Daí pra frente fui percebendo uma procura por procedimentos no rosto após videoconferências, reuniões onlines, as pessoas começaram a se olhar no vídeo e notaram mais o que as incomodava.
Com a pandemia, eu e também muitos colegas dermatologistas que trabalham com a estética tivemos receio de perder renda, pacientes e até mesmo de ter que fechar as portas, mas esse momento trouxe um olhar individual da sociedade para as “imperfeições” no corpo e rosto.
No ano de 2020 o setor da estética teve um faturamento maior do que o registrado em 2019. Ou seja, mesmo em período de quarentena, o mercado da estética ganhou mais dinheiro do que no ano anterior ao ano da pandemia.
Um estudo que foi realizado pela empresa Allergan, em uma parceria com a Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD e com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – SBCP, mostrou que, pelo menos, 82% dos brasileiros têm o desejo de mudar alguma coisa estética no rosto. Aí você pode pensar, bom para o médico né? Não só para o profissional, mas para o paciente também.
A relação médico/ paciente ficou mais íntima, mais próxima e sólida. A confiança passou a ser ingrediente principal da relação, a responsabilidade do médico também aumentou.
Pensemos! Já imaginou o impacto de mexer no rosto de alguém e “estragar” de alguma forma o que já era bom? Num momento como esse, no qual as emoções estão à flor da pele e as incertezas do futuro são maiores. Isso é inconcebível para nós médicos, por isso o critério ficou maior e o freio mais profundo.
Já tive que falar para o paciente não mexe desse tanto na sua boca é tão linda, você nao vai querer o aspecto artificial que três ampolas de preenchimento vão trazer para seus lábios! Nem tudo é lucro, o dinheiro é consequência de uma boa colheita e só se colhe bons frutos quando se planta boas sementes.
As incertezas diante da pandemia, o cenário de dor e saúde fragilizada, sentir-se bem é um ato que favorece a saúde mental. Já que a autoestima influencia bastante na qualidade de vida. Percebo também que uso da máscara acaba encorajando aqueles que querem passar despercebidos após um procedimento estético, assim conseguindo uma recuperação mais silenciosa.
A grande dica é não busque a perfeição, procure estar bem consigo mesmo, busque felicidade, bem estar e satisfação. E, claro, cuidado com aqueles profissionais que só irão te ver como cifrões e não como um paciente.
Dra Paula Cordeiro – Médica Dermatologista e Membro Titular da SBD