O anúncio oficial da contratação de Jean pelo Atlético Goianiense teve efeito colateral imediato. De acordo com jornalistas de Mato Grosso, deu mais coragem para a diretoria do Operário Várzea-grandense fechar de vez com o goleiro Bruno.
Os dirigentes estavam sendo massacrados pela negociação com o jogador que cumpre pena de 20 anos e nove meses, em regime semiaberto. Pelo homicídio de Eliza Samudio, sequestro e cárcere privado do filho.
O crime de ocultação de cadáver, acabou prescrevendo, sem ser julgado em segunda instância. Vexame para a lenta justiça brasileira. A morte aconteceu em 2010. Bruno tenta retomar a carreira como goleiro.
Em 2017, sobre revoltados protestos, jogou cinco partidas pelo Boa Esporte de Minas Gerais. Voltou para a cadeia. Agora busca voltar a jogar. Por pressão da sociedade, não fechou com o Poços de Caldas, com o Fluminense de Feira de Santana, Barbalha do Ceará, Sinop.
A jornalista Jessica Senra teve um veemente discurso contra a contratação do goleiro pelo Fluminense de Feira de Santana.
Ele repercutiu e serviu para atrapalhar a contratação.
“Uma pessoa que cometeu um erro, que já pagou por ele em termos judiciais, precisa poder refazer sua vida. E, legalmente, não há nenhum impedimento para que ela exerça qualquer profissão para qual esteja habilitada. Mas, no caso do feminicida Bruno e a profissão de atleta, eu quero questionar você que está aí do outro lado: isso é moral?”
“Desejamos e precisamos que pessoa que cometem crimes tenham a possibilidade de refazerem suas vidas. Mas diante de um crime tão bárbaro, tão cruel, poderíamos tolerar que o feminicida Bruno voltasse à posição de ídolo? Que mensagem mandaríamos à sociedade?”
“Atletas são referências para crianças, adultos, são ídolos. Contratar para um time de futebol um assassino, um homem que mandou matar a mãe do seu filho, esquartejar e dar para os cachorros comerem é um desrespeito a todas nós mulheres, a todas as crianças e adultos que cresceram sem mãe por causa de homens desprezíveis que tiraram vidas de mulheres.”
“Assim, quando a gente condena judicialmente, mas tolera socialmente a convivência, o recado dado é que aquela atitude não é tão grave. Portanto, na minha visão, o feminicida Bruno pode e deve voltar a trabalhar e refazer sua vida, mas não na posição de ídolo, não alçado socialmente a uma posição de admiração. O time de futebol que contrata um feminicida como o Bruno é tão desprezível quanto os crimes que ele cometeu.”
As palavras foram perfeitas. Serviram para barrar Bruno em Feira de Santana. Mas não para o Operário. O diretor de futebol, Roberto Moraes, é um dos donos do Boa Esporte. E acompanhou todo o sucesso de mídia que o clube mineiro teve, em 2017, com a contratação de Bruno. Ele já estava disposto a enfrentar a mídia, os protestos, a sociedade.
Só que ganhou mais fôlego com a contratração de Jean, pelo Atlético Goianiense. Ele agrediu a esposa Milena com oito socos na frente de suas duas filhas pequenas.
Bruno, 36 anos, aceitou o salário de R$ 6 mil. A efetivação da contratação está adiantada. Basta a justiça aceitar que ele cumpra a pena no Mato Grosso e não mais em Minas Gerais.
Como o motivo é trabalho, não deverá haver obstáculo. O Operário vai disputar o Campeonato Mato-grossense, Copa do Brasil e a Série D. O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso divulgou nota de repúdio à possível contratação de Bruno “Trata-se de alguém que demonstrou profundo ódio e total desrespeito às mulheres ao tratar dessa forma cruel e bárbara aquela que seria a mãe do seu filho”, divulgou.
Roberto Mores não se impressionou com os protestos em Varginha, quando Bruno fechou com o Boa Esporte. E também não se impressionou com a nota de repúdio. Nem pelos milhares de protestos nas redes sociais. Ele quer Bruno e a mídia que ele ‘agrega’.
Hoje, o Operário é um clube coadjuvante, da Quarta Divisão, esquecido da imprensa nacional. Por isso, quer Bruno. E quer usar a contratação de Jean para provar que ‘todos têm o direito à uma segunda chance”. Que não há mal nenhum que o assassino Bruno volte a jogar futebol. Profissão que serve de exemplo para milhões de crianças no país.
Fonte: R7