Da redação (com informações da assessoria)
“É dgente de quem? Dgente de dona Matilde!” O enredo garantiu nota máxima em todos os seis quesitos avaliados e sagrou o grupo Flor do Campo como o campeão do 13º Festival de Siriri de Cuiabá, na segunda-feira (20). O trabalho do grupo ganha tom atual com o complemento do tema: “Das ruínas a igreja de são Benedito, de Tereza a dona Matilde, melodiado por Clara Nunes, a mulher negra insiste e persiste em cultivar sua cultura, resistências para cantar, e o siriri poder dançar!”
Em noite de expectativas altas e ânimos acirrados, participantes das oito comunidades concorrentes se reuniram no Museu do Rio para torcer, enquanto aguardavam o resultado da apuração dos votos dos jurados. As avaliações foram feitas durante as apresentações, no sábado (18) e domingo (19) e consideram seis critérios principais: composição, figurino/adereço, figura lendária, execução instrumental, interpretação e coreografia.
Os 12 jurados são músicos, artistas e estudiosos da cultura popular, pessoas de notório saber e efetiva militância no campo de arte popular. Além disso, não têm vínculos com qualquer inscrito.
Enquanto recebia os parabéns a fundadora do Flor do Campo, Matilde da Silva, contou que o grupo existe desde 1982 e que por anos participou do Festival, interrompido em 2013. O retorno do festival foi uma determinação do prefeito Emanuel Pinheiro. “A gente lutou muito, fizemos tudo que podia ser feito para dar o melhor ao público. Agora, com a premiação, vamos investir nas próximas apresentações e comemorar nossa vitória”, afirmou.
Ao todo, foram entregues R$ 34 mil divididos pelos oito grupos, sendo R$ 7 mil para os 1º e 2º lugares (Flor do Campo e Coração Franciscano); R$ 5 mil para os 3º e 4º lugares (Flor Serrana e Voa Tuiuiú); R$ 3 mil para o 5º e 6º lugares (Flor do Atalaia e São Gonçalo Beira Rio); e R$ 2 mil para os 7º e 8º lugares (Raízes Cuiabanas e Tradição Coxiponé).
Para o vice-prefeito da Capital, Niuan Ribeiro, o evento levantou a autoestima dos grupos de siriri. “Para além do espetáculo, os dançarinos e músicos estão sendo recompensados por serem pessoas apaixonadas por nossa terra e que tem o compromisso de levar nossa cultura para frente. Que eles possam investir no que for necessário e que no ano que vem, brilhem ainda mais”, comentou.
O titular de Cultura, Esporte e Turismo, Francisco Vuolo explica que a Pasta já busca por recursos para um pós festival. O objetivo é fortalecer os grupos, a tradição cuiabana e o turismo local. “É importante termos a consciência de que, independentemente da gestão, esse festival não pode parar nunca. Por meio do siriri, a cultura e o turismo ganham um importante fomento”, afirmou.
O Festival é uma realização da Prefeitura de Cuiabá, por meio de Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo, e Central de Eventos Cor de Mato. Conta ainda com apoio do Governo Federal, por meio da Secretaria Especial da Cultura – Ministério da Cidadania.
O campeão
O Flor do Campo foi fundado por Dona Matilde, nascida em 06 de março de 1955, e como legítima cuiabana, aprendeu a dançar o siriri ‘desde que se entendeu por gente’ – afirma com orgulho. Surgiu em um dos lugares mais ‘raiz’ de Cuiabá, a Ponte do Coxipó, da vontade de Dona Matilde, juntamente com seus pais, sua irmã e amigos, como os mestres da cultura popular Luiz Marques, Domingas, Antônia e seu Candí – pessoas que na década de 1980 incentivaram a sua criação.
Por sugestão de Seu Luiz, e por morarem mais afastados de Cuiabá, o grupo recebeu o nome de Flor do Campo, que foi acatado por dona Matilde e sua gente. Oficialmente em 08 de março de 1982, brota o que hoje ainda floresce. “O siriri mexe com a gente, é o batuque do tambor que dá movimento, isso é ancestral, por isso precisamos manter, porque é tão difícil continuar a lutar pela tradição.”
Traz como figura lendária o Boi à Serra – representação folclórica tão presente no siriri cuiabano, principalmente como uma brincadeira nas rodas de siriri e que vem sendo passado por várias gerações. Diante desta representação folclórica, o grupo faz uma homenagem ao pantanal mato- grossense, evidenciando-o como uma de nossas maiores riquezas. E assim trazem o boi como o Rei do Pantanal, passando pelas brincadeiras de rodas e a música tradicional do “Boi tá brabo no curral”.