Antes vazio, um dos casarões antigos da Rua Engenheiro Ricardo Franco, no Centro Histórico de Cuiabá, foi preenchido com “vida” na última semana, após a inauguração do Ateliê 569 pelo artista plástico Ronei Ferraz e as também artesãs Ludmilla Brandão e Tula Kirst.
“Nossa intenção é que as pessoas se surpreendam com a diversidade do que pode ser feito com cerâmica. Temos peças de R$ 8 à R$ 1.200 mil. Pensamos em faixas de preços acessíveis para que os visitantes tenham a oportunidade de aquirir uma peça e levar para casa. Seja para ter uma lembrança do nosso espaço ou para ter motivo para voltar. Todo o casarão foi decorado com peças em cerâmica, desde a jardinagem até jogo de jantar”, contou Ronei.
A ideia de criar o ateliê no Centro Histórico de Cuiabá sempre foi tema presente nas conversas dos ceramistas. Ronei contou que ele e Ludmilla sonhavam com um “espaço aconchegante”, onde a protagonista fosse a cerâmica.
“Já tive um espaço na Rua 24 de Outubro, onde fomentava muito o artesanato mato-grossense e suas vertentes. A Casa Ferraz foi o primeiro bistrô de Cuiabá e eu tinha muito vontade de novamente um espaço como aquele, mas menor, para mostrar como podemos, dentro de uma casa, utilizar cerâmica em toda a decoração”, explicou.
De acordo com Ronei, um dos objetivos dos ceramistas foi de mostrar a evolução da arte em Mato Grosso.
A tradição começou nas comunidades de São Gonçalo Beira Rio, na Baixada Cuiabana e, atualmente, é matéria-prima de muitos artistas plásticos.
Para o trio, a procura por interessados em aprender a arte de produzir peças com cerâmica teve uma explosão nos últimos anos. Motivo que aumentou ainda mais a vontade dos ceramistas de encher um dos casarões do Centro Histórico da Capital com as produções.
Ronei, Ludmilla e Tula fazem parte de coletivo de ceramistas de Mato Grosso, que reúne artistas da técnica.
“No mundo inteiro estão falando de novo dessa arte, que é tão antiga, uma das primeiras. Muitas pessoas estão retomando. No coletivo ‘Ceramistas do Mato’, temos aproximadamente 40 artistas de todo o Estado. Queremos fomentar e mostrar ainda mais essa arte”, avaliou.
Depois de muitas reuniões para amadurecer o projeto, o trio partiu em busca de um espaço para abrigar o ateliê. O Centro Histórico de Cuiabá foi escolhido pelos ceramistas por ser o local onde a cidade “nasceu”.
Para Ronei – que mora na Capital há quase 30 anos -, o local deve ser olhado com mais atenção para que uma parte da história não se perca com o passar dos anos.
“Nas viagens que fazemos para outros Estados, percebemos que, geralmente, os centros históricos costumam ter vida noturna, além de ateliês, restaurantes e galerias. Pensando nisso, pensamos que poderíamos levar outra proposta além da venda de bebidas, como na Praça da Mandioca. Vamos ficar abertos até às 22h para atingirmos esse público também”, explicou.
Conforme o ceramista, o Centro Histórico de Cuiabá já passou pelo movimento da “boemia” e, agora, precisa ser preenchido também com arte.
“Não somos os primeiros artistas a ocupar esse espaço. Temos a Ruth Albernaz, a Adriana Milano e o Rai Rei, por exemplo. Essas pessoas já estão nesse movimento de levar arte para o Centro Histórico há mais tempo. Chegamos agora para dar força para a nova cara que imaginamos”, disse.
Ronei ressaltou que os casarões do Centro Histórico da Capital precisam ser preenchidos com “vida”. De acordo com ele, se os espaços não forem ocupados pelos cuiabanos, a história vai “desabar” junto às construções.
“Dentro das paredes dessas casas existe vida, porque elas são feitas de banha, capim, barro, estrume e óleo de baleia. Se não mantermos esse casarão sempre ‘vivo’, ou seja, com pessoas dentro observando o que acontece e restaurando, ele não se mantém ‘vivo’. Os insetos continuam fazendo o trabalho deles e a construção vai ceder. Precisamos de uma forma de manter nossa história viva”, explicou.
Há 28 anos, quando se mudou para Cuiabá, o artista lembrou que frequentava os espaços históricos do Centro da Capital, como o Beco do Candeeiro, na Avenida Prainha. Porém, com o passar dos anos, a região foi “esquecida”.
“Naquele local existia um bar em que a ‘galera antenada e cult’ frequentava. Todos se misturavam aos transeuntes e pessoas em situação de rua, por exemplo. Com o passar dos anos, fui vendo as pessoas ‘saindo’ daquela região, porque é antiga, velha e ninguém quer ter o peso de reparar”, afirmou.
Exposição e cursos
As peças, produzidas com massa cerâmica e técnicas de pintura especiais, são o foco do ateliê. Interessados em produzir as próprias obras de arte também poderão participar de aulas com os artistas plásticos.
Além dos cursos, as peças produzidas pelos ceramistas – que estão à venda no ateliê, ficaram expostas ao público, já que fazem parte da decoração do local. Outras técnicas artísticas como aquarela, pintura ou desenho também serão ensinadas pelo trio.
Pela mensalidade de R$ 150 é possível ter acesso à uma aula semanal, com duração de até três horas e meia. Além das aulas de modelagem, o Ateliê 569 também oferece curso de pintura e esmaltação para as peças de cerâmica.
A queima da peça é paga á parte pelos alunos, assim como os materiais necessários.
Crédito: Mídia News
Foto: Alair Ribeiro