O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nega ter dado aval a protestos contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Mas, quando o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) chamou os congressistas de chantagistas, ele ecoou a voz da maior parte do governo, que tenta blindar o chefe do Executivo para que não perca poder em relação ao controle do Orçamento, por exemplo. Um vídeo encaminhado pelo próprio presidente a um grupo de amigos no WhatsApp, que convoca a população a ir às ruas no dia 15 de março para defendê-lo, causou repercussão negativa de início, porém, a avaliação do Planalto é que a atitude de Bolsonaro vai dar mais visibilidade aos atos e tem potencial de pressionar os deputados e senadores a tocar as agendas de reformas.
Na cúpula militar que atua no governo a fala de Heleno é quase um consenso. Um general que auxilia o presidente vê, inclusive, que há tempos Legislativo e Judiciário estariam ultrapassando os limites legais de suas atribuições. “O presidente é o dono do Orçamento. Mas o Congresso quer ter o controle do dinheiro. Se eles tomarem esse controle, o governo ficará refém mesmo”, disse um general. Outra fonte ligada à ala ideológica, que tem relação maior com a família do presidente, afirma que “o povo não é mais fantoche da esquerda e defenderá o presidente que elegeu”. “O mecanismo não aceita que o Brasil mudou”, disse.
As manifestações de 15 de março já estavam previstas desde o final de janeiro e, afirmam fontes palacianas, tinham como pauta principal a defesa da prisão após condenação em segunda instância. O STF recentemente mudou o entendimento sobre o tema, o que resultou na libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além disso, o tema conta com um texto em tramitação na Câmara e outro parado no Senado.
Por Carla Araújo, Luciana Amaral e Guilherme Mazieiro