Aos 107 anos, Dona Maria dança siriri e distribui alegria em Cuiabá

0
185

No auge dos seus 107 anos, Maria Pedrosa Costa ainda se anima e exibe alguns passos de dança pela sala da casa dela, no Bairro Osmar Cabral, em Cuiabá, quando ouve a música “Engenho Novo”, cantada por João Eloy.

 

A dificuldade para se comunicar não a impede de falar do amor pelo tradicional siriri cuiabano, dos anos em que trabalhou lidando com a terra na roça e da parteira “que enchia” a casa de crianças.

 

Maria nasceu no dia 5 de dezembro de 1911 e morou, durante boa parte da vida dela, em um sítio próximo ao Bairro Pedra 90, na Capital. A sobrinha da centenária, Evarista Costa, de 54 anos, que cuida da tia atualmente, contou que quando visitam o local, a idosa se sente em casa novamente.

 

Durante a visita da reportagem à residência de Maria, a única reclamação da senhora, que exibia os brincos presenteados pela mãe quando ainda era criança, foi quanto ao calor de Cuiabá. Mesmo informada sobre a previsão de queda temperatura na Capital nesta semana, a centenária não se animou.

“O ventilador não dá conta, é muita ‘quentura’. Vai fazer frio nada”, afirmou Maria enquanto ria e desdenhava da previsão do tempo, que acabou virando no fim de semana.

 

Vaidosa, Maria exibiu a vestimenta escolhida para o dia e contou que uma vizinha é quem costuma fazer seus vestidos.

Evarista contou que não pode tirar os olhos da idosa, que gosta de perambular pela casa e vez ou outra se atreve a pedir para lavar as próprias roupas. Durante a entrevista, a centenária se levantava para olhar o quintal e a movimentação na rua, enquanto contava alguns “causos”.

 

“Imagina só, como vou deixar uma senhora de 107 anos cozinhar e lavar roupas. Mas ela é muita ativa, não gosta de ficar parada. Quando paro um pouco de prestar atenção no que ela está fazendo, vejo ela andando pela casa, mexendo nas coisas”, disse.

 

A necessidade de se movimentar tanto é reflexo da vida sempre ativa que Maria Pedrosa levava na juventude. Mesmo fazendo os trabalhos braçais no sítio onde morava com o irmão, que faleceu aos 98 anos, a centenária ainda trabalhava como empregada doméstica.

 

“Vinha sempre trabalhar na ‘cidade’, né, tia?”, perguntou Evarista. “Limpava casas, lavava roupas e fazia comida”, completou a idosa.

 

A sobrinha contou que Maria costumava passar grandes pilhas de roupas com uma velocidade que chamava a atenção de quem assistia a cena.

Amor pelo siriri e cururu

 

A família de Maria Pedrosa sempre participou ativamente das festividades religiosas tradicionais de Cuiabá. Por conta disso, desde menina a centenária teve contato com a cultura cuiabana, razão pela qual o siriri e o cururu estão presentes em grande parte de suas memórias.

 

Dois sobrinhos dela fazem parte do grupo tradicional de dança “Flor Ribeirinha”.

 

Quando questionada pela reportagem se gosta de dançar, a senhora, que fez questão que a sobrinha fizesse um penteado especial para a entrevista, com trança e fitas coloridas, se levantou mais rápido do que qualquer pessoa imaginaria e ensaiou alguns passos tímidos pela sala.

 

Maria Pedrosa intercalava os gritos de felicidades, os aplausos e trechos de algumas músicas que vinham à memória. Porém, é quando ouve as primeiras notas de “Engenho Novo”, que ela não consegue controlar a animação.

 

“Ela é assim mesmo. Quando tem festa no sítio preciso ficar o tempo todo de olho nela, porque o pessoal coloca música e ela quer ir lá para o meio de todo mundo dançar também. Ela fica rodando, dançando, mas tenho medo que ela possa se machucar ou ter um mal súbito”, comentou a sobrinha.

 

Sem marido e filhos

 

Mesmo com a dificuldade para falar, Maria Pedrosa contou que nunca se casou ou teve filhos. Na juventude, a idosa trabalhou muito e precisou ter muita força para sobreviver. Ela contou que a mãe dela não a deixava namorar.

 

“Ah, para que casar? [O homem] ia falar ‘vai cozinhar’, ‘vai lavar’. Eu já trabalhava muito, trabalhava na roça com enxada, socava arroz no pilão. Tinha que colocar fogo para limpar a terra, ficava cheia de cinzas”, contou, enquanto mostrava as veias saltadas no braço.

 

“Trabalhou tanto que ficou com os braços assim, né, tia?”, questionou a sobrinha, enquanto a idosa ria e concordava.

 

Maria Pedrosa teve 12 irmãos. Todos já faleceram, mas possuíam uma semelhança em comum com a idosa: não aparentavam ter vivido tantos anos. Evarista contou que a centenária não toma nenhum tipo de remédio, deixando até mesmo o geriatra que a atende espantado.

 

“Ela toma só uma vitamina D. Não tem problema de pressão, de diabetes, não tem nada. Uma incontinência urinária leve é o único ‘problema’ dela”, contou.

 

Apesar de não ter tido filhos, Maria Pedrosa tem paixão por crianças. O neto de Evarista é um dos “xodós” da centenária.

 

“Quando ele chega aqui os dois ficam se abraçando, não se desgrudam”, disse a sobrinha.

 

Bem humorada, Maria Pedrosa chega a interromper Evarista durante a entrevista, enquando ela conta as histórias de quando trabalhava na roça. “Você era pequena, nem lembra disso!”, disse a centenária antes de dar uma de suas largas risadas.

 

Crédito: Mídia News 

Foto: Alair Ribeiro 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui