O feijão consumido no Brasil carrega até 400 vezes mais pesticidas que o produzido na Europa
A agricultura brasileira está longe de atingir uma produção sustentável. Isto porque a produção é sustentada por agrotóxicos com resultados catastróficos para a nossa saúde.
O feijão consumido no Brasil carrega até 400 vezes mais pesticidas que o produzido na Europa, além disso, dos 121 agrotóxicos autorizados para o cultivo do café brasileiro, 30 tem uso proibido nos países da União Europeia. Já no cultivo da soja, dos 150 defensivos agrícolas usados por aqui, 35 foram banidos pelos europeus.
Diferentemente do Brasil, a Holanda pratica uma agricultura sustentável que permite àquele pequeno país alimentar o mundo. Com menos espaço, muito menos água e uso reduzido de pesticidas, o país – com apenas 0,008% da área do planeta – conseguiu aumentar a sua produção agrícola e hoje é o segundo maior exportador de alimentos, atrás apenas dos Estados Unidos, os quais contam com um território 270 vezes maior.
Diferentemente do Brasil, a Holanda pratica uma agricultura sustentável que permite àquele pequeno país alimentar o mundo
Foi o tempo que a Holanda tinha apenas como símbolo a imagem de uma moça com uma cestinha, tulipas e um moinho ao fundo. Isso não quer dizer que eles mudaram a sua cultura. Praticamente, todos os holandeses têm uma bicicleta, que existem em dobro de carros. Isso se chama qualidade de vida.
Além das atrações turísticas, como os canais e a arquitetura singular, a Holanda se caracteriza, hoje, por produzir e vender produtos de alto valor agregado: flores e plantas ornamentais; são os maiores em batatas; em cebolas; exportam um quarto dos tomates do mundo; altíssima qualidade em hortaliças, frutas, queijos, lácteos.
A agricultura holandesa é tão forte no agronegócio, que a produtividade é cinco vezes superior à média da Europa. É um belo exemplo de que não é preciso desmatar para produzir mais.
Os Países Baixos são líderes em máquinas para processamento de alimentos, utilizam técnicas avançadas como monitores de robôs que permite uma pessoa operar um trator autônomo no campo e um drone que paira no ar, ao mesmo tempo.
A alta tecnologia fornece dados detalhados sobre a composição química do solo, o teor de umidade, os nutrientes e o crescimento, medindo o progresso de cada planta e até mesmo cada verdura individualmente. Essa eficácia na produção é chamada de “agricultura de precisão”.
O cérebro por trás desses números, como publicou a revista National Geographic, é a Wageningen University & Research (WUR) reconhecidamente um dos principais centros de estudos do planeta.
Com 100 anos de existência, a WUR é mundialmente reconhecida em função de sua expertise no campo da Nutrição Animal. O lema “explorar o potencial da natureza para melhorar a qualidade de vida” está inserido no coração do chamado Vale dos Alimentos (um agrupamento de empresas inovadoras no campo da tecnologia agrícola e de fazendas experimentais).
As equipes da Universidade de Wageningen efetuam trabalhos de pesquisa básica e aplicada na área de “alimentação e do ambiente de vida saudáveis” com o objetivo de coloca-los em prática. Segundo o diretor administrativo da Divisão de Botânica da WUR: “somos o que comemos”.
No Brasil, a agricultura de precisão tem ampliado seu terreno de atuação, concentra-se mais no gerenciamento da adubação, como nos ensina o professor José Molin, coordenador do Laboratório de Agricultura de Precisão da USP-ESALQ. Em 2001 surgiram as primeiras brasileiras aplicadoras de granulados e pós com controladores importados.
Em 2015 surgiu a primeira associação brasileira de prestadores de serviços nessa área. Há muito campo para crescimento, tanto no que se refere à maquinário quanto serviços especializados.
Por isso a minha insistência em que o nosso Mato Grosso só tem a ganhar investindo em educação de qualidade e em tecnologia e inovação. Somente dessa maneira, podemos gerar empregos de qualidade no campo e atrair empresas produtoras de máquinas e software na área do agronegócio com alto valor agregado.
Este é o futuro, mas um futuro que precisa ser construído desde logo, com nossas universidades engajadas, nossas empresas incentivadas e nossos jovens sabendo que terão empregos de qualidade.
VICENTE VUOLO é economista e cientista político