Por Érica Pacheco Mocker e Julianne Caju
Os últimos dias tem sido de muitas reflexões. Pelo menos temos percebido que algumas pessoas têm conseguido aproveitar esse período para repensar suas vidas, seus posicionamentos no mundo e na comunidade em que vivem.
Rubem Alves, escritor brasileiro, nos ensina que “a ostra feliz não faz pérola” e que “somente as ostras que sentem o incômodo de um grão de areia que insistem em arranhar o seu interior macio” é que podem produzi-la. Ele explica que a felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado, que se basta, mas não cria e não produz beleza. É no sofrimento e na dor que podemos produzi-la.
O ser humano pode e deve ajudar os menos favorecidos, àqueles que mais precisam de apoio nesse momento complexo e ímpar que estamos passando.
Nesse período de COVID-19 temos aprendido justamente isso.
O ser humano pode e deve ajudar os menos favorecidos, àqueles que mais precisam de apoio nesse momento complexo e ímpar que estamos passando. Porque como diz Rubem Alves, “a beleza não elimina a tragédia mas a torna suportável.” Em tempos de pandemia e de isolamento social o brasileiro tem suportado mais dificuldades do que antes.
Crescemos envoltos em desigualdades econômicas e sociais extremas, e podemos dizer que estamos acostumados com dificuldades, no entanto, existe uma onda de desiquilíbrio econômico e social atingindo a sociedade de forma mais abrangente do que tempos atrás. As dificuldades têm atingido aqueles que já tinham conseguido sair da zona de pobreza, ou pelo menos, estavam conseguindo lutar diariamente contra as maiores adversidades.
Colocar-se no lugar do outro, compreender emocionalmente as dores, as tristezas, alegrias, o pensamento e sentimento, vivenciando de coração aberto as emoções do próximo, não é algo fácil.
Infelizmente nem todos tem conseguido acesso ao auxílio emergencial oferecido pelo governo federal. Sem adentrar nos possíveis problemas existentes com tal medida emergencial (esse não é nosso foco no momento), e pensando apenas nas dificuldades e sofrimento de boa parte da população, nos deparamos com aqueles que sabem o real significado de empatia.
Colocar-se no lugar do outro, compreender emocionalmente as dores, as tristezas, alegrias, o pensamento e sentimento, vivenciando de coração aberto as emoções do próximo, não é algo fácil. Então, quando nos deparamos com aqueles que conseguem deixar de lado o próprio eu e voltar seu olhar para o bem de outros que sequer conhece, podemos dizer que é uma dádiva.
As pessoas se comoveram, sensibilizaram e passaram a olhar pela dor do outro. Aqueles que já conheciam o mundo da solidariedade, se veem assustados com o aumento da necessidade na comunidade.
O projeto filantrópico Amor sem Fronteiras, desenvolvido há cerca de 15 anos em Cuiabá/MT, é um bom exemplo de que o ser humano tem a capacidade de amar o próximo, de enxergar as dificuldades do outro e se disponibilizar a ajudar, a estender a mão e mostrar amor.
Um tempo atrás lembramos de um ditado popular que “a necessidade é a mãe do aprendizado e se não aprendemos pelo amor, aprendemos pela dor”. E esse é o momento do aprendizado, e correntes do bem tem crescido amparando quem mais precisa. As pessoas se comoveram, sensibilizaram e passaram a olhar pela dor do outro. Aqueles que já conheciam o mundo da solidariedade, se veem assustados com o aumento da necessidade na comunidade.
O povo brasileiro sempre teve como característica marcante a sensibilidade, e agora ela tem se mostrado em diversos níveis da sociedade. Quando falamos de solidariedade, envolvemos várias vertentes, desde doações de haveres aos mais necessitados, até a disponibilização dos mais jovens para sair e fazer compras aos idosos que nunca nem viram ou conversaram, para que estes se mantenham em casa.
Esse é o momento em que revivemos o real significado de comunidade e reaprendemos os nossos papéis.
Walcyr Carrasco, escritor, citou em sua coluna na VEJA que estamos vivendo um momento difícil para humanidade, e que ao final da pandemia, vamos contabilizar as perdas. Mas nesse momento muitas atitudes anteriores podem ser transformadas e melhoradas, podemos descobrir novos talentos, reacender sonhos, aprofundar relações a muito tempo esquecidas, ampliar a capacidade de solidariedade, porque essa é a hora de reinventar.
Esse amor ao próximo, amor pela comunidade, nos mostra que essa tragédia da pandemia poderá trazer pérolas ao mundo.
Pessoas, mulheres e homens, que nunca pegaram em uma máquina de costura ou que há muito deixaram de usar a que possuem, sentaram diante de uma e começaram a fazer máscaras para doação àqueles que não tem como comprar.
Hoje enquanto escrevemos esse texto, o grupo Amor sem Fronteiras citado anteriormente, está distribuindo para a população em situação de rua, sopas e máscaras que foram confeccionadas pela mãe de uma das colaboradoras e álcool em gel recebidos por doações. Estão também distribuindo roupas, fraldas e cestas básicas àqueles que não tem onde conseguir comida, pela impossibilidade de trabalhar e buscar seu sustento.
Esse amor ao próximo, amor pela comunidade, nos mostra que essa tragédia da pandemia poderá trazer pérolas ao mundo. A beleza nascerá da tragédia e das incertezas, e a dor mostrará ao mundo que não vivemos sozinhos, o nosso umbigo não é o centro do universo e todos devemos ser capazes de enxergar que a vida é mais bonita quando sabemos o significado de coletividade, solidariedade e da caridade.
Quem quiser colaborar com o grupo Amor sem Fronteiras pode entrar em contato através dos telefones (65) 99233-6260, (65) 98125-8007 e (65) 98125-1604. Ou através do instagram @amorsemfronteiras. Seja você também a diferença que almeja no mundo. Faça sua parte. Ajude. Colabore. Contribua. Se pode ficar em casa, fique em casa.
Érica Pacheco Mocker, advogada e professora, cuiabana de “chapa e cruz”, moradora de Cascavel/PR.
Julianne Caju, jornalista e professora, cuiabana de “chapa e cruz”, moradora de Rondonópolis/MT.