A evasão universitária como reflexo da pandemia

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No Brasil, a criação dos Institutos Federais no ano de 2008 em todos os estados refere-se a uma grande conquista para a classe trabalhadora, tendo em vista que para parte significativa da juventude brasileira, a educação consiste na única oportunidade para a transformação de suas vidas.

Em se tratando dos jovens pertencentes à classe trabalhadora, o ingresso em uma escola pública de ensino superior implica na mudança de lugar a ser ocupado nos espaços sociais institucionalizados. Um dos aspectos que, na cultura ocidental contemporânea marcam o “rito de passagem” e transformação da categoria de aluno, de suas relações e seus valores, supostamente, que se realizam no momento de transição para a condição de estudante do Ensino Médio para o Ensino Universitário, tempo de transição para a vida adulta. 

Para qualquer jovem, a formação universitária se apresenta como a imprescindível necessidade de abandonar certa posição de tutelamento e de dependência, o que significa, não apenas mobilizar mudanças no que tange às representações sociais de seus agentes, em relação aos sentidos atribuídos à configuração destes lugares, como também, possibilita a criação de novas formas de ressignificação de crenças e valores de modo a construir novos saberes relativos à sua identidade, mediante a expectativa de se emanciparem. 

Diante do exposto, o cenário atual que perpassa a vida da juventude nos últimos meses no Brasil, evidencia uma realidade que reflete diretamente no processo de construção dos projetos de vida desta parcela da população.

Todo novo ano se inicia com projeções, promessas de mudanças e transformações. E depois de um considerável período festivo que no Brasil culmina com a maior festa pagã – o carnaval, a vida toma o ritmo do trabalho em prol da edificação e materialização de novos projetos de vida. O ano de 2020 certamente será lembrado pela humanidade por inúmeras razões, dentre as quais pela pandemia do Covid 19- SARS-CoV-2 , fenômeno que tem colocado em xeque convicções, posturas e o próprio futuro. Neste sentido, nos colocamos a refletir quanto à evasão universitária, como reflexo da pandemia no processo de qualificação para o trabalho. 

A pandemia atingiu de forma direta o mercado de trabalho, em especial voltado para a informalidade e fez com que muitos jovens perdessem o emprego e como conseqüência tiveram que abandonar sonhos e projetos de vida, dentre os quais, a formação universitária e para o trabalho não está imune. 

A pandemia desnundou a realidade perpassada pela exploração da força de trabalho humana, propiciada pela necessidade da sobrevivência, característica inerente ao modo de produção desenvolvido pelo sistema capitalista e que constitui uma das formas de opressão, muito bem observada por Paulo Freire e que termina por fazer com que o jovem tenha que escolher criar condições para sua sobrevivência e abrir mão de dar continuidade ao seu processo formativo.

Como consequência da falta de trabalho por conta da pandemia, os jovens, nos dias atuais, se colocam à disposição para desenvolver qualquer atividade com capacidade para a geração de renda mínima, de forma precária, frágil, eventual, mediante situações não estáveis, biscates, tarefas ocasionais, dentre outras. O abandono dos cursos universitários geram trabalhadores sem profissão definida, sem qualificação, dispostos, a qualquer momento, a cumprir atividades que surgem como alternativa de obtenção de renda, com um mínimo de garantia para a sua sobrevivência, o que se intensifica a cada dia, mediante evidência de condições de exploração e de precarização das relações trabalhistas presentes no mundo e no mercado de trabalho.

A realidade em tela evidencia a imprescindibilidade da formação técnica desenvolvida pelo IFMT, no sentido de garantir o aumento de escolarização da classe trabalhadora, em especial dos jovens, de forma a inseri-los no mundo e no mercado de trabalho por meio da formação técnica, a fim de possibilitar não só sua sobrevivência, mas também ascensão econômica e social, a partir de uma perspectiva de desenvolvimento e justiça social.

A pandemia mostra-nos dimensões contraditórias nos processos educacionais e de vida, demonstrando a complexidade dos desafios que as instituições de ensino enfrentam na construção de novas humanidades que procuram ser mais. Neste sentido, podemos afirmar que a pandemia, no contexto da formação do trabalhador, nos direciona para a busca de emancipação e autonomia, o que pressupõe riscos e dúvidas. Mais do que nunca é preciso inovar, construir uma educação de possibilidades. O IFMT por meio de seu trabalho, desenvolvido pelo corpo técnico e docente, se coloca à disposição para ressignificar suas ações e cumprir com sua função social. 

Professora Silvia Maria dos Santos Stering é pedagoga no Instituto Federal de Mato Grosso

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