A crise para ter uma ideia inovadora

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Por Fábio Câmara

A experiência não tem nenhum valor ético, é simplesmente o nome politicamente correto que damos aos nossos erros. É a forma que nos confortamos coletivamente, contudo nos escondemos de nós mesmos.

Inovar é uma questão de sobrevivência, de fidelizar a si mesmo como uma história que valerá a pena ler. Inovar é a manutenção de seu negócio, é reinventar para tornar longínquo. Inovar não é uma experiência, é uma experimentação.

A criatividade deve ser utilizada em cima da técnica consumada. Somente se dominamos as técnicas podemos extrair a genialidade de nossa criatividade. Técnica consumada é diferente de experiência. Na primeira temos a certeza de que alcançamos um resultado esperado, na segunda temos a evidência do esforço apenas – sem a realização.

A experiência não é definitivamente um erro, entretanto foi uma passagem vivida com um esforço maior do que o resultado obtido. Emprega-se uma força de 100 para uma colheita de 30 ou 20, ou às vezes nem há frutos no final.

Se errar faz parte, isso é uma longa discussão, que talvez encontre poucos pontos em comum no final. Cada um erra sempre do mesmo jeito, porém cada um à sua maneira. Por isso, não se aprende muito com o erro dos outros, penso que isso é uma lenda. Também só se aprende com os próprios erros quando existe a consciência que iremos fazer diferente da próxima vez. É insanidade o que a maioria das pessoas fazem todo início de ano: têm expectativas de resultados diferentes sem estarem fazendo nada diferente.

Como todo animal tenho a tendência por buscar serotonina, minha química para a estabilidade. Isso não funciona para inovação. A cada crise, busco o retorno ao ponto de equilíbrio, ou seja, uso toda uma inteligência e esforço para chegar ao mesmo lugar, já alcançado em algum momento passado.

(escrevi este parágrafo em primeira pessoa para que ninguém se sentisse ofendido, porém você sabe que relato mais do que a mim mesmo)

A cada crise há uma oportunidade escondida de fazer diferente, é como uma advertência de que podemos dar mais e por isso tivemos que perder para reconquistar. Depois, sentamos numa poltrona confortável e refletimos sobre a experiência que acabamos de viver.

Ficamos tão acostumados com crises e retornos ao ponto de equilíbrio, que inventamos mentiras particulares e as chamamos de inovação. Na verdade, não inovamos, apenas fazemos o que somos treinados para suportar. Inovar é mais, eu sei, você sabe, mas nós fingimos que não sabemos.

Inovamos procurando ideias fora, porém, as verdadeiras ideias estão unicamente dentro. Procuramos textos, exemplos, casos de sucessos e qualquer coisa que nos pareça inspirador. Tudo bem que imitamos do nosso jeito e isso é, de certa forma, original, mas não é essencialmente inovador.

Quando procuramos fora, inconscientemente fazemos uma seleção temática baseada em nossa experiência. Em outras palavras, escolhemos com base nos erros que aprendemos ao longo da jornada. O novo, o original, o sucesso, será impossível de se encontrar com essa dinâmica. Numa regra simples, o sucesso é sempre o novo, o original, o primeiro, o particular ou distinto originário de tantas coisas que se torna único para o cliente final.

Só podemos dar uma opinião imparcial sobre as coisas que não nos interessam; sem dúvida, por isso mesmo, as opiniões imparciais carecem de valor. Se falamos sim – ou – não, já é uma intenção. Isso não nos fará ultrapassar o determinismo previamente estabelecido.

Talvez em crise, em uma situação onde a solução esteja mais para uma esperança do que para uma razão, permita-se a abertura de criação necessária para inovar. Quando experimentamos uma situação sem a racionalidade crítica, quando nos libertamos do juiz implacável que existe dentro de nós mesmos, e simplesmente fazemos algo – porém com responsabilidade atenta para analisar resultados, não pode ser de forma displicente – encontramos nosso espaço verdadeiramente criativo.

O ideal é que não seja necessário chegar ao nosso próprio “fundo do poço” para termos alguma inteligência criativa disponível a nosso serviço. Criar novos hábitos de experimentar situações inéditas, com frequência, é saudável para provocar a criatividade escondida dentro de nós.

Um espaço para a criatividade deve ser um ambiente prazeroso. Imagine uma sala com cores agradáveis, móveis confortáveis, pessoas qualificadas por você para somar ao seu projeto e a missão única de buscar o inédito.

Acredito que temos que inovar no próximo dia, todos os dias do próximo mês, de pequeninas experimentações à adaptabilidade honesta da conclusão. Quero construir diversamente, aprendendo com todos que qualifiquei para me ajudar nesta jornada e evoluir responsavelmente sozinho. Só se aprende coletivamente, só se evolui individualmente.

Eu quero transformar meu medo em dopamina, a química que preciso para inovar. Afinal, uma ideia que não seja perigosa não merece ser chamada de ideia inovadora.

Fábio Câmara é CEO e fundador da FCamara, empresa de soluções tecnológicas para empresas de tecnologia e e-commerce, é idealizador de uma cultura própria de trabalho e empreendedorismo através de seu culture code e modelo de gestão horizontal. Foi o primeiro Microsoft MVP (Most Valuable Professional) do VSTS (Visual Studio Team System) da América Latina, com mais de 58 certificações. É autor de mais de 15 livros técnicos e palestrante nas áreas de gestão e tecnologia.

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