A aposta derradeira nos combustíveis fósseis, escreve Julia Fonteles

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Foto: Sérgio Lima

Enquanto países se preparam para a inclusão de fontes de energia limpa em sua matriz energética, existe ainda um esforço de alguns setores para manter o uso de combustíveis fosseis.

Na semana passada, no Fórum Econômico Mundial em Davos, o painel sobre a mudança da matriz energética atual provocou um debate intenso a respeito de uma tecnologia conhecida como “captura e armazenamento de carbono” (CCS, sigla em inglês). Pouco conhecida no Brasil, essa tecnologia funciona como um sugador de CO2 embutido nas usinas a carvão, capaz de separar o oxigênio do carbono e impedir que gases de efeito estufa se lancem na atmosfera. Em outras palavras, CCS procura simular a função de árvores e plantas, “respirando” CO2 e gases poluentes e armazenando-os antes da emissão no planeta.

Rodeada por representantes da energia renovável, a Diretora Executiva da Corporação do Petróleo Ocidental (Occidental Petroleum Corpotation), Vicki Hollub, corajosamente defendeu em Davos o setor petroleiro na consideração futura de energia.

Ela alegou que o desenvolvimento de uma tecnologia CCS, capaz de extrair o dióxido de carbono antes de chegar na atmosfera, garantiria a sobrevivência das usinas de combustíveis fósseis e ajudaria a manter o estilo de vida parecido com o de hoje, com a vantagem de eliminar os danos da poluição. A cooperação dos diferentes setores de energia facilitaria a vida corriqueira de cidadãos e permitiria que carros movidos a gasolina, por exemplo, continuem circulando sem poluir o meio ambiente.

No setor de energia, pondera-se que uma transformação na matriz energética mundial tem, necessariamente, que incluir o funcionamento de termelétricas movidas a carvão e a petróleo, pois demoraria muito tempo para substituir todas as usinas existentes por fontes de energia renovável. Como tempo é o que não temos para impedir o aumento da temperatura global, a ideia de preservar o que já existe faz algum sentido.

Em contrapartida, o diretor executivo da Enel SpA, Francesco Starace, afirmou que esse tipo de tecnologia não é novidade e após o setor ter investido mais de 10 bilhões de dólares sem resultado, considerava essa alternativa inviável. Segundo ele, CCS funciona em alguns casos, mas que não se aplica para funcionamento em grande escala.

Um eventual processo de captura e armazenamento de carbono é bastante discutido nos países mais industrializados, como Estados Unidos, China e Alemanha. Nos Estados Unidos, por exemplo, embora a porcentagem tenha reduzido bastante nos últimos tempos, 30% da energia do país ainda vem de usinas movidas a carvão. No começo desse ano, o governo Trump destinou $38 milhões do Departamento de Energia Americano para pesquisas e desenvolvimento científico que buscam melhorar a eficiência de CCS. Já Angela Merkel, na Alemanha, se comprometeu a fechar todas as usinas a carvão até 2038.

Apesar dos esforços, patinam as tentativas do desenvolvimento de CCS. O cientista Zhongwei Chen criou um pó de carbono capaz de absorver CO2 da atmosfera. O professor de química da Universidade de Waterloo explica que o pó é capaz de separar CO2 por meio de uma reação química. Como outras tecnologias de CCS, Chen ainda não descobriu como armazenar o material capturado e, portanto, não desvendou a outra metade do mistério.

Até agora, os fatos estão a favor dos críticos ferozes do painel em Davos, pois não existem tecnologias completas capazes de “limpar” e armazenar os gases poluentes. Devido ao tempo e ao dinheiro investidos, são cada vez menores as chances de desenvolver algo que funcione e seja acessível. Hoje, a opção pela energia limpa é o melhor caminho.

 

Credito: Poder360

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