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Por Basilio Jafet

A Covid-19 nivelou as pessoas. Com o isolamento social, a Ferrari e o Fusca ficaram igualmente na garagem. O sapato de grife ou o chinelo de borracha andaram os mesmos passos. Essa experiência humanizou a humanidade. Evoluímos como gente e a consideração com o próximo será imprescindível no momento em que as atividades econômicas forem retomadas, com especial atenção às famílias em situação de vulnerabilidade social.

O legado mais importante da pandemia vai além. A tecnologia mostrou a que veio. Conflitos mundiais, muitos deles seculares como o do Oriente Médio e da Palestina, ficaram em segundo plano. As guerras esquecidas no continente africano, também. E espera-se que a prioridade à vida leve para longe as tendências beligerantes.

Todavia, o processo de retomada econômica, não importa quão gradual venha a ser, é motivo de preocupação. Uma recessão global é uma realidade.

Muitos países já desenharam estratégias para reativar as respectivas economias. Governantes formam conselhos multidisciplinares para discutir soluções. Preparam-se individualmente para reagir rápido e sofrer menos. E também, individualmente, destacam seus cientistas para buscar a cura e rotulá-la com sua bandeira. Um orgulho descabido no momento em que o planeta exige união.

Essa observação nos leva a pensar que tipo de globalização teremos (se é que ainda teremos). Com a tecnologia, os capitais encontraram caminhos digitais para continuar circulando. Podem ir direto à fonte, sem intermediários, o que levará à revisão dos blocos comerciais.

Em âmbito nacional, inexplicável individualismo tem pautado não apenas o enfrentamento da pandemia (até hoje, não temos um protocolo federal para evitar a contaminação de trabalhadores!), como também a necessária aliança entre União, Estados e Municípios na construção de uma agenda comum para a paulatina retomada da economia.

Natural que, de forma lúcida, o foco primordial dos governos, em suas três esferas, esteja nas atividades com intensa absorção de mão de obra (agricultura, infraestrutura, construção). Até porque, temos uma safra cada vez maior de desempregados, boa parte dela constituída por profissionais que não têm como trabalhar em home office, modelo que garantiu enorme quantidade de empregos durante o confinamento.

Se essas pessoas não forem rapidamente recolocadas no mercado de trabalho, o fosso social irá se aprofundar, agravando a desigualdade e condenando milhões de brasileiros a viver abaixo da linha da miséria. Serão eternos dependentes do assistencialismo. Um assistencialismo que custa um dinheiro que o Brasil não tem.

Se o isolamento social veio para salvar vidas, o isolamento político vai torná-las subvidas. É hora de deixar de lado as picuinhas, pacificar egos, fazer bom uso do poder e trabalhar coletivamente pelo bem comum. O Brasil não merece suportar simultaneamente crises na saúde, na economia e na política. Ninguém merece!

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