JURA 2019: Jornada Universitária encerra com apresentações culturais e ato político

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Por Carla Ninos | Foto: Assessoria

A 2ª edição da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (Jura) encerrou nesta quarta-feira (29) com intervenções culturais do Grupo Bataru, coral do grupo de idosas do jardim Vitória e apresentação de capoeira do grupo Quilombo Angola. Ao final, todas as organizações que apoiaram e ajudaram a realizar a jornada fizeram um ato político e a leitura da Carta da JURA 2019, que aborda as lutas das minorias diante desse cenário de retrocessos, mas também fala de resistência e esperança.

“Cada liderança nossa que for tombada sempre será a semente que multiplicará nossos sonhos e luta! Foi assim com Zumbi e Dandara, com Margarida, com Marielle e assim será para sempre! Os companheiros/as que sonharam e lutaram antes de nós, estarão vivos nos nossos sonhos e lutas de hoje, até que nosso sonho de emancipação humana se tornar verdade!”, trecho da carta. (lei na íntegra ao final do texto).

Durante todo o dia, a programação contou com várias rodas de conversas com temas diversos: “Álcool e drogas – Como lidar com esta questão no contexto do campo”; “Cultivando a semente da cura – plantas medicinais e alimentação saudável”; “Pessoas que vivem em situação de rua”; “Saúde da Mulher”; etc. As oficinas foram sobre Práticas Agroecológicas e Fertilizante Natural, além de ter um momento para mística e ciranda.

Na segunda-feira (27), o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, abriu oficialmente a segunda edição da Jornada. O líder fez uma conferência para estudantes, professores, integrantes do MST e público em geral e falou sobre as perspectivas do Movimento no contexto político atual. Para ele, “é preciso construir um novo formato de comunicação popular para apresentar nossas pautas à sociedade”.

Gilmar destacou, ainda, a agroecologia e afirmou que o MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, tendo sua principal concentração no Rio Grande do Sul. Mas, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) não classifica nenhuma diferença entre a produção orgânica e a que utiliza agrotóxicos na estimativa de safra. Porém, para Gilmar a agroecologia vai além de não utilizar veneno nas plantações, pois idealiza a integração de seres humanos e natureza. “Tem a ver não só com produção sem veneno, mas uma mudança na cultura alimentar e isso é fundamental. Tem gente que usa veneno, nós estamos trabalhando na perspectiva de superar isso. A nossa concepção é de que a terra é um patrimônio da humanidade, ela não deveria ser mercantilizada”, esclarece o coordenador.

Outra presença importante foi da deputada federal Joenia Wapichana (Rede–RR), que participou da mesa “Direitos dos povos indígenas”, e falou sobre os indígenas que são prejudicados com a construção de barragens e sobre o seu primeiro Projeto de Lei que torna hediondo todos os crimes ambientais que afetam gravemente o ecossistema e põem em risco a vida e a saúde humana. “Foi justamente pensando nos indígenas que eu fiz essa PL. Temos o exemplo da remoção das terras dos Pataxós em Brumadinho e, possivelmente, outros povos que possam ser afetados no futuro. Isso é uma medida de prevenção”, declarou a deputada. A mesa também contou com a presença da deputada federal Rosa Neide (PT-MT), do procurador da República MPF/MT Ricardo Pael Ardenghi, do indígena do Amazonas, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Gersen Baniwa e da indígena Rikbaktsa, Domingas Apatuo, da aldeia Vale do Sol (MT), que reforçou a resistência dos povos indígenas sobre suas terras. “Temos que lutar por terras, pois é de lá que tiramos nosso sustento, nossa sobrevivência”, afirmou.

Deputada Federal Joenia Wapichana (Rede–RR) e o professor da UFAM, Gersen Baniwa. Foto: Assessoria

Outros destaques dessa 2ª edição da JURA foram: A mesa “O jornalismo de Mato Grosso e a expansão do agronegócio no estado”, que contou com a presença dos professores Gibran Luis Lachowski (UNEMAT), Vinicius Souza (UFMT), Alfredo da Mota Menezes (UFMT) e Juacy da Silva (UFMT). O professor Gibran associou o oligopólio da mídia comercial com o modelo de desenvolvimento socioeconômico e político do agronegócio em Mato Grosso. “Ambos fazem mal à saúde da sociedade, pois há muito agrotóxico, uso excessivo de recursos públicos sem o devido retorno social e falta de liberdade de informação. Por isso, é preciso um modelo de sociedade e um jornalismo que concentrem esforços na agroecologia, na agricultura familiar, no mercado interno, na democratização da comunicação, na valorização dos salários e condições de trabalho dos jornalistas”, disse o professor.

E a mesa “Movimentos quilombolas: história, identidade e luta” levantou discussões sobre a luta pela terra das comunidades quilombolas e a reafirmação da identidade desses grupos nos dias atuais. Gonçalina Eva Almeida de Santana, do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA –, falou da importância das atividades que desenvolve na escola onde atua. “Quando a gente começou a fazer trabalhos de ressignificação da nossa identidade os nossos alunos começaram a sentir orgulho de se identificar quilombola, do cabelo e da dança. Começamos a ter outro clima, a aprender juntos, que a nossa história era muito bonita”, conta.

Confira a Carta da JURA 2019:

Passamos por tempos sombrios em que a mão do autoritarismo pesa sobre nós latino-americanos mais uma vez! Já dá pra sentir o cheiro de chumbo no ar!

Os/as companheiros/as das cidades vivem sob ameaça da violência urbana, da falta de empregos, do enxugamento de recursos nas escolas e hospitais já tão precários!

Mas, isso também atinge aos/às companheiros/as do campo que vêm enfrentando a ameaça da falta de incentivo governamental, das balas dos latifundiários e da intoxicação por agrotóxicos!

Ameaçados/as também estão nossos companheiros/as das florestas! Os povos indígenas, donos milenares destas terras, têm sido difamados e ameaçados; suas terras invadidas, seus rios poluídos e seus povos perseguidos!

As mulheres estão sendo mortas e a liberdade sobre seus corpos já tão débil está ainda mais ameaçada; assistimos diuturnamente os ditos “cidadãos de bem” pregarem o ódio aos LGBTs e, de ataque a ataque, o capitalismo mostra que no tempo presente não tem nada a oferecer àqueles que trabalham e sonham com um mundo melhor do que a desesperança e o medo.

Neste tempo, em que é mais fácil ceder, não arredamos o pé da luta! E a Jornada Universitária pela Reforma Agrária, conhecida por JURA, se torna uma jura: prometem-nos dias melhores! Parecemos poucos e frágeis quando estamos dispersos, mas quando nos cruzamos nas salas de aula, tornadas campos de luta, somamos nossos sonhos e, então, acreditamos mais firmemente que a aspereza do futuro pode ser a promessa de dias melhores no futuro! Como nos ensina Gramsci, “A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece.”

Contra a morbidade, os sonhos buscados na prática militante cotidiana! Tempos de chumbo demandam nervos de aço! Se os bancos insistem que são mais importantes que escolas e hospitais, que caiam os banqueiros! Se os latifundiários impõem monocultura que degrada nossas terras, rios e ar como a única forma de produzirmos; que caiam os latifundiários! Se os industriários nos querem tirar o direito de trabalhar com dignidade, de termos férias e direitos, então tomemos pra nós as indústrias! Se o mundo, hoje, nos é impossível, que juntemos nossas marchas para construir um mundo em que caibam nossas necessidades e anseios!

A JURA transforma a Universidade em um espaço de encontro de sonhos e lutas coletivas, num momento em que as próprias universidades sofrem ataques sem precedentes! Querem acabar com a produção de conhecimento e ciência, querem colocar a polícia para vigiar professores, nomear reitores, pró-reitores e diretores; mas já anunciamos que, mesmo dentro de uma jaula, “sala de aula esta jaula vai virar!”

Cada liderança nossa que for tombada sempre será a semente que multiplicará nossos sonhos e luta! Foi assim com Zumbi e Dandara, com Margarida, com Marielle e assim será para sempre! Os companheiros/as que sonharam e lutaram antes de nós, estarão vivos nos nossos sonhos e lutas de hoje, até que nosso sonho de emancipação humana se tornar verdade! A jura que firmamos, hoje, é a de lutar até a vitória pelas nossas bandeiras:

Por nenhum direito a menos!

Abaixo a reforma trabalhista!

Abaixo à Emenda constitucional 95!

Contra os cortes na educação!

Lula Livre!

Marielle e Anderson Presentes!

Pela reforma agrária popular!

Pela demarcação das terras indígenas e quilombolas

Pela vida das Mulheres!

Contra a LGBTfobia!

Vidas Negras importam!

Carta JURA 2019

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