UMA DÉCADA: Mulheres frutas completam 10 anos de existência

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Há dez anos, surgia a Mulher Melancia e todas as derivações que vieram depois dela. Andressa Soares chegou a ser a mulher mais famosa do Brasil na época. Algumas frutas, no entanto, não querem mais viver do passado e decretam o fim da feira. Todas, porém, são gratas à época de colheita e planejam seguir novos rumos artísticos. Longe da xepa! “Eu ainda tenho um tempinho aí pela frente. Enquanto tiver show para fazer, estarei no palco. Amo o que eu faço”, avisa Melancia.

Mulher Melancia

Ela apareceu pela primeira vez dançando o créu em velocidades inimagináveis para seus 117cm de quadril na época em qua ainda era chamada de Garota Melancia. Foi num estalo, porém, que a fruta mais famosa dessa feira livre virou a Mulher Melancia, a personalidade feminina mais famosa do Brasil em 2008. “Costumo dizer que, em 2008, eu vivia um desespero. Era revista masculina, gravações para programas de TV, presença vip, tarde de autógrafos,shows… Tudo ao mesmo tempo. Era só trabalho. Acho que, até por isso, fiquei tanto tempo solteira. Mas para mim foi maravilhoso”, recorda.

Morando em Las Palmas, na Espanha, para ficar mais perto do noivo, o jogador de futebol Michel Macedo, Andressa se apressa em dizer que não está suspendendo a carreira. “De jeito nenhum! Ainda tenho um tempinho pela frente. Vivo entre o Brasil e a Europa e agora os shows estão sendo planejados de uma melhor forma”, garante.

Andressa fala do auge de sua carreira, quando estourou no país e do preconceito. “Único preconceito que eu sofria era que as pessoas me achavam muito grande, gorda. E não tenho arrependimento nenhum. Pelo contrário. Sou grata, pois a Mulher Melancia mudou minha vida para melhor. Hoje, minha vida financeira é tranquila, graças a ‘ela’”.

Mulher Melão

“Mudei de nome, de cidade, criei uma personagem. Tudo em nome da Mulher Melão”, diz Cristina Célia, verdadeiro nome de Renata Frisson, a persona por trás de Melão. Dá para entender? Há dez anos, ela vive do funk e da imagem de mulher fruta. “A Melão matou minha fome, me deu um apartamento, um bom carro, uma vida financeira estável”, enumera a musa.

Renata vai além. Ela acredita que o movimento das frutas fez a mulher acordar para o empoderamento. “Quantas não começaram a usar vestidos mais curtos, roupas sensuais porque a gente usava? Chegamos e mostramos que éramos gostosas, independentes, donas dos nossos corpos e das nossas opiniões”, avalia.

Renata Frisson diz que Melão vai voltar mais madura Renata Frisson diz que Melão vai voltar mais madura Foto: reprodução/instagram

Melão jura que nunca passou por saias justas com assediadores, algo que vem à tona cada vez mais forte no ramo artístico (vide Hollywood). “Sempre fui muito respeitada. Os homens chegam de forma carinhosa e para ser sincera, eles têm um pouco de medo”, observa.

Nestes dez anos, ninguém viu Melão namorar. “Tive namorados, claro. Mas minha personagem está no imaginário masculino. Por que magoar meus fãs. O que acontece na vida da Renata é privado. Da Melão, não”, explica, ela que decidiu fazer uma espécie de “detox” e sumiu das redes sociais e dos eventos: “Amo ficar em casa, ver série, não ter que me arrumar, andar maquiada e de salto 24h por dia porque alguém vai me fotografar. Estou preparando algo novo. Vem aí uma Melão mais madura. Mas não virei santa”.

Mulher Maçã

Gracy Kelly não quer ser mais chamada de Mulher Maçã. Famosa mais pelos memes relacionados a Steve Jobs (chegou a dizer que teve uma experiência mediúnica com o fundador da Apple após sua morte), a ex-funkeira mudou de vida e de país. Foi morar nos EUA para estudar. “Era hora de buscar conhecimento e precisava ter fluência em inglês para novas oportunidades. Fiz parte de um movimento, mas acabou”, justifica ela, que é formada em Ciências Contábeis.

“Começamos a ganhar destaque no cenário do funk brasileiro e o sucesso logo se espalhou para outras mídias. Me lembro de sermos citadas desde a página da Academia Brasileira de Letras às participações no carnaval. Inúmeras capas de revistas publicadas num curto período. E me lembro de mulheres quererem ter ‘corpão’ por causa desse movimento”, recorda Gracy.

Talvez por ter sofrido tanto preconceito, Gracy queira apagar a alcunha. “Preconceito existe e sempre existirá, cabe a cada um pensar que existe um ser humano por trás de tudo isso, cujo objetivo é trabalhar. As pessoas se esquecem de quantas outras pessoas são ajudadas direta ou indiretamente quando alguém está na mídia. Muitos destes ditos ‘fenômenos instantâneos’ sustentam família e amigos”, avalia a única fruta loira dessa década que diz não se arrepender: “Quanto a me arrepender, não, mas se fosse hoje, com certeza, teria me cercado de pessoas altamente capacitadas e profissionais, pois são elas que fazem a diferença em qualquer trabalho”.

Na Flórida atualmente, Gracy divide seu tempo entre os treinos na academia e aulas. Muitas. Só foge pela tangente quando questionada sobre o atual status de relacionamento. “Dizem que vim para cá porque casei. Pode colocar aí que sou uma pessoa apaixonada pela vida, solteira, bonita e me permito conhecer alguém quando é interessante”. Colocado!

Mulher Jaca

Dayane Cristina agora assina Dayane Gonzalez. Casada há sete meses com um cubano naturalizado americano, a Mulher Jaca não existe mais. “A saudade que tenho é do reconhecimento pelo trabalho. Consegui sustentar e ajudar minha família, não foi só mostrar o corpo ou uma parte avantajada dele, no caso a bunda”, diz ela, que mora agora em Miami e administra sua fábrica de jeans no Brasil.

Da época bombante das frutas ficou a amizade com suas companheiras de “barraca”. “Eu sempre tive ótima relação com as meninas. A Andressa (Melancia) e a Ellen Cardoso (Moranguinho) são minhas companheiras e nos falamos até hoje. Quando a Ellen vem a Miami e estou com tempo, nos encontramos e botamos a conversa em dia. Andressa é mais pela internet. Com a Renata (Melão) falo pouco, mas sempre me dei muito bem com todas. E para gente nunca existiu rivalidade. O propósito, acredito que de todas, era fazer o seu trabalho e oferecer uma vida melhor à família”, compara.

Dayane se lembra bem de quando era praticamente agarrada quando aparecia em alguns locais. E não era por homens. “Confesso que o assédio masculino era gigantesco, mas o da mulherada também era enorme. Muitas queriam apertar pra ver se era real, outras se inspiravam nas músicas para serem independentes e absolutas como a gente era. Uma vez, estava em Moçambique divulgando os shows que iria fazer por lá e uma mulher me agarrou no shopping e passou a mão na minha bunda. Quase que leva um pedaço pra casa dela! Não largava de jeito nenhum”, diverte-se, hoje.

Do futuro ela só deseja calmaria: “Agora quero viajar muito e conhecer cada lugar desse mundo como se deve conhecer. Sempre viajei muito, mas só conhecia o hotel e o lugar em que iria fazer o show. Agora não. Quero curtir cada momento dessa vida ao lado do meu marido”.

*EXTRA

*ESSA COLUNA É ATUALIZADA SEMANALMENTE*

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