Após ser indiciado por forjar um confronto que vitimou o tenente do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Carlos Scheifer, durante uma operação, o policial Lucélio Gomes Jacinto recebeu uma homenagem da Policia Militar pelos “relevantes serviços prestados”. A viúva de Scheifer, Tássia Paschoiotto, criticou o ato em suas redes sociais.
Lucélio foi homenageado com um certificado de “Honra ao Mérito” pelos serviços prestados frente à Subchefia do Estado Maior Geral da Polícia Militar, emitido pelo então subchefe, coronel Henrique Correia, hoje Assessor Especial Institucional.
Lucélio postou a homenagem em sua rede social, agradecendo pelo reconhecimento. “A quem Deus deu a honra, a desonra pior que a morte”, escreveu.
A publicação, contudo, gerou a revolta da viúva de Scheifer, que morreu em Matupá (695 Km ao Norte de Cuiabá), em 14 de maio de 2017, após ser atingido no tórax quando estava em operação em busca de suspeitos de assalto a bancos.
Isto porque, em um primeiro momento, a informação foi de que Scheifer teria sido atingido por bandidos. No entanto, uma perícia técnica comprovou que foi do fuzil do policial Lucélio Gomes que saiu o disparo que atingiu o tenente do Bope.
Em sua rede social, Tássia Paschoiotto criticou duramente não somente a homenagem, mas o coronel Henrique Correia, por concedê-la. Além disso, classificou ironicamente o ato como “impressionante”.
“Gente, Honra ao Mérito para um cara que matou o meu marido. Ah! Vamos detalhar só um pouquinho (bem pouco mesmo) os fatos só pra vocês entenderem a bênção (…) Meu marido era o comandante da operação e o brilhante cabo Jacinto matou ele e omitiu os fatos. Um mês depois saiu a balística e descobrimos que foi ele”, relembrou Tássia Paschoiotto.
A viúva ainda criticou a morosidade da Polícia Militar em encerrar o caso. “Mil versões foram dadas até o momento, e nenhuma delas confirmadas, até porque é muito difícil para a Segurança Pública do Estado desvendar esse caso. Absolutamente nada foi feito até agora”, desabafou.
Ainda em agosto do ano passado, o policial Lucélio Gomes foi indiciado por homicídio. Já os outros membros da equipe, um soldado e um sargento, foram indiciados também por falsidade ideológica, prevaricação e comunicação falsa de crime. No entanto, o Inquérito Policial Militar referente ao caso ainda está em andamento.
“O cara que matou meu marido e fez a PM de idiota, mentindo sobre o ocorrido (ele e mais dois amiguinhos que estavam juntos na operação), recebe honra ao mérito. Pelos relevantes serviços prestados ao Estado. Olha, de tudo que me aconteceu até aqui, isso foi sem dúvidas o mais impressionante”, encerrou.
Outro lado – O coronel Henrique Correia explicou que a homenagem foi concedida quando deixou a Subchefia do Estado Maior Geral da PM, ocasião em que agradeceu pelo trabalho prestado por sua equipe. Dentre eles, Lucélio Gomes, que atuou como motorista de seu gabinete, cuja função desempenha até hoje.
“Todos os policiais militares e funcionários civis que trabalharam comigo no meu gabinete receberam isso. Foi a forma que achei de agradecer o trabalho deles”, esclareceu.
O coronel disse ainda que reconhece a dor da família, porém ressaltou que a homenagem não tem e nunca teve nenhuma relação com o crime pelo qual Lucélio foi indiciado. “Eu entendo a dor da família, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. O problema é que as pessoas não conhecem os fatos e falam, às vezes, com a emoção! Porque o fato do elogio não tem absolutamente nada a ver com a investigação do crime pelo qual o policial é acusado”, esclareceu.
Ainda segundo o coronel, desde o ocorrido, todos os três indiciados pelo crime foram afastados do Bope e de atividades operacionais e atuam somente na atividade administrativa. (Reportagem Gazeta Digital)