Por Alecy Alves |Dez anos depois de ser atingido por uma bala perdida e ficar tetraplégico, Matheus Fonseca, hoje com 20 anos, se prepara para mais um grande desafio: seu primeiro “vestibular”. Ou, melhor dizendo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020.
Matheus, com certeza, não é somente mais um vestibulando entre os 101 mil estudantes mato-grossenses inscritos nesse Enem.
Em abril de 2010, uma bala perdida atravessou seu caminho, e corpo, mudando para sempre sua trajetória de vida.
Mesmo com todas as dificuldades impostas pela tragédia, Matheus e seu pai, Eliésio Fonseca, seguiram buscando seus direitos por mais qualidade de vida.
Na maioria das vezes, por meio judicial, conseguiram moradia, assistência em saúde, benefício previdenciário mínimo, continuar os estudos, entre outros serviços básicos essenciais.
Como vestibulando, o dia a dia de Matheus não tem sido fácil.
Por falta de coordenação motora, ele quase não escreve, estuda principalmente por leitura e exercícios em aulas por vídeos.
Mas, sem computador, o que lhe restou foi o aparelho de celular usado, sem muitos recursos disponíveis, que ganhou do marido de sua irmã.
Com os olhos grudados na tela do celular e os ouvidos bem abertos, deitado em uma cama ou na cadeira de rodas, Matheus passa horas assistindo aulas.
A rotina do estudante poderia ser menos estressante, se tivesse um computador com uma tela maior para assistir às aulas.
Mas Matheus não reclama da vida. Ao contrário, está sempre sorrindo, contando histórias e fazendo brincadeiras com o pai, irmãs e sobrinhos.
Como a maioria dos jovens estudantes, ele também tem dúvidas sobre a profissão.
A cabeça dele gira em torno de três faculdades: Direito, Tecnologia da Informação e Administração.
No Direito, explica, sua atenção estaria voltada às leis gerais e ao regime de Governo do Brasil, a democracia.
Tecnologia da Informação, observa, é uma área que gosta e conseguiria trabalhar.
Já o curso de Administração, diz, tem a ver com gosto e a facilidade com a área de Ciências Exatas.
O medo maior dele, como de grande parte dos estudantes, é a redação.
“Não estou nem um pouco preparado”, avalia, explicando que, além de ser uma prova difícil, não sabe como será fazer uma redação oral ou ditar para outro escrever, já que terá de fazer prova em condições especiais por causa da tetraplegia.
HISTÓRIA – Na época do acidente que o deixou tetraplégico, Matheus tinha apenas 10 anos e morava com o pai, Eliésio Fonseca, um irmão e duas irmãs.
Viviam em uma casa alugada, no bairro Jardim Pauliceia, região do Coxipó, em Cuiabá.
O pai trabalhava de padeiro diarista e a família já levava uma vida difícil financeiramente.
O garoto brincava na rua onde morava e estava com os irmãos e crianças da vizinhança, quando dois bandidos passaram correndo e trocando tiros.
Matheus, assim como os colegas, correram em fuga, porém ele foi atingido na coluna por uma bala perdida, quando já estava quase na calçada de sua casa.
Passou dias em uma UTI, meses em internação hospitalar, fez reabilitação no Hospital Sara Kubitsheck, em Brasília, entre outros tratamentos.
As provas do Enem serão aplicadas em janeiro e fevereiro de 2021. Portanto, ele ainda em alguns meses para estudar.
Quem puder ajudar o estudante Matheus, pode ligar para (65) 99222-2055 (Sr. Eliésio, pai do Matheus).
Fonte: Diário de Cuiabá