Série da TV Centro América mostra como população perdeu poder de compra nos últimos anos

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Foto: Reprodução/TVCA

Por Walter Henrique Quevedo dos Santos, TV Centro América

Quando o dia amanhece, a gente já está gastando dinheiro ou tentando poupar. E essa relação de custo-benefício está em tudo. Na roupa que a gente usa, na nossa alimentação, no transporte, no trabalho e naqueles gastos que não estavam planejados. Como tudo que está ao nosso redor, a economia tem mudado ao longo dos anos.

Encher o carrinho do supermercado, por exemplo, não tem sido fácil. Nos últimos cinco anos, o Real perdeu mais de 30% do seu poder de compra. É como se o valor, hoje, fosse equivalente a R$ 65,49 em 2017. Ou seja, com o mesmo valor de agora, é possível comprar ⅔ do que se comprava antes.

Considerando 2013, a diferença é ainda maior. O poder de compra de R$ 50 era equivalente a R$ 85,99.

“Todo mês é um absurdo as coisas. Arroz, feijão, carne… O óleo, então, nem se fala. Se não pesquisar, sai perdendo”, reflete a auxiliar administrativa Paula Teixeira.

O doutor em Economia e professor da Universidade Federal de Rondonópolis, Luís Gustavo Baricelo, explica que isso tem acontecido por causa da chamada “estagflação”.

“É um momento que a gente tem baixo crescimento econômico, o PIB [Produto Interno Bruto] cresce pouco ou nem cresce e a inflação está elevada, acima do centro da meta. Essa situação vem piorando desde 2014, mas, agora, nos anos de pandemia, 2020 e 2021 e com a guerra da Rússia e da Ucrânia, piorou bastante. A inflação tem crescido muito mais do que o nosso crescimento econômico”, diz.

E tal situação é sentida por todos. “A mercadoria sobe e o salário não, né? O salário é pouco e cada dia que a gente vai no mercado é um preço, né?”, relata a dona de casa Noêmia Dalpra.

Atualmente, segundo o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais, 19 milhões de brasileiros vivem com meio salário mínimo ou até menos que isso no mês.

“O salário mínimo é reajustado pelo PIB de alguns anos atrás mais a inflação. E o PIB do Brasil, há algum tempo, não decola. A gente chama de ‘voo de galinha’: ele vem, cresce um pouquinho e já cai. Então são dois componentes aí: a inflação em alta e o PIB em queda”, completa Baricelo.

Mas quem sente primeiro os impactos da economia são os pequenos comerciantes e trabalhadores assalariados. São públicos que não conseguem mudar a fonte de renda em um curto espaço de tempo e, por isso, precisam mudar os gastos diante das oscilações.

“Vamos aguardar que as coisas melhores, né, e enquanto isso, a gente vai se ajeitando como pode”, fala a auxiliar administrativa Leister Manganaro.

Mas não é possível saber até quando a população vai precisar se moldar ao momento econômico com tanta frequência.

“É um cenário que vai demorar um tempo, porque você precisa de três coisas acontecendo: a estrutura da economia, a inflação e a volta do crescimento econômico para que se gerasse mais consumo e com maior quantidade de consumo, maior contratação de trabalhadores, o que a gente não tem visto”, explica o professor.

Enquanto isso não acontece, o trabalhador se vira como pode. O analista de compras, Luis Gustavo Domingues Barbosa, e esposa, a operadora de caixa, Carla Dejanini dos Santos Gomes, conhecem bem o “jogo de cintura” necessário para enfrentar o mês. Eles têm dois filhos, casa, moto e todas as demais despesas.

“Hoje, nosso maior gargalo está sendo a conta de luz. É um valor muito alto, é um consumo muito alto de quilowatts, né? E as compras, né? Hoje, se você for no mercado com R$ 300, mês que vem os mesmos R$ 300 não compram o que você comprou no mes passado”, ele reflete.

“Às vezes, o leite não dura o que a gente tinha pensado, o gás acaba. A vida do brasileiro é você ficar fazendo pesquisa e orçamento, é isso”, diz Carla.

No primeiro trimestre de 2022, 40% das famílias brasileiras relataram diminuição de renda., principalmente pela perda de emprego ou redução de salários. Os impactos financeiros da pandemia da Covid-19, somado ao aumento da inflação e da taxa básica de juros do país também pesam no bolso do brasileiro.

“Ela controla as contas mensais todas no caderninho dela, daí eu falo ‘Recebi, passa pra mim o que tem que pagar’. Na verdade, eu já até sei, mas ela passando, eu tenho a confirmação de que eu estou fazendo certo, entendeu? Me dá mais uma segurança”, acrescenta Luis.

O controle é essencial, segundo o economista. “O caso mais complicado é de quem está desempregado e as famílias que têm renda, mas ela não acompanha o gasto – então você teria que fazer uma modificação na composição da cesta dessa família para comprar produtos substitutos, produtos um pouco mais em conta”.

Mudar os itens comprados já tem sido a estratégia adotada por 49% dos brasileiros, segundo a TransUnion Brasil. Eles também cortaram viagens, refeições fora de casa e saídas para lazer.

“A nossa estratégia na hora de fazer compra é fazer uma compra de frutas e verduras sazonais, da época. Se é da época, vai estar mais barato”, conta Carla.

Mas mesmo diante de uma situação de crise ou de um momento econômico delicado, é preciso planejar coisas boas também. Realizar um sonho ou um desejo de consumo precisa ter espaço reservado na organização financeira.

“Meu sonho hoje é poder quitar minha casa e poder passar umas férias bem caprichadas na praia, né? Sem pensar ‘Meu Deus, o que eu estou fazendo na praia, sendo que tem a parcela de uma casa pra pagar’, ri o casal.

A série “Recalculando – O Valor do seu Dinheiro” será exibida pelo MT2, da TV Centro América, durante esta semana.

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