A falta de recursos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) tem afetado a qualidade do Restaurante Universitário (RU). Estudantes se queixam sobre a forma como o RU tem funcionado nas últimas semanas. Falta de guarnições no cardápio, refeição acabando antes do horário de fechamento e o preço são algumas das reclamações que os alunos fazem.
Na última segunda-feira (21), a situação da refeitório ficou mais crítica. O cardápio antes estava escrito que teria como prato principal carne suína, entretanto, foi riscado com caneta e alterado para ovo. A imagem acabou sendo compartilhadas várias vezes nas redes sociais.
Segundo o relato do estudante do 10º semestre do curso de Medicina Veterinária, Erick Mota, ele chegou ao RU por volta de 12h15 e já não havia guarnições. O restaurante abre 11h e fecha às 13h30.
“Assim que adentrei no RU com minha amiga, uma funcionaria parou a gente e disse: ‘olha acabou a carne’, e disse também que não tinha mais vegetariano e salada. Eu perguntei, brincando, ‘tem o prato então? ’. Realmente não tinha mais, só arroz, feijão e macarrão. Era muito cedo para que isso acontecesse e não deram nenhuma explicação”, relembra
O curso de Medicina Veterinária é integral, por isso Mota depende do RU para almoçar e jantar todos os dias. Contudo, nas últimas semanas, fica difícil contar com as refeições. Ele entrou na UFMT em 2015 e analisa que o valor pago atualmente – que aumentou para R$ 2,50 – não corresponde à qualidade fornecida pela empresa Nosso Sabor.
“Essa dificuldade veio logo que essa empresa assumiu o RU. Não é a primeira vez que falta, mas hoje foi demais”, disse. “A culpa em si primeiro vem da empresa, a gente sabe que estão superfaturando alguns contratos. Acho que a culpada em si é a má administração, mas a faculdade parece que fecha os olhos pro RU e quem paga são os alunos”, expõe o estudante.
Outro estudante que percebeu que o RU tem deixado a desejar é Luilyan, do 7º semestre de Comunicação Social – Jornalismo. O universitário, que toma o café da manhã todos os dias, relembra que antes o cardápio vinha completo, com pão, leite, chá e até mesmo ovos mexidos no início do semestre. Antes, o valor era de R$ 0,25 e aumentou para R$ 1.
Mesmo com o aumento do preço, o café da manhã serve apenas pão e café. “Todo dia eu tomo café da manhã e o almoço, mas por causa da qualidade, tem umas semanas que não estou indo lá. Sempre acordava segunda-feira e tinha cardápio pronto da semana toda, a gente podia segui . Agora eles não tem disponibilizado o cardápio, não tem mais variedade. Tem dia que não tem salada, não tem sobremesa”, lista Luylian.
De acordo com o estudante de Ciências da Computação, Davi Ribeiro, o serviço vem caindo desde que a reitoria decidiu impor o aumento do preço pago pelos estudantes, que culminou em uma greve estudantil.
“A qualidade da comida é duvidosa no mínimo, tenho colegas que nem conseguem comer no RU, pois ficam mal do estômago depois, ao menos estes tem condições de comer fora. Tenho um colega próximo que encontrou um parafuso em sua comida”, detalha.
Sobre o contingenciamento de gastos da UFMT, determinados pelo Ministério da Educação, Ribeiro afirma que o corte pode ser um dos problemas. “A Novo Sabor está no controle do RU desde muito tempo, acredito que esteja num terceiro ou quarto contrato aditivo, pelo que foi apurado pelos estudantes na última greve, sendo que o contrato era para vencer após a reforma da cozinha do restaurante, que teve diversos equipamentos novos comprados que nunca foram utilizados”, disse.
Houve um episódio em que vários discentes passaram mal logo após almoçarem no refeitório. Robert Rodrigues, que cursa Agronomia, foi um destes alunos. “Como o restaurante universitário é o principal meio de assistência estudantil, sendo este para toda a comunidade acadêmica, tendo corte, contingenciamento de recursos ou o nome que quiserem dar para isso, o RU tinha que ser a última ponta a cortada”, avalia.
Resistindo
Após o anúncio do corte de 30% de investimentos do Ministério da Educação (MEC) nas universidades federais, a UFMT foi atingida gradativamente por dificuldades financeiras. Fora o RU, a universidade relata que não há verba para construção de centros de pesquisa e aquisição de equipamentos.
Em julho, a instituição teve a energia elétrica cortada por falta de pagamento. Isso porque em maio, a reitora Myrian Serra afirmou que a universidade, com seus três campis, só tinha condições de funcionar até agosto.
Entretanto, desde a criação do Ranking Universitário da Folha de São Paulo (RUF) em 2013, a UFMT subiu 18 posições. Atualmente, a instituição se encontra como a 33º melhor do país. Com a falta de recursos, a escola vem resistindo e é bem avaliada em ensino e avaliação do mercado.
DCE
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) emitiu uma nota e convocou uma manifestação dos alunos contra o mal serviço prestado pelo RU. Confira a nota na íntegra:
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por O Futuro exige Coragem (@dceufmtcba) em
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a UFMT, que informou que o contrato do restaurante universitário é prioritário para a gestão e que será preferido na liberação de recursos. Veja a nota na íntegra:A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) esclarece que o contrato do Restaurante Universitário é prioritário para a gestão e, portanto, será preferido na liberação de recursos. A única alteração de seu funcionamento foi durante o recesso de setembro, em que permaneceu fechado.
Atualmente, o RU serve por dia, aproximadamente, 600 refeições no café da manhã, 1000 refeições no jantar e 2000 refeições no almoço, em média.
Fonte: Midia News