“Se não der certo, troca!” Essa é a frase que muitos diretores, gerentes e empreendedores falam naquele momento de tensão, na qual sentem que o funcionário não está comprometido ou conectado, mas sabem que a empresa e o seu trabalho não podem parar.
Como se fosse o caminho mais fácil, basta eliminar o problema de uma peça gasta, com defeito, na qual se solicita outra, e esta tem a garantia de que chegará novinha, dentro dos padrões e medidas minimamente calculados e de perfeito encaixe.
Doce ilusão.
Essa frase muitas vezes tem a função de diminuir a ansiedade desses dirigentes, pois falsamente dá aquela sensação de alívio: “eu tenho um objetivo e estou confiante que vou chegar, e quem não quer, que pule do barco. Ok?”
Como se fosse simples assim.
Na maioria das vezes se demite um e se contrata outro, que com o passar dos dias ou em poucos meses estará a se movimentar, ou seja, a gerar o mesmo resultado que o colaborador demitido gerava, mas com um agravante a mais, não conhece a empresa e precisa ser treinado, sem contar outros custos envolvidos em uma demissão para desequilibrar ainda mais o negócio.
Muitas vezes como empresário ou líder desconsideramos um fator que tem uma força incrível, que de forma silenciosa, praticamente invisível, vai determinando toda a forma de pensar e agir da empresa.
Meu amigo, se você que está lendo é empresário ou um gestor de empresa, se atente para isso, observe a cultura que vem criando em sua empresa, esta pode estar sendo fonte de problemas crônicos que na maioria das vezes nunca são tratados. Pois muitos de vocês estão a buscar os analgésicos… as soluções mágicas.
Muitas empresas estão adoecidas, muitos planos sendo feitos, muitas estratégias definidas e por fim, engolidos pela sua cultura.
É aí que mora o grande vilão daquelas comércios que ainda desconsideram o fator humano, como sendo o principal componente para que o negócio chegue lá e atinja seus objetivos e resultados.
Pense naquela meta que tanto você quer, no qual talvez já tenha testado inúmeras vezes estratégias diferentes e consultorias sem sucesso para alcançá-lo. Talvez seu problema esteja na cultura, e é aí que trago uma notícia, pois só se altera – mudando as pessoas. E aqui não estou falando daquele seu piloto automático que na hora da raiva, na tensão do momento e na busca desesperada por resultados verbaliza: “Troca!” (Demite!)
A cultura é movimentada por pessoas. E ter uma cultura que evolui, que move uma empresa de forma positiva, depende de pessoas que a criam, sustentam e a mantém assim. Os valores, incentivos, políticas – não devem estar somente no papel, mas sim no cotidiano.
A Cultura Ideal é bem diferente da Cultura Real.
Neste ponto que o desenvolvimento humano é fundamental. Esta ação que muitas empresas ainda se negam a assumir, no sentido de olhar para o indivíduo para além de uma ferramenta que precisa ser afiada em sua habilidade técnica.
Quantos profissionais já conheci incríveis em suas especialidades, que ficaram travados e não entregaram resultados. Eles se ajustaram a cultura e esta com sua força e estes para sobrevivência ajustaram seus comportamentos de tal modo que abafaram sua especialidade e habilidade técnica de entrega.
Cultura só se muda através das pessoas, pois é a força dos costumes, dos hábitos que determinam escolhas de comportamentos e sentimentos diante de situações. É isso que vai influenciar nos resultados da sua empresa, da forma como ela será sentida pelo cliente final.
Você já parou para pensar nisso?
Já pensou sobre o tamanho do prejuízo que há em uma cultura “deficiente”, quando digo assim estou dizendo uma cultura que impede o crescimento.
A cultura da empresa é firmada através das práticas, crenças e valores que ela vive, que ela prega. E eles podem ser impulsionadores de resultados ou freios.
Certa vez passei em uma empresa, onde era impressionante sua limpeza e organização. Naquele pátio imenso não se encontrava uma folha caída. Eram 500 funcionários.
Impecável. A mesa do diretor, extremamente organizada. Ele era assim, e prezava por organização e limpeza, era um valor no negócio, e todos sem exceção viviam aquilo a partir do momento que estavam naquele espaço, mesmo que essa não fosse sua característica forte. Se alguém passasse e visse um papel ou qualquer outro objeto estranho por menor que fosse no chão, pegava e jogava no lixo ou direcionava ao lugar que deveria estar.
Aqueles novatos que entravam, logo eram instruídos e orientados a se adequarem aos costumes e hábitos dali, com a condição de serem excluídos e até expelidos pelo grupo se assim não o fizessem (é claro que de forma velada, mas assim era), pois isso dentre outros pontos, representava valor àquele negócio.
Que bom se cultura só fosse feita de comportamentos, costumes e crenças impulsionadoras de resultados positivos, mas nós sabemos que não é assim.
Tenho outro exemplo, uma empresa onde todos têm em sua cultura o sentimento de serem uma família. Nessa organização com este sentimento, todos sentiam que o negócio era uma extensão da sua casa. Deste modo:
“Mariana, cadê aquela assadeira grande de assar os pães de queijo?”
“Ah, a Juliana levou emprestada nesse final de semana e esqueceu de devolver… foi aniversário do Júnior.”
“E agora? Como vamos assar?”
“Vou ligar pra ela e ver se ela consegue pedir pra alguém trazer aqui.”
Enquanto a Confeitaria da Val era no fundo da sua casa, formada pelas colaboradoras Valdirene e Mariana, essas atitudes eram comuns. Hoje a confeitaria é uma padaria com 35 colaboradores no centro da cidade e este comportamento “cultural” de: “somos uma família, a empresa é extensão da minha casa!” Tem rendido vários problemas de qualidade, desperdícios, perdas e baixa produtividade.
Consequência: Val não sabe o porquê, mas hoje trabalham muito mais e o retorno tem sido cada vez mais escasso.
A proprietária contratou um consultor, pois ela ouviu de uma amiga também empresária, que o que faltava para ela era implantar processos. Após 3 meses a equipe estava revoltada, e a produtividade caiu um pouco mais, eles não entendiam:
“A Val tá diferente! Está se achando só porque cresceu um pouquinho!
O que esse cara (o consultor) tá achando? O que ele está insinuando? Quantas vezes trouxe vasilhas da minha casa que aqui ficaram porque a Val não tinha condições? Agora ela vem querer dizer que a gente não pode “misturar” as coisas?”
E assim seguem os burburinhos.
Aquela proposta incrivelmente simples vinda do consultor: “Implantar os processos e pronto!” Travou ali. Ele também, talvez pelo seu perfil não considerou esse detalhe: a cultura. Assim, seu trabalho vem diariamente sendo boicotado pelo time que o enxerga como o grande intruso, perturbador do status quo de paz daquele lugar.
É, não se tratavam de fórmulas lógicas, de matemática, de teorias simplesmente aplicáveis.
O consultor não dá certo, os problemas continuam e se agravam, pois a padaria está cada dia com mais movimento, consequentemente também com mais reclamações por parte dos clientes, e Valdirene, desesperada sem saber o que fazer.
Situações da vida real de uma pequena empresária e de muitos gestores.
Assim convido você para que observe a cultura do seu negócio!
O que na cultura da sua empresa fortalece sua identidade, seu sucesso?
O que na cultura trava, atrasa, atrapalha precisa ser observado, cuidado, tratado?
Tratado com Desenvolvimento Humano.
Ensinando as pessoas a pensarem, e não só a fazerem, a cumprirem ordens.
Como disse certa vez Derek Bok: “Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância.”
Cynthia Lemos é Psicóloga Empresarial e Coach na Grandy Desenvolvimento Humano. Especialista no Desenvolvimento de Líderes e Empresas tem a missão de: Expandir a Consciência e Gerar Ações Transformadoras – para pessoas e empresas que desejam evoluir em seus projetos e objetivos. Email: [email protected] – @grandydh